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Grampo em telefone de chefe do tráfico leva a suspeitos de matar bebê na barriga da mãe, diz polícia

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Imagem: Reprodução

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

05/10/2017 12h42

O telefonema de um traficante da favela do Lixão, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para o chefe da quadrilha local, Charles Jackson Neres Batista, o Charlinho, levou a Polícia do Rio de Janeiro à conclusão de que três suspeitos provocaram a morte do bebê Arthur, baleado dentro do útero da mãe, em 30 de junho, quando a então gestante Claudineia dos Santos Melo, 28, chegava em casa, nos arredores da comunidade.

O disparo que atingiu Claudineia e o bebê ocorreu em um confronto com policiais militares. Segundo as investigações, apenas os criminosos atiraram naquele dia. Na versão da Polícia Civil, os PMs envolvidos na ação sequer tiveram condições de reagir ao ataque dos criminosos --informação posteriormente confirmada por exame balístico.

Na ligação recebida por Charlinho, horas depois de o bebê ter sido atingido, o interlocutor afirmou que estava temeroso quanto às consequências do caso. Questionado pelo chefe, o criminoso menciona os apelidos do trio responsável pelo ataque aos policiais militares na favela do Lixão. O áudio será usado como prova na Justiça.

Traficante suspeito de atirar contra PMs em crime que acabou uma grávida baleada - Márcio Alves/Agência O Globo - Márcio Alves/Agência O Globo
Foragido, traficante suspeito de envolvimento em ataque a PMs que acabou com a morte do bebê Arthur
Imagem: Márcio Alves/Agência O Globo

Entre os três suspeitos que atiraram está Romário Conceição da Silva, o Pirulito, que tem mandado de prisão em aberto e está foragido. Os outros são um adolescente, cujo nome não pode ser divulgado --e que ainda não tem contra si mandado de busca e apreensão--, e um homem que não foi identificado --mas que está sendo investigado.

De acordo com a delegada da 59ª DP (Duque de Caxias), Raíssa Celles, que conduziu o inquérito, não foi possível determinar qual suspeito efetuou o disparo que atingiu o bebê, pois a bala transfixou o corpo da mãe, o que inviabiliza o exame de confronto balístico. O chefe do tráfico da favela do Lixão, Charlinho, também será responsabilizado pela morte da criança.

Dessa forma, Romário, Charlinho e o menor foram indiciados por oito tentativas de homicídio (contra a mãe e os sete policiais que estavam no confronto) e por aborto provocado por terceiros. Os dois traficantes também responderão pelo crime de corrupção de menores de idade devido à participação do adolescente no crime.

"Estou muito feliz. Desde que ocorreu esse crime, eu sempre fui clara ao dizer que chegaríamos à conclusão desse caso. Estou feliz e orgulhosa de poder dar essa resposta, porque foi um caso que chocou a opinião pública e teve uma repercussão mundial", afirmou Raíssa.

O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou na quarta-feira (4) os dois traficantes. De acordo com a denúncia, ao atirar contra os policiais, Pirulito foi responsabilizado pela posterior morte de Arthur. Ele também foi denunciado pelo crime de aborto provocado por terceiros sem o consentimento da gestante, por dolo eventual. Já Charlinho do Lixão é apontado na denúncia como o chefe do tráfico na comunidade e o responsável por ordenar que seus homens atirassem contra a polícia, causando a morte.

Arthur morreu em 30 de julho, após lutar um mês pela vida no leito hospitalar. Ele chegou a apresentar sinais de recuperação, mas teve uma piora no quadro clínico em decorrência de uma hemorragia, segundo informou à época o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes. A mãe da criança, Claudineia, tem 28 anos e estava na 39ª semana de gestação.

Pouco antes de ser alvejado, ela havia acabado de comprar o carrinho para seu primeiro bebê. Estava chegando em casa no fim da tarde quando foi pega no fogo cruzado entre traficantes e policiais na entrada da comunidade. O disparo entrou pelo lado esquerdo do quadril da vítima, perfurou o útero e atravessou o corpo de Arthur. A criança teve ferimentos na cabeça, na orelha, no tórax e na coluna.

Traficantes da favela do Lixão

A delegada Raíssa Celles afirmou que a investigação sobre a morte de Arthur se somou a um outro inquérito que já estava em andamento, com foco na quadrilha de traficantes de favelas de Duque de Caxias pertencentes à facção Comando Vermelho. Segundo ela, com o cruzamento dos dados e ações de inteligência, foi possível montar o organograma do grupo criminoso.

No topo da hierarquia, está o pai de Charlinho, Charles da Silva Batista, o Charles do Lixão, que cumpre pena no sistema prisional. Para a polícia, mesmo detido, o veterano traficante continua ditando as ordens na favela do Lixão. Por esse motivo, foi expedido e cumprido um novo mandado de prisão contra ele.

A Justiça deferiu, no total, 30 ordens de prisão, dos quais dez foram cumpridos com detenções em flagrante entre os dias 20 e 24 de agosto. Três pessoas já estavam presas, e um suspeito foi morto em confronto. Com isso, informa a 59ª DP, são 16 traficantes foragidos.