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Sem PM nas ruas há 10 dias, RN tem rotina de mortes, roubos e arrastões

PM está há 10 dias parada no RN; houve arrastão em lojas do centro de Natal - Wendell Jefferson/Via Certa Natal
PM está há 10 dias parada no RN; houve arrastão em lojas do centro de Natal Imagem: Wendell Jefferson/Via Certa Natal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

28/12/2017 13h48Atualizada em 28/12/2017 14h21

O aquartelamento dos policiais militares há 10 dias fez com que o Rio Grande do Norte vivesse um cenário de caos e medo pelos sucessivos casos de arrastões, roubos e assassinatos. O número de mortes violentas cresceu mais de 50% no período. Até o setor do turismo já começou a receber pedidos de cancelamentos de pacotes para o Réveillon.

"A gente está muito apreensivo. Tem empresa que está colocando seguranças particulares; quem já tem está pedindo reforço", afirma Afrânio Miranda, presidente da FCDL (Federação de Câmaras de Dirigentes Lojistas) do Rio Grande do Norte.

De acordo com a Sesed (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social), entre 19 e 27 de dezembro foram 450 casos de roubos, arrombamentos e furtos. A pasta, porém, não informou qual a média diária de casos para comparar se os dados cresceram. O único dado informado foi do dia 18 --dia anterior ao aquartelamento--, quando foram 33 casos, ou seja, 34% menos que a média pós saída dos policiais das ruas.

Nesta madrugada, pelo menos três arrombamentos foram registrados em Mossoró, maior cidade do interior do rio Grande do Norte. Na cidade, o comércio está com ruas vazias e empresários em pânico.

Em Natal, houve um arrastão a uma loja de departamento, no centro da cidade, na manhã desta quarta-feira (28). Lojas estão optando por fechar as portas com medo de novos casos.

"Nós temos dois problemas: um que são os próprios marginais que aproveitam essa oportunidade, e alguns policias que tentam jogar medo na população para causar preocupação no governo e na população. A gente está imprensado nos dois lados", completa Afrânio Miranda.

A seccional potiguar da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) disse que até essa quarta-feira (27) foram registrados apenas três cancelamentos de reserva para o fim de ano. "O setor está preocupado, mas otimista numa solução breve", informou a entidade via assessoria de imprensa.

28.dez.2017 - As lojas do centro de Natal, bairro Alecrim, estão fechadas - Wendell Jefferson/Via Certa Natal - Wendell Jefferson/Via Certa Natal
As lojas do centro de Natal, bairro Alecrim, estão fechadas
Imagem: Wendell Jefferson/Via Certa Natal

Mais mortes

Segundo o Obvio (Observatório de Violência Letal Intencional), entidade que computa mortes, desde o início do aquartelamento houve um aumento de 51% no número de homicídios, em comparação ao mesmo período de 2016. Nos oito primeiros dias foram 56 homicídios registrados, contra 37 no mesmo período do ano anterior e 27 em 2015.

Até o dia 27, foram 2.375 assassinatos registrados, quase 20% a mais que o total de 2016: 1.995 mortes.

Para o pesquisador de segurança pública e coordenador do Obvio, Ivênio Hermes, a falta de investimentos no Estado foi a maior responsável por levar a essa situação. "Há uma ausência de políticas reais e efetivas de segurança pública. O futuro da segurança pública no Rio Grande do Norte não parece promissor", afirma.

Para ele, a redução de efetivo está "sem prognósticos de soluções". "Contribui com esse problema a evasão de empresas e/ou falta de geração de emprego e renda", completa.

A reportagem do UOL procurou a Sesed nesta quinta-feira, mas a pasta informou que não iria se pronunciar sobre o movimento dos militares, nem sobre os índices de violência no período.

O governo do Estado pediu ajuda ao governo federal para que sejam enviados homens das Forças Armadas. Ainda não há resposta. O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) informou que fez contato nesta manhã com o presidente Michel Temer para que seja autorizado o envio.

A crise

Na quarta (27), militares decidiram em assembleia manter o aquartelamento. Eles cobram melhores condições de trabalho e o pagamento dos salários de novembro e o 13º salário.

O governo do Rio Grande do Norte, por sua vez, afirma que enfrenta uma grave crise financeira e pediu ajuda ao governo federal para pagar débitos com servidores. O valor pedido para aliviar os cofres e pagar o salário de novembro dos servidores que ganham acima de R$ 2.000 e o 13º salário do funcionalismo foi de R$ 600 milhões.

Na segunda-feira (25), o Ministério da Fazenda informou que, com base em decisão do TCU (Tribunal de Contas da União), negou o repasse que tinha sido acordado entre os governos.

Na terça-feira (26), o governo do Rio Grande do Norte protocolou no Ministério da Fazenda um Recurso Hierárquico Próprio --que é dirigido diretamente ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O governo defende a edição de uma MP (Medida Provisória) que prestaria auxílio financeiro ao Estado.

28.dez.2017 - As lojas do centro de Natal, bairro Alecrim, estão fechadas - Wendell Jefferson/Via Certa Natal - Wendell Jefferson/Via Certa Natal
As lojas do centro de Natal, bairro Alecrim, estão fechadas
Imagem: Wendell Jefferson/Via Certa Natal
O documento pede que o governo federal "reforme a decisão, afastando todo e qualquer impedimento ao trâmite administrativo da Medida Provisória a ser editada em socorro ao Rio Grande do Norte".

No documento assinado pelo governador Robinson Faria (PSD), o governo diz que o dinheiro é fundamental para "manutenção dos serviços essenciais à população, diante do momento de extrema dificuldade financeira pelo qual passa o Estado, gerada por uma combinação de circunstâncias que inclui a crise econômica, a redução de repasses federais, seca prolongada, queda drástica na receita vinda de royalties e aumento do deficit previdenciário."

A promessa do governador era de que até 10 de janeiro os salários atrasados fossem pagos, mas isso depende do repasse federal extra. Já o salário de dezembro estava previsto para ser pago até 30 de janeiro. O governo não informou se tem como pagar a folha sem o repasse federal.

Além das polícias e dos bombeiros, muitas categorias também rechaçaram o calendário de pagamento apresentado pelo Estado.