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Oficiais da PM de SP participavam de organização criminosa para explorar jogos de azar, diz MP

16.jan.2018 - Equipamentos localizados dentro de uma das casas de jogos - Divulgação/MP
16.jan.2018 - Equipamentos localizados dentro de uma das casas de jogos Imagem: Divulgação/MP

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

16/01/2018 17h33Atualizada em 17/01/2018 10h00

O MP-SP (Ministério Público de São Paulo), por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), e a Corregedoria da PM (Polícia Militar) do Estado realizaram nesta segunda-feira (15) uma operação para desarticular um esquema de exploração ilegal de jogos de azar.

Na ação, três policiais foram presos. Segundo apontam as investigações, o coronel reformado Luiz Flaviano Furtado, que já trabalhou na Secretaria Estadual da Justiça durante o governo Geraldo Alckmin (PSDB), e outros dois oficiais facilitavam o funcionamento de casas de jogos ilegais em Moema, Interlagos e no Morumbi.

Os três militares estavam com porte irregular de arma. Havia um mandado de busca e apreensão contra o ex-coronel. Em audiência de custódia, o TJ (Tribunal de Justiça) entendeu que não havia elementos para mantê-lo preso e o liberou. Os outros dois estão detidos no presídio militar Romão Gomes, na zona norte da capital.

Além dos três militares, outros dois homens, apontados pela investigação como gerentes de casas de jogos ilegais, foram detidos. Eles permanecem à disposição da Justiça.

Denúncia foi feita por um PM, diz promotor

O promotor do Gaeco informou que os três oficiais foram delatados por um outro policial, que é testemunha protegida na investigação. 

“Como oficiais, eles não permitiam que os outros policiais punissem os responsáveis, faziam vista grossa e cooptavam outros policiais para o grupo criminoso”, disse ele.

“A investigação deixa claro que tinha um esquema de cooptação de policiais. Se instalou um esquema de pagamento de propina que saiu dos praças e chegou aos oficiais. Falava-se abertamente nos batalhões. A coisa estava correndo solta”, afirmou Sarrubbo.

Investigação contra PMs começou em 2013

“Trata-se de uma organização criminosa grande. Para se ter uma ideia, é possível dizer que, apenas na operação de ontem, o prejuízo foi de R$ 20 a R$ 25 milhões”, afirmou ao UOL o subprocurador geral de políticas criminais, Mario Luiz Sarrubbo. “Planilhas foram coletadas e há um vasto material apreendido que será analisado. A partir disso, é possível que saibamos quanto a organização lucrava e quanto os policiais recebiam de propina”, complementou.

O subprocurador informou que a investigação do bando teve início em 2013, com a detenção de praças da PM (como soldados e cabos, por exemplo), que faziam vistas grossas para o funcionamento das casas de jogos. “Unimos as investigações do Gaeco e da Corregedoria da PM e chegamos aos oficiais”, afirmou.

16.jan.2018 - Subprocurador geral de políticas criminais, Mario Luiz Sarrubbo  - Luis Adorno/UOL - Luis Adorno/UOL
Subprocurador geral de políticas criminais, Mario Luiz Sarrubbo
Imagem: Luis Adorno/UOL

Além dos presos, 1.054 máquinas de jogos foram encontradas, sendo que 1.038 foram destruídas. As outras 15 são objeto de perícia e, depois, também serão destruídas. 

Policiais, agora, estão à procura de dois homens apontados como donos e sócios das casas. Segundo um promotor do Gaeco que falou ao UOL em condição de anonimato, os sócios seriam Antônio Diego Tenório Liberal e Luís Cláudio de Souza. “São homens perigosos, que são considerados foragidos. Um deles chegou a confessar participação em um roubo de banco, mas nenhum deles tem nenhuma condenação”, afirmou o promotor.

Além de procurar os donos apontados pelo Gaeco, o próximo passo da investigação do MP é encontrar outras casas de jogos e agentes públicos estaduais que estejam envolvidos em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. “A prática do jogo é uma contravenção penal. O importante da investigação é a corrupção e pagamento de propina que existem por trás dos jogos”, afirmou Mario Luiz Sarrubbo.

Outro lado

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que “não compactua com desvios de conduta e todas as denúncias estão sendo devidamente apuradas pela Corregedoria da Polícia Militar, que instaurou IPM (Inquérito Policial Militar) em 2013, solicitando o concurso do Ministério Público após constatar a participação de civis.”

A Polícia Militar afirmou que está atuando em apoio ao Ministério Público.

Os advogados do coronel reformado Luiz Flaviano Furtado afirmaram, em nota, que ele foi “conduzido ao fórum para dirimir, de maneira preliminar, apenas a questão de suposto porte irregular de arma, sendo certo que a Justiça decidiu, em audiência de custódia, que o coronel poderá responder ao processo em liberdade.”

Segundo os advogados Evandro Capano e Fernando Capano, “é de se ressaltar, portanto, que tal fato não está relacionado à operação deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo para investigação contra cassinos clandestinos. Em face deste problema, inexiste qualquer ordem de prisão ou resvalo criminal envolvendo o coronel.”