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Grávida baleada na cabeça no Rio manda recado ao bebê: "Diga que eu o amo muito"

17.jan.2018 - Wallace Araújo, marido de Michelle Ramos da Silva Nascimento, durante entrevista ao UOL - Marina Lang/UOL
17.jan.2018 - Wallace Araújo, marido de Michelle Ramos da Silva Nascimento, durante entrevista ao UOL Imagem: Marina Lang/UOL

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

18/01/2018 04h00

A vida do casal Wallace Araújo, 34, e Michelle Ramos da Silva Nascimento, 33, ganhou contornos de tragédia quando a grávida de oito meses foi baleada na cabeça, no último sábado (13), durante uma tentativa de assalto em Belford Roxo, no Rio. Após uma cirurgia para descompressão craniana e quatro dias no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, Michelle acordou nesta quarta (17). Suas primeiras palavras foram o nome do filho, Antônio Esdras, e um recado a ser transmitido pelo pai: "diga a ele que eu o amo".

O bebê nasceu em uma cesariana no domingo e permanece internado na UTI neonatal da Maternidade Municipal Mariana Bulhões. Desde então, a rotina de Wallace se alterna entre maternidade e hospital, que ficam a pouco mais de 3 km de distância um do outro.

“É um milagre. Hoje foi uma alegria muito grande. Eu consegui conversar com ela!”, festejou Wallace, em entrevista ao UOL no final da tarde de quarta, diante da maternidade. “Ela perguntou quantos centímetros ele [o bebê] tinha. Disse 43 cm e ela riu. Perguntei se ela lembrava o nome dele e ela falou: ‘Antonio Esdras’”, narrou.

Emocionado, Wallace conta que perguntou se a mulher gostaria que ele levasse um recado ao bebê. A mensagem foi clara: “Diga que eu o amo muito. O que eu mais quero é segurá-lo”.

Além de Wallace, a mãe de Michelle a visitou na CTI. “Eu estou muito feliz. A Michelle é muito forte e tem completa noção do que está acontecendo. Só de vê-la assim já é motivo para glorificar a Deus”, disse.

“Desde domingo, não estou me alimentando direito, não estou dormindo direito. Só cochilo um pouco. De manhã, fico me revezando entre a maternidade e o hospital. Todos os médicos vieram conversar comigo para dizer que fizeram o que podiam fazer para tentar estabilizá-los. Eles disseram: ‘daqui para a frente, não podemos fazer mais nada’. Mas eu acho que é onde o papai do céu começa a atuar”, afirmou Wallace.

“Eu acredito em milagres. Peço que todos, independentemente de sua fé, continuem torcendo por ela. Ainda falta muito. Acredito que ela vai sair disso sã e salva, segurando o meu filho nos braços. E você vai ter a oportunidade de conversar com ela, ela mesma vai contar a você [repórter] o que ela passou. Mesmo doendo, mesmo sofrendo e chorando, isso vai acontecer”, declarou.

Bebê tem leve melhora

O quadro do bebê Antônio Esdras passou de gravíssimo para grave no fim da tarde desta quarta-feira (17). De acordo com a equipe médica, a alteração ocorreu porque a criança está estável há 72 horas, que são as mais críticas. No entanto, a condição pode mudar a qualquer momento.

A reportagem apurou que a madrugada de terça para quarta foi a melhor de Antônio Esdras desde que chegou à UTI da maternidade. Como o estado de saúde do bebê é estável, a equipe médica está acompanhando o fortalecimento dos órgãos a fim de preparar os procedimentos para que, gradativamente, o menino deixe de respirar por aparelhos e comece a estabilizar a oxigenação naturalmente.

Na terça, os sedativos de Michelle começaram a ser retirados. Ela já foi desentubada e está reagindo bem aos medicamentos. A mãe de Antonio Esdras ainda vai ser submetida a exames porque seu lado direito está paralisado. “Hoje está menos paralisado, ela levantou a mão e mexeu um pouco a perna”, disse Wallace. “Mas o neurologista falou que isso é reversível”, continuou.

“Sei que estão todos sensibilizados, o Brasil inteiro está. Peço que continuem orando para que ela saia dessa ilesa e sem sequelas para que todos vejam que milagres existem”, enfatizou.

O crime

O semblante de Wallace se fecha ao lembrar do domingo em que Michelle foi baleada ao seu lado, no banco do passageiro do veículo a caminho do trabalho. Com a voz embargada, ele pensa um pouco e começa a falar. “Foi muito violento e brutal. Não falaram nada. Nunca que eu reagiria a um assalto com a minha mulher grávida de oito meses.”

Michelle Ramos da Silva Nascimento e Wallace Araújo em foto de arquivo. Ela foi baleada na cabeça durante um assalto no Rio - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Michelle e Wallace juntos em foto de arquivo
Imagem: Reprodução/Facebook
Ele conta que um carro à sua frente seguia em baixa velocidade em uma estrada de Belford Roxo. Na tentativa de ultrapassar, o carro de Wallace foi fechado pelos criminosos. Até então, o marido de Michelle supunha que se tratava de uma barbeiragem de trânsito. Quando tentava, novamente, contornar o carro, um dos criminosos saiu atirando com uma pistola.

“Outro me abordou e eu disse: ‘Cara, olha o que você fez, você matou minha esposa!’ O terceiro saiu com um fuzil e disse: ‘Entra e vamos embora. Você matou ela, seu filho da puta!’. Eles fugiram e o carro não ligou. Ainda bem, porque se eu fosse atrás eles poderiam achar que eu os estava perseguindo”, relatou.

Wallace lembrou que havia uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) nas imediações e partiu até lá. Michelle estava consciente e chegou a tirar os pés do carro. Recebeu atendimento imediato e, de lá, foi encaminhada ao Hospital da Posse. 

Na 54ª DP, ele recebeu a garantia de que os criminosos seriam encontrados. “Ainda tenho fé de vê-los pedindo perdão a minha esposa. Pedindo perdão por toda a agressão que eles cometeram. Não sei de que forma ou circunstância, mas eu os verei pedindo perdão à Michelle”, declarou.

O berço de Antonio Esdras chegou na semana passada. O chá de fraldas ocorreria no próximo sábado, e o passo seguinte era pintar o quarto. “Mas eu ainda vou pintá-lo. Vou montar o berço. Ele vai deitar nele. Eu tenho muita fé”, finalizou.