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PCC usou criminosos "em dívida" com a facção para matar psicóloga de presídio federal

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

05/12/2017 04h00

O PCC (Primeiro Comando da Capital) usou pelo menos dois criminosos que estavam "em dívida" com a facção paulista na trama de assassinato da psicóloga do presídio federal de Catanduvas (PR), Melissa de Almeida de Araújo.

Essa é uma das conclusões do inquérito da PF (Polícia Federal), entregue no mês passado, que resultou no indiciamento de seis pessoas, apurou o UOL junto às fontes que participaram da investigação.

Os suspeitos foram indiciados pelos crimes de homicídio e organização criminosa. Um deles está foragido.

"Pelo menos dois dos investigados estavam 'suspensos' da facção porque não teriam cumprido suas obrigações, ou seja, possuíam uma espécie de dívida que deveria ser paga, caso contrário, eles sofreriam punições. Participar do assassinato da psicóloga foi a forma encontrada para ficarem quites com a chefia do PCC", afirmou, sob a condição de sigilo, um dos investigadores da PF que atuaram no caso. Ele não entrou em detalhes sobre as razões da "suspensão" dos membros do PCC.

O inquérito sobre a morte da psicóloga foi enviado ao MPF (Ministério Público Federal), que decidirá se haverá denúncia contra os investigados. O processo criminal corre em uma das varas federais de Cascavel (PR), cidade onde Melissa foi assassinada com dois tiros no rosto, no último dia 25 de maio.

Melissa trabalhava no sistema penitenciário federal desde o ano de 2009. Ela era responsável por fazer o acompanhamento psicológico dos presos de Catanduvas e voltara da licença-maternidade havia poucos meses.

Antes do homicídio da psicóloga, dois servidores do sistema prisional foram mortos a tiros em ações do PCC, de acordo com a PF:

A maior facção criminosa do país cometeu os homicídios com o objetivo de "intimidar e desestabilizar" os servidores que trabalham nas quatro unidades federais do país: Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).

De acordo com parecer do MPF, o regime aplicado nestas penitenciárias é considerado "opressor" pelo PCC, pois os agentes costumam barrar o acesso dos presos dessas unidades a "regalias ilícitas", como a posse de telefones celulares dentro das celas.

Assassinato planejado

O planejamento e execução do homicídio seguiram uma rígida divisão de tarefas. Três meses antes do assassinato, uma "equipe de levantamento de informações" chegou à região de Cascavel (PR). 

Melissa morava com o marido, o policial civil Rogério Ferrarezzi, em um condomínio de classe média da cidade --distante 55 km de Catanduvas.

"Em um dos celulares dos criminosos apreendidos pela polícia, foram encontradas fotos de várias casas e carros de agentes que trabalhavam na prisão de Catanduvas", disse, sob a condição de sigilo, um dos agentes que trabalham na unidade prisional. Ele próprio foi um dos monitorados pelo grupo criminoso.

Nas investigações sobre os três casos ficou comprovado que não havia um caráter pessoal na escolha daqueles que seriam assassinados. "Eles não visam as pessoas, e sim o Estado. Os agentes são representantes do poder público. Eles querem abalar o sistema penitenciário federal como um todo", afirma um membro do MPF que atua em um dos casos.

Morte dentro de casa

Melissa foi escolhida como a terceira vítima, depois de ter sua rotina monitorada por pelo menos 40 dias.

No meio da tarde de 25 de maio, Melissa saiu do presídio de Catanduvas. Pegou o marido de carro na delegacia em que ele trabalhava e os dois seguiram à creche para buscar o filho de dez meses.

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Por volta das 18h, o carro dela chegou ao condomínio onde morava. Ela não tinha notado, mas havia sido seguida desde o começo da manhã por homens distribuídos em três carros roubados.

Melissa passou pelo portão do condomínio. Minutos depois, um dos carros com os assassinos chegou ao local. Dois deles saíram do carro e conseguiram entrar no condomínio aproveitando que o portão estava aberto.

A psicóloga acionava o botão da garagem de sua casa e, enquanto ela manobrava o carro, os dois homens armados com pistolas 9 milímetros começaram a disparar contra ela.

Rogério Ferrarezzi sacou sua arma e revidou os tiros. O policial foi atingido pelo menos oito vezes. Melissa saiu do carro e correu para dentro de casa, mas os atiradores conseguiram alcançá-la. Ela recebeu dois tiros no rosto. O filho saiu ileso.

Um dos atiradores morreu no tiroteio com o policial. Outro, saiu ferido, conseguiu escapar, mas foi morto horas depois em outro tiroteio com as forças policiais. 

Logo após o atentado, uma operação envolvendo várias forças policiais fechou as saídas da cidade e conseguiu prender quatro envolvidos no crime. 

Após receber alta hospitalar, o marido de Melissa deixou, com seu filho, a cidade de Cascavel.