Topo

Cármen Lúcia desiste de visitar presídio de GO onde houve rebeliões por questão de segurança

Vídeo mostra buraco em parede de cadeia de Goiás

UOL Notícias

Flávio Costa

Do UOL, em Goiânia

08/01/2018 14h08Atualizada em 08/01/2018 17h17

A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), ministra Cármen Lúcia, desistiu de visitar nesta segunda-feira (8) o complexo prisional de Aparecida de Goiânia (GO), onde nove presos foram mortos durante rebelião no 1º dia deste ano. A assessoria da ministra do STF informou que o cancelamento se deu por "questões de segurança". 

Ela se reuniu nesta segunda em Goiânia com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e outras autoridades para discutir a crise do sistema prisional no Estado. O encontro durou cerca de três horas e 30 minutos. Também participam do encontro o presidente do TJ-GO, desembargador Gilberto Marques Filho, e representantes do MP (Ministério Público) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Em nota, Perillo rebateu e disse que Cármen Lúcia não havia solicitado a visita, mas que as condições de segurança para a magistrada estavam asseguradas. "Em entrevista coletiva após a reunião, o governador Marconi Perillo afirmou quando consultado sobre a possibilidade da visita, que, caso a ministra considerasse necessário ir ao complexo, as condições para a vistoria estavam asseguradas pelas forças de segurança do Estado", disse o governador por meio de sua assessoria de imprensa.

Veja também:

Durante a reunião, Cármen Lúcia disse ser "inaceitável" que uma unidade prisional de Goiás permitisse que presos realizassem uma festa regadas a drogas e álcool filmada por um telefone celular de um detento.

"Você está me dizendo isso na frente do governador [de Goiás, Marconi Perillo (PSDB)] e de outras autoridades locais? Essa situação é inaceitável", disse a presidente do STF ao interromper a fala da juíza Telma Aparecida Alves, da 1ª Vara de Execução Penal de Goiânia, que relatava o fato durante a reunião.

A magistrada, que desempenha há 19 anos a função, informou à ministra que o vídeo da festa foi gravado no presídio de Aparecida de Goiânia. A diretora do complexo prisional de Aparecida de Goiânia, Edleidy Rodrigues, foi afastada do cargo após o vídeo vir a público.

A reação de Cármen Lúcia foi relatada ao UOL por pessoas que participaram da reunião, que durou mais de três horas.

Durante a reunião, a presidente do STF cobrou ações pontuais do governo de Goiás e do Poder Judiciário no Estado para resolver a crise do sistema penitenciário. O Poder Judiciário informou que irá fazer um cadastro de todos os presos dos regimes fechado e semiaberto de Goiás.

A presidente do STF pediu que o TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás) realize imediatamente um mutirão para averiguar a situação de progressão de pena dos detentos do Estado. Outra decisão tomada, a pedido de Cármen Lúcia, será a inspeção em todos os presídios, com foco na apreensão de armas.

A ministra voltará a se reunir com Perillo no dia 9 de fevereiro, em Goiânia, para averiguar o que foi feito no período.

Em determinado momento da reunião, quando se discutia a adoção em Goiás de método de ressocialização de presos, como o Apac (Associação de Proteção e Assistência a Condenados) --modelo alternativo de cumprimento de pena adotado em alguns Estados que investe na reintegração do preso à sociedade--, Cármen Lúcia interrompeu, novamente, quem falava para dizer que não iria permitir que esse processo fosse distorcido para desviar o foco dos problemas do sistema prisional de Goiás. "Se isso acontecer, eu vou denunciar à sociedade", disse a ministra.

Goiás quer contratar 1.600 agentes penitenciários temporários

Em entrevista coletiva, realizada após a reunião, o governador Marconi Perillo afirmou que apresentou à ministra todos os investimentos feitos pelo governo federal desde o ano de 2011. "Somente durante o ano de 2017, nós investimos em segurança pública e no sistema prisional cerca de R$ 3,2 bilhões", afirmou. "Nós melhoramos todos os indicadores de violência em Goiás nos últimos 12 meses", defendeu.

Segundo ele, armas apreendidas nos presídios serão entregues ao Exército para que sejam destruídas.

O governo de Goiás vai contratar 1.600 agentes penitenciários, em caráter temporário. "Vamos abrir 2.180 novas vagas no sistema prisional, com os presídios entregues no final do ano e os que serão entregue este ano", disse o governador.

"O novo presídio de Formosa será entregue agora em janeiro. O de Anápolis, em fevereiro. Águas Lindas e Novo Gama, em julho, e o último, o de presídio de Planaltina, será entregue até o mês de novembro", prometeu Perillo.

Presídio de Aparecida soma 3 rebeliões em 2018

Nos primeiros dias deste ano, o complexo prisional de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, foi palco de três rebeliões. Na primeira, nove presos morreram e outros 14 ficaram feridos, além disso, um total de 99 presos conseguiram fugir.

A briga de facções rivais PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho pelo controle dos presídios motivou as rebeliões, segundo afirmou ao UOL o secretário da Segurança Pública de Goiás, Ricardo Balestreri.

Desde o começo da crise, o governo goiano tem sido alvo de críticas de instituições como o MP, OAB e membros do TJ-GO.

Perillo tem rebatido as críticas atribuindo ao governo federal a responsabilidade da crise do sistema prisional de Goiás.

Ele assinou um manifesto pedindo mais verbas ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública, juntamente com outros seis governadores.

Logo após a primeira rebelião, o ministro Torquato Jardim (Justiça) criticou o governo goiano "por desleixo" em relação à gestão dos presídios e informou que o Estado gastou somente 18% da verba de R$ 32 milhões do Funpen (Fundo Penitenciário Nacional) destinada à construção e reforma de unidades prisionais.