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Travesti que foi agredida em prisão é detida por tentar matar moradora de rua em SP

MontagemBOL/Reprodução/Folha de S.Paulo
Imagem: MontagemBOL/Reprodução/Folha de S.Paulo

Fabiana Marchezi

Colaboração para o UOL

05/10/2017 12h45

Menos de cinco meses após sair da prisão, a transexual Verônica Bolina, nome social de Charleston Alves Francisco, de 28 anos, foi detida novamente no último domingo (1º) sob suspeita de tentar matar uma moradora de rua usando uma garrafa, na região central de São Paulo. A cabeleireira está presa no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na zona oeste da cidade.

Em 2015, quando estava presa por outra tentativa de homicídio e agressões, Verônica ficou conhecida após ter sido espancada na cadeia ao morder e arrancar a orelha de um carcereiro. Fotos dela algemada e com o rosto totalmente desfigurado foram divulgadas na internet. Ela ficou presa até maio deste ano, quando foi absolvida pela Justiça paulista após ser considerada inimputável.

De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), por volta das 19h30 de domingo (1º), policiais militares foram acionados para atender uma ocorrência e ao chegarem no local encontraram Verônica agressiva e a moradora de rua desacordada, com ferimentos na cabeça e hemorragia. A vítima foi encaminhada ao Hospital São Paulo, onde ficou internada.

Descontrolada, a cabeleireira tentou resistir à prisão, mas acabou encaminhada ao 8º Distrito Policial, no Brás, onde foi indiciada por tentativa de homicídio e resistência a prisão. Ainda segundo a secretaria, o motivo da agressão é desconhecido porque Verônica disse aos policiais que não se lembra dos fatos.

Entretanto, pessoas que passavam pelo local relataram aos policiais que ouviram os gritos da moradora e se depararam com Verônica batendo com a garrafa na cabeça da vítima, que estava caída no chão. O UOL tentou se informar sobre o estado de saúde da vítima, mas, como o nome dela não foi divulgado, a assessoria de imprensa do hospital não conseguiu apurar.

A assessoria de imprensa da Defensoria Pública informou que um defensor público acompanhou a audiência de custódia de Verônica e que, agora, o órgão aguarda manifestação do Ministério Público (MP) sobre o caso. O UOL também tentou contatar a advogada Carolina Gerassi, que defende a cabeleireira, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

Outro caso

Menos de 24 horas antes, no sábado (30), Verônica já havia sido encaminhada à delegacia, onde assinou um termo circunstanciado após se envolver numa confusão ao invadir um apartamento para cobrar uma suposta dívida e resistir a uma abordagem policial na Rua Augusta, na Consolação, também no centro de São Paulo.

Ainda conforme informações da SSP, a Polícia Militar foi acionada por volta das 21h30 para atender uma ocorrência de discussão e os PMs foram informados que Verônica havia entrado no apartamento de um homem para cobrar uma dívida e tentou agredi-lo com uma frigideira. Com medo, ele e um amigo saíram correndo e a trancaram no imóvel.

Autorizados pelo morador, os policiais foram até o apartamento e arrombaram a porta. Lá dentro, encontraram Verônica segurando uma faca e aparentemente transtornada. Após tentar resistir à prisão, ela foi detida e levada ao 78º Distrito Policial, nos Jardins, onde assinou o termo circunstanciado de resistência e foi liberada.

Em seguida, ela foi encaminhada ao Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, de onde saiu no domingo, por volta das 11 horas. Horas depois, ela teria tentado matar a moradora de rua.

Absolvição

Verônica estava em liberdade desde maio deste ano, quando foi absolvida dos crimes que respondia -- tentativa de homicídio contra uma idosa e agressão contra outras quatro pessoas, incluindo o carcereiro que teve a orelha arrancada por uma mordida. Ela estava presa desde abril de 2015.

A absolvição ocorreu depois que ela passou por um exame de sanidade mental que a considerou "absolutamente inimputável" quando cometeu os crimes, ou seja, segundo a Justiça, ela não tinha consciência do que estava fazendo e, por esse motivo, não poderia responder criminalmente por seus atos.

No alvará de soltura, expedido em maio pela Justiça de São Paulo, ficou determinado, porém, que Verônica seguisse tratamento ambulatorial pelo prazo mínimo de três anos e depois fosse imediatamente submetida a novo exame psiquiátrico, já que os laudos psiquiátricos consideraram que Verônica teve transtorno de personalidade associado, o que teria gerado uma agressividade inconsciente.