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"Tanque" dos anos 1970 pode ser usado em intervenção na segurança do Rio

Blindado do Exército faz policiamento durante operação na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ) - EFE/ ANTONIO LACERDA
Blindado do Exército faz policiamento durante operação na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ) Imagem: EFE/ ANTONIO LACERDA

Luis Kawaguti

Do UOL, em Brasília

16/02/2018 19h35

O blindado de transporte de tropas Urutu do Exército, fabricado no Brasil entre o início dos anos 70 e o fim dos anos 80, é considerado limitado para uso na guerra moderna. Mas ele foi “redescoberto” como ferramenta importante em operações em favelas e deve ser usado durante a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, anunciada nesta sexta-feira (16) pelo presidente Michel Temer (MDB).

Os blindados vêm sendo usados em operações de segurança pública na cidade para que tropas das Forças Armadas consigam entrar mais protegidas em áreas controladas pelo crime organizado. O modelo Urutu já estava em processo de substituição por veículos mais modernos, mas encontrou nova vocação nas operações de segurança pública.

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Sua vantagem principal é fazer curvas mais fechadas que outros blindados não conseguem e poder transitar nas ruas estreitas das favelas, segundo três oficiais do Exército especializados na área ouvidos pela reportagem.

Se fossem usados nesses ambientes, outros tipos de blindados maiores e mais pesados – os populares tanques de guerra – poderiam quebrar acidentalmente paredes de casas, causar trepidação e abalar estruturas. Também levariam muito tempo para manobrar em curvas e esquinas, expondo os militares a eventuais ataques do crime organizado.

Outra vantagem do Urutu é ser impulsionado por rodas e não por esteiras. Isso torna sua operação mais barata e não destrói o asfalto das ruas.

O Urutu era fabricado pela empresa brasileira Engesa, que já não opera mais. Ele é um blindado anfíbio - também pode ser usado como um barco na água -, pesa 13 toneladas e tem capacidade para transportar 11 militares. Pode ser equipado com uma metralhadora pesada de calibre 50 (que em operações em áreas urbanas é substituída por uma arma de menor calibre, a Mag 7,62).

No Exército brasileiro, era usado principalmente em missões de reconhecimento. Mas, mesmo após passar por processos de modernização, o modelo teria muitas limitações se fosse usado em um cenário de uma guerra moderna comum. Sua blindagem não é eficiente contra os novos armamentos pesados, como lança-foguetes e mísseis, ou contra armadilhas com bombas.

Também não possui a precisão e recursos de veículos mais modernos do gênero. Por isso, vinha sendo substituído pelo novo blindado de transporte de tropas do Exército, o Guarani. O processo de substituição foi prejudicado por contingenciamento de verbas, mas está em andamento.

Renascimento no Rio e no Haiti

A utilidade do Urutu em operações em favelas ficou em evidência nos últimos anos. Sua blindagem aguenta tiros de fuzil ou explosões de pequenas granadas, que são os armamentos mais comuns utilizados pelo crime organizado e por grupos paramilitares.

14.mar.2006 - Blindado do Exército faz policiamento durante operação na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), em ação de recuperação de armas roubadas - AFP PHOTO/ANTONIO SCORZA - AFP PHOTO/ANTONIO SCORZA
Urutu em patrulhamento na Rocinha
Imagem: AFP PHOTO/ANTONIO SCORZA

“O Urutu renasceu no Haiti, porque se mostrou ideal para operar no terreno de favelas com ruas estreitas contra grupos rebeldes”, disse ao UOL uma fonte militar.

O blindado foi usado entre os anos de 2004 e 2017 durante a missão de paz da ONU no Haiti. Nos anos de combate mais intenso, entre 2004 e 2007, ele ganhou modificações para proteger mais seus ocupantes – como uma torre blindada de metralhadora e proteção adicional para o motorista.

Mas também era usado no início dos anos 2000 em operações em favelas no Rio de Janeiro. O veículo foi usado mais tarde em operações de pacificação de favelas junto com um blindado de características semelhantes, o Piranha, fabricado por uma empresa suíça e usado pela Marinha. Esses dois modelos também vêm sendo usados na operação de Garantia da Lei e da Ordem iniciada no Rio no ano passado.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, hoje haveria cerca 400 Urutus em uso no país. Sua utilização nas operações de segurança pública acontece tanto pela facilidade para manobrar como por motivação econômica – visto que a substituição por blindados Guarani ainda não foi concluída.

O governo ainda não deu detalhes sobre em que moldes ocorrerá a intervenção nas forças de segurança do Rio. Contudo, se as tropas das Forças Armadas forem mobilizadas para atuar em operações em favelas, os Urutus devem ter presença garantida.