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"Cala a boca, Magda", grita deputado diante de ministro da Justiça em audiência

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

22/11/2017 21h27

Convidado a participar de uma audiência na Câmara dos Deputados para explicar suas declarações sobre a segurança pública no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Torquato Jardim, ouviu um deputado federal lhe gritar um bordão de Caco Antibes, personagem do humorístico “Sai de Baixo”, da TV Globo.

“O senhor não contribui em nada para a segurança [...] Se o presidente não diz para o senhor ‘cala a boca, Magda’, e o senhor continuasse a falar das polícias militares daquela maneira, generalizando...”, declarou nesta quarta-feira (22) o deputado Major Olímpio (Solidariedade-SP), integrante da chamada "bancada da bala".

No fim do mês passado, o ministro causou polêmica ao dizer ao Blog do Josias, do UOL, que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o secretário de Segurança do Estado, Roberto Sá, não controlam a Polícia Militar, e que o comando da corporação decorre de “acerto com deputado estadual e o crime organizado.” Torquato afirmou ainda que “comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio”.

A declaração que mais causou revolta ao deputado Major Olímpio referiu-se ao assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo de Lima Teixeira, 48, comandante do 3º Batalhão da PM do Rio, morto após um ataque com pelo menos 17 tiros na rua Hermengarda, na região do Méier, na zona norte carioca. O ministro disse que ninguém o “convence” que não se tratou de um “acerto de contas”. As autoridades fluminenses sustentam que o policial foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte), após um assalto.

“Eu aprendi no serviço policial que nós devemos ter muito respeito no momento em que fazemos uma acusação. Mas o ministro já disse que não retira nenhuma palavra do que ele disse. Então eu não vim aqui para dizer ao ministro que eu sou seu aliado porque eu não sou aliado de ninguém que joga ao vento, aos pés da sepultura de um policial executado, como foi o caso do tenente-coronel. O respeito foi nenhum. Jogou na lama as instituições”, declarou Olímpio.

O parlamentar cobrou ainda que Torquato dissesse o nome do deputado estadual a que ele se referiu na entrevista ao UOL. “Quem está vinculado?”, questionou, enfaticamente, passando a atacar o convidado. “E o senhor disse nas suas declarações o quanto o senhor conhece de segurança: ‘minha experiência em segurança pública foi ter duas tias e eu próprio assaltado em Brasília’. Vossa excelência é do tamanho do seu governo hoje”, afirmou.

“Eu não seria leviano de dizer ‘vossa excelência compõe o governo, logo está numa facção criminosa’ --porque a Procuradoria-Geral da República diz que o seu presidente [Michel Temer] é o chefe de uma organização criminosa—como vossa excelência disse. Pelo amor de Deus. Vergonhosa uma atitude dessa”, completou.

Jardim, que respondeu a perguntas dos integrantes da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados por quase três horas, disse reconhecer que há policiais íntegros no Rio, mas que não retiraria suas declarações porque “o que falta é o bom superar o mau”.

Em resposta a Olímpio, o ministro começou destacando a forma “clara e honesta” da fala deputado e disse não ter colocado “em suspeita, em momento algum, a dignidade pessoal do tenente-coronel do Méier”. “Como carioca que sou, acho muito difícil acreditar que naquela rua do Méier [...] fosse um assalto simples”, declarou Jardim.

“O senhor sabe melhor do que eu: a queima de militares, para usar a língua policial, é porque estão sendo honestos, porque estão investigando, porque estão sabendo mais do que devem saber”, explicou.

Carioca, Torquato disse mais tarde ter história no Rio de Janeiro e que falou “o que o carioca sabe”. Ele afirmou, no entanto, que não poderia dar detalhes sobre o que falou porque “a investigação está em curso”.

“Devo-lhe uma resposta. Dê-me tempo. Essa investigação se passa sob a égide do Ministério Público Federal. Eu não posso cruzar essa linha. Quando for possível, eu venho aqui e presto as informações. Não vou quebrar a lei”, afirmou.

Tema oficial da audiência, o porte de armas no Brasil também foi alvo de questionamentos dos deputados, em sua maioria da “bancada da bala”. Para o ministro, o assunto é “complexo” e precisa da cooperação entre o ministério o Legislativo.