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Roubo de cargas cresce 10% em SP e governo diz que "não está conseguindo derrubar" o índice

Caminhoneiros são vítimas de quadrilhas especializadas em cargas - Eduardo Anizelli/Folhapress
Caminhoneiros são vítimas de quadrilhas especializadas em cargas Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

25/09/2017 17h58

O roubo de cargas no Estado de São Paulo subiu 10,36% em agosto deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo revelou nesta segunda-feira (25) o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho. Em números absolutos, o total mensal de registros de roubos de cargas passou de 917 para 1.012.

Sites de comércio on line e a reintrodução de produtos roubados no comércio por representantes de grandes redes varejistas são fatores que podem ajudar a explicar o aumento, segundo o analista de risco Nelson Ricardo Fernandes Silva, do think tank Instituto Arc.

O secretário da Segurança Pública disse que aconteceram quedas nos registros da maior parte dos crimes. "Só tivemos acréscimo no roubo de cargas e no furto em geral [2,7% de alta no Estado]. É um mês que todos nós, nas polícias da segurança pública, estamos muito satisfeitos porque houve quedas sensíveis, principalmente nos crimes contra o patrimônio", afirmou o secretário.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, na capital paulista, ainda na comparação mês a mês, o crescimento dessa modalidade de crime foi menor: passou de 509 para 524 - alta de 3%. Na região metropolitana, o índice passou de 226 ocorrências para 281 (24,3% a mais).
 
"As quadrilhas especializadas estão concentrando suas ações em um raio de 150 quilômetros ao redor da capital. Elas também estão diversificando o tipo de produtos roubados. Antigamente elas se concentravam em produtos de alto valor, como eletrônicos, hoje roubam até gêneros alimentícios", disse o analista Silva.

O secretário da Segurança Pública se disse preocupado ao informar que o roubo de cargas no Estado, capital e Grande São Paulo se manteve em alta.

"Preocupa e continua a preocupar [os crimes de] roubo de carga e estupro. A gente faz reuniões com todos os comandos, da Polícia Civil e Polícia Militar, querendo melhorar o combate a esse tipo de crime", afirmou Barbosa Filho.

"É um indicador que a gente não está conseguindo derrubar. São grupos variados", afirmou o secretário.

Segundo ele, há dois tipos de grupos que agem no roubo de cargas em São Paulo: os oportunistas, que sabem o horário da entrega de mercadorias, e os de quadrilhas especializadas. O secretário disse que a polícia está investigando essas quadrilhas.

"Estamos estreitando nosso relacionamento com o setor de transporte de cargas. Foram presas 70 pessoas em flagrante só no mês de agosto por conta do roubo de carga. Isso representa uma tendência de que logo o crime vai começar a cair. Ao todo, 409 cargas foram recuperadas. Estamos trabalhando com muito afinco", disse o secretário.

Segundo Silva, uma forma de reduzir o roubo de carga seria investigar quem compra os produtos.

Certas lojas que pertencem a grandes cadeias de varejo, segundo ele, acabam comprando produtos de cargas roubadas e os reintroduzindo no mercado por não se preocupar em checar a procedência das compras. De acordo com Silva, isso não é uma prática institucional, mas aconteceria em determinadas unidades de redes, onde os gerentes têm autonomia para fazer compras de produtos.

"As redes varejistas compram os produtos regularmente, mas alguma unidade específica pode acabar comprando produtos roubados", disse.

Ele afirmou que uma forma de reduzir essa prática seria criar um cadastro público de números de série de produtos roubados. Esses números, em sua opinião, deveriam ser encaminhados aos setores de auditoria, regulação e "compliance" das redes varejistas. Segundo ele, hoje há maneiras dessas empresas checarem a procedência de produtos que compram, mas nem todas as elas estariam dispostas a fazer a checagem. 

Outro fator que, segundo ele, incentivaria o crescimento do roubo de carga é a grande variedade de lojas de comércio on line. De acordo com ele, uma grande parte dessas lojas não checa a procedência dos produtos.

Silva afirmou ainda que se o problema se agravar São Paulo pode começar a vivenciar cenário semelhante ao do Rio de Janeiro no roubo de cargas, no qual transportadoras começaram a se recusar a fazer viagens para a capital e as entregas começaram ser feitas só no período diurno, por causa da violência.

Estupro

Na contramão do Estado e da capital, o número de estupros registrados em delegacias da região metropolitana de São Paulo tiveram alta de 30,26% em agosto deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foram registrados 198 casos.

Enquanto isso, o Estado teve queda de 4,3%, passando de 976 para 934 ocorrências; e a capital teve queda de 18,45% - saindo de 233 e passando para 190 ocorrências registradas em delegacias.

"É um indicador que vem causando grande desassossego na sociedade. Vamos continuar executando nossas campanhas visando a continuidade desse e de outros indicadores criminais", afirmou Barbosa Filho.

"Todo número é submetido a analise das polícias e ações são analisadas em decorrência disso. Vamos trabalhar para diminuir esse tipo de ação criminosa. Preocupa e continua a preocupar roubo de carga e estupro", complementou o secretário estadual.