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Entre aplausos e gritos de "sumido", Crivella sobe Rocinha e anuncia investimentos

HUMBERTO OHANA/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: HUMBERTO OHANA/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

27/09/2017 18h38Atualizada em 27/09/2017 21h53

Dez dias após o início dos confrontos entre traficantes que levaram o Exército a ocupar a Rocinha, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) tirou parte da quarta-feira (27) para subir a favela da zona sul do Rio de Janeiro. Ele anunciou investimentos na comunidade.

Sem colete à prova de bala e em ritmo acelerado, o prefeito caminhou até a parte alta da favela acompanhado de 20 assessores passando por becos e vielas, muitos deles ainda com as marcas dos tiros dos conflitos que deixaram ao menos quatro mortos na comunidade.

No caminho, o prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, fez promessas --cobrir o valão que corta a favela, melhorar a fiação dos postes e tapar as marcas de tiros dos equipamentos públicos--, e ouviu tanto críticas quanto aplausos.

"Tá sumido, prefeito", gritou um morador; "Que alegria ver o senhor, bispo", disse outro. Ao todo, ele passou uma hora e 20 minutos na comunidade, que possui cerca de 80 mil moradores.

Questionado sobre a demora em se posicionar sobre a situação na favela --na semana passada, ele falou pela primeira vez, afirmando que era hora de "dar um banho de loja" na favela--, Crivella disse que "subia a Rocinha muito antes de ser político".

Segundo Crivella, a prefeitura irá investir cerca de R$ 17,5 milhões em melhorias na favela, fruto de uma parceria com os patrocinadores do projeto Bike Rio.

"A vida tem que voltar ao normal na Rocinha", afirmou durante a caminhada.

Crivella também falou sobra a ideia de criar uma integração entre o “transporte comunitário da Rocinha” e o metrô. Indagado sobre o valor, disse que deve ficar numa média de R$ 5, mas não citou prazos para colocar a medida em prática.

Na saída da comunidade, o prefeito prometeu um tratamento dentário para um dos moradores da Rocinha que ajudou a guiá-lo dentro da favela.

A presença das Forças Armadas na favela também diminuiu. Há militares nas entradas, revistando veículos e mototaxistas que procuram subir o morro, mas são poucas as vielas com policiais. Os tanques que impediam o fluxo de ônibus na estrada da Gávea também foram retirados, permanecendo no início da via.

A Rocinha tem nesta quarta o terceiro dia de trégua após as operações do fim de semana. A maioria das escolas retomou as atividades durante a manhã. Dos 3.344 alunos afetados desde segunda (25), 2.527 voltaram a frequentar as aulas nesta quarta. No entanto, dois colégios, totalizando 817 estudantes, ainda continuam fechados.

Já a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Rocinha, localizada entre as ruas 1 e 2 --a unidade de saúde mais próxima para os moradores--, continua fechada por medida de segurança. O atendimento foi redirecionado para a Clínica da Família Rinaldo de Lamare (plantão diurno), na estrada da Gávea, e para o Hospital Municipal Rocha Maia (plantão noturno), em Botafogo, a mais de 10 km da favela.

Moradores reclamam de transtornos

Para moradores, a presença do Exército nas principais ruas, bloqueando em especial parte do trânsito na estrada da Gávea, não se justifica. Com os tanques, ônibus e vans não conseguem manobrar na via; há ainda um bloqueio próximo à passarela, obrigando os moradores a darem uma volta maior para acessarem a favela. Desde a semana passada, ônibus e transporte escolar não passam por dentro da comunidade.

Leia mais: Moradores da Rocinha negam guerra e criticam cerco militar: 'cassaram nosso direito de ir e vir'

Presidente da associação de moradores, Carlos Eduardo Barbosa lembrou ontem, durante reunião na comunidade, a possível instauração de medida judicial para inspecionar casas coletivamente. Para ele, a autorização da Justiça não se faz necessária, porque casas já foram invadidas. Moradores denunciaram no fim de semana que policiais em busca de traficantes arrombaram suas casas.

"Recebemos relatos de comerciantes que tiveram mercadorias roubadas, de moradores com as casas invadidas... A Rocinha não está em guerra, esse cerco, o que estão fazendo com a gente é covardia."

Durante o fim de semana, o secretário de Segurança, Roberto Sá, disse que um mandado de busca coletivo estava em elaboração e seria apresentado no momento oportuno.

O comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, major Cunha Neves, defendeu a ação da polícia e dos militares e disse que é preciso levar em conta que há dois grupos de traficantes em guerra. "Não cobro que tomem partido contra o tráfico, sei que é difícil para quem mora aqui. Mas não venham defendê-los. Esses que queimam pessoas em pneus não são os bonzinhos."