Topo

''Antes de me ver, ela viu a minha cor', diz vítima de racismo em 2017

Racismo - Lucas Landau/UOL - Lucas Landau/UOL
A funcionária pública Claudia Menezes sofreu racismo por causa de sua cor de pele
Imagem: Lucas Landau/UOL

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

23/12/2017 04h00

A funcionária pública Claudia Menezes, 50, sofreu um constrangimento dentro de um ônibus por ser negra. Ela contou que conversava com outra passageira, quando, perto de deixar o coletivo, a mulher ofereceu um cartão dizendo que precisava de uma empregada doméstica como ela. 

"Antes de me ver, ela viu a minha cor, como se a parte que coubesse nesse latifúndio da sociedade pra mim, fosse a porta dos fundos", afirma ela ao UOL.

Este é o terceiro de uma série de quatro depoimentos em que personagens relatarão histórias que foram marcantes para eles em 2017. No primeiro, publicado na quinta-feira (21), Marcelly de Souza Francisco conta como, finalmente, trocou de nome: "É como se você tivesse nascido de novo, mas, desta vez, feliz". Já no segundo, uma jovem advogada fala sobre sua busca durante o ano de 2017 todo por uma vaga de emprego: "Não sei o que falta".

Para mostrar o desacordo com a situação, Claudia fez o mesmo: entregou seu cartão e deu a mesma declaração para a mulher: "E ali mesmo resolvi", respondeu.

Claudia conta que episódios de racismo são frequentes, quase que diários. "Dificilmente uma pessoa visivelmente negra passa um mês sem sofrer algum preconceito."

Ainda neste ano foi seguida por um segurança desconfiado dentro de uma loja de roupas. "Fui em outra loja e a vendedora perguntou se eu queria alguma coisa. Fiquei tão feliz que eu comprei. Você se sente privilegiada quando você é tratada como igual cidadã."

Ela conta que foi o racismo que a inseriu em movimentos em defesa dos negros. É a presidente da Unegro (União de Negros e Negras para Igualdade), que tem como objetivo lutar por mais direitos e oportunidades.

Como avanços nos últimos anos, destaca a política de cotas, o estatuto da igualdade racial e o estudo da África nas escolas.

Mas é pessimista em relação ao crime de racismo: "É aquela lei que a gente ganhou, mas não levou. Precisamos que a lei seja cumprida", resume, dizendo ser comum o crime de racismo seja transformado em injúria racial (por ter menor punição).

Ela diz ainda que esperava chegar a 2017 com um cenário melhor com relação ao preconceito. "Achei que estaríamos bem melhor, principalmente depois que a gente conquistou leis. Mas, ao mesmo tempo que tem decepção, renova-se as nossas forças para gritar e nos rebelar contra o racismo."

O último depoimento da série será publicado no domingo, com os medos e as conquistas de uma refugiada venezuelana.