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Florianópolis dá início à temporada de verão sem conseguir conter explosão da violência

Habitasul/Divulgação
Imagem: Habitasul/Divulgação

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

16/12/2017 04h00

Florianópolis vive hoje o temor de que 2017 termine com notícias semelhantes às que estrearam o ano. Na madrugada de Réveillon, a turista gaúcha e instrutora de ioga Daniela Scotto, 38, foi baleada e morreu após entrar, por engano, na comunidade do Papaquara, na zona norte da cidade.

O ritmo de mortes violentas não diminuiu desde então, fazendo a capital catarinense viver uma explosão no número de homicídios. O índice saltou 247% nos últimos dois anos, passando de 48 pessoas assassinadas em 2015 para 167 mortos desde o início deste ano. Foram cinco assassinatos na última semana.

Apesar do aumento do efetivo, a escalada de violência pode afetar diretamente o turismo na capital, responsável por 30% do PIB da cidade. Para esta temporada de verão, que começou nesta sexta (15) são esperados 1,5 milhão de visitantes. Há dois anos, a cidade recebeu 1,9 milhão de turistas.

Para o diretor da Polícia Civil para a Grande Florianópolis, delegado Verdi Furlanetto, a violência, percebida também na região metropolitana, tem relação direta com a disputa pelo mercado ilegal de drogas entre as facções PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, e PGC (Primeiro Grupo da Capital), de Santa Catarina.

O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro reclama do número de policiais militares destinados a reforçar o efetivo da cidade, no mínimo, 400 policiais para tentar controlar a onda de violência na Capital. Dos 924 PMs formados pelo governo de Santa Catarina na quarta (13), 109 ficarão na capital.

"O critério adotado pelo Governo do Estado não levou em conta a mancha criminal, que destinou 10% dos novos PMs para Florianópolis, que enfrenta 30% dos crimes violentos de Santa Catarina", disse. E enfatizou que a Prefeitura precisa de ajuda para "combater a guerra de facções que acontece na cidade".

Antes restrito às regiões de comando de cada grupo, o confronto tem se espalhado pela cidade. 

No dia 7 deste mês, dois jovens foram mortos com vários tiros em um ponto de ônibus próximo ao Floripa Shopping, na rodovia que liga o centro a Jurerê Internacional.

Três dias depois, um homem teve o carro metralhado por 14 tiros nas proximidades do Beiramar Shopping, durante o dia, na avenida Beira-Mar Norte. O motorista foi internado em estado grave. Também na mesma avenida, criminosos tentaram assaltar uma agência bancária na segunda-feira (11), resultando em perseguição e confronto com a PM.

Na terça, em outro conflito armado entre PMs e traficantes, três pessoas ficaram feridas e uma morreu. Criminosos também romperam a barreira policial no norte da ilha e foram perseguidos por 24 quilômetros até serem detidos pela polícia, gerando a troca de tiros que terminou com um adolescente morto.

Já na quarta-feira (13) de manhã, um homem morreu alvejado no bairro Chico Mendes. Johsefe Nogueira dos Santos, 23, estava com uma criança no colo e conversava com mais dois amigos quando foi assassinado. A criança saiu ilesa. Durante a tarde, um corpo foi encontrado enterrado no Saco Grande.

A onda de violência fez parte do discurso do governador Raimundo Colombo durante a formatura dos novos policiais, na quarta-feira.

"É um enfrentamento de duas facções que está acontecendo já há algum tempo, alguns meses. O tiroteio está acontecendo porque a polícia está reagindo. É exatamente essa linha que temos que enfrentar, não é coisa de um episódio, é coisa que tem que fazer todos os dias de forma continuada, usando todos os mecanismos da segurança pública", disse.
 
Colombo ainda destacou que "a estratégia está correta, o resultado está vindo, o número de apreensões de drogas e prisões cresceu muito. Estamos conseguindo fazer enfrentamento de forma orientada no momento em que o crime organizado está em conflito e as consequências são essas, mas o Estado está forte e vai vencer esta batalha".

Procurado para falar sobre o aumento das apreensões e prisões e sobre as estratégias para proteger o turista que vier à Florianópolis, o secretário de Estado da Segurança Pública (SSP-SC), César Grubba, preferiu não se pronunciar.

De acordo com a assessoria da Secretaria de Segurança Pública do Estado, além dos novos PMs, a Polícia Civil está em fase final de formação de 142 agentes e 47 delegados.

 As metas são reforçar as Delegacias de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso, que passariam a trabalhar coordenadas com a Delegacia de Homicídios, Delegacia de Combate a Roubos e Delegacia de Combate às Drogas.

"Nossa cidade sempre foi calma, mas neste ano, o crime tomou o asfalto. Estamos acompanhando tiroteios em lugares públicos à luz do dia. Então há uma preocupação com o turismo", diz o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, Estanislau Bresolin. "Mas acreditamos que essa onda de violência possa ser controlada com o aumento do efetivo policial."