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RJ desconhece plano da intervenção 2 dias após anúncio; casos de violência persistem

Prefeito, governador e presidente se reuniram com interventor no sábado (17), mas planejamento e orçamento da intervenção na segurança do Rio não foram revelados - Leo Correa/AP Photo
Prefeito, governador e presidente se reuniram com interventor no sábado (17), mas planejamento e orçamento da intervenção na segurança do Rio não foram revelados Imagem: Leo Correa/AP Photo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo*

18/02/2018 13h54Atualizada em 18/02/2018 14h04

O presidente Michel Temer (MDB) decretou, em Brasília, a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro na tarde de sexta-feira (16). No sábado (17), se reuniu com o interventor, o general Walter Souza Braga Netto, e com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), entre outras autoridades, no Palácio do Guanabara, sede do governo estadual, na capital fluminense. Mas, até este domingo (18), o planejamento efetivo da intervenção continua desconhecido.

Enquanto isso, casos graves de violência continuam acontecendo no Rio. Desde o anúncio da intervenção até este domingo, ocorreram tiroteios, com o fechamento da avenida Brasil, o sequestro de funcionários da Light para que religassem a luz em favelas e até um ataque a uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

Braga Netto já é o homem responsável pelas polícias Civil e Militar, além do Corpo de Bombeiros e administração penitenciária do Estado. No entanto, ações sob o regime de intervenção na segurança só acontecerão após a votação do decreto na Câmara e no Senado. A aprovação é esperada até a próxima terça-feira (20), segundo o CML (Comando Militar do Leste). 

O coronel Carlos Frederico Cinelli, responsável pela comunicação do CML, informou que, até lá, os militares aguardam os detalhes de como a intervenção acontecerá e seguem em fase de planejamento interno. O momento é de análise e acompanhamento de cenário, de acordo com o militar.

Em seguida, as medidas previamente estudadas serão adaptadas ao decreto aprovado no Congresso. Cinelli afirma que o Exército está permanentemente em estado de planejamento e que nenhuma atividade diferente da rotineiramente adotada foi pensada até agora. Por enquanto, é previsto que a intervenção contará com o efetivo já presente no Rio. Mas, dependendo do modelo de intervenção aprovado, militares de outros Estados poderão ser convocados.

Chegando de férias, o interventor recebeu a missão na madrugada entre quinta (15) e sexta-feira (16). "Nós vamos entrar numa fase de planejamento. Nosso relacionamento com os órgãos de segurança do Rio de Janeiro sempre foi muito bom. Eu não tenho nada que eu possa adiantar aos senhores", declarou na sexta.

16.fev.2018 - General Walter Braga Neto durante assinatura do decreto de intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro (RJ), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - Fátima Meira/Estadão Conteúdo - Fátima Meira/Estadão Conteúdo
Braga Netto informou que intervenção ainda está em fase de planejamento
Imagem: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

De lá para cá, continuam sem respostas questões fundamentais, como o efeito prático da intervenção na vida da população; o uso das Forças Armadas na intervenção; se os militares farão o policiamento ostensivo e de que forma participarão de operações; se haverão mudanças na estrutura administrativa da segurança e se o então secretário de Segurança, Roberto Sá, que pediu exoneração do cargo, assim como outros postos de comando das polícias e administração penitenciária, permanecem ou não.

Também não foi revelado quanto o governo federal gastará nos meses em que a intervenção estiver em vigor no Rio.

Na reunião realizada neste sábado no Palácio do Guanabara, Braga Netto teria dito que "é 'fake news' [a informação de] que eu vou afastar a cadeia de comando". A declaração teria sido motivada por rumores não confirmados de que os comandantes seriam trocados ou entregariam seus cargos após a intervenção federal.

Homens do Exército ocuparam no sábado pontos da zona sul do Rio e até mesmo um tanque foi deslocado para as redondezas da sede do governo fluminense. Entretanto, o CML atribuiu as ações à presença da comitiva presidencial no Palácio Guanabara.

tanque Rio - ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
17.fev.2018 - Tanque na rua Pinheiro Machado em Laranjeiras, perto do Palácio Guanabara
Imagem: ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Ataque a UPP

Por volta das 9h deste domingo, policiais da UPP Salgueiro, na região da Tijuca, zona norte, foram atacados por criminosos. Segundo a UPP, houve troca de tiros. Ninguém ficou ferido, nem foi preso. Não se sabe a motivação do ataque.

Na noite de sexta-feira, criminosos trocaram tiros com policiais da UPP do Caju, na avenida Brasil, região da zona portuária do Rio. O confronto chegou a provocar o fechamento da via expressa. Com medo, motoristas que acessavam a ponte Rio-Niterói retornaram pela contramão.

Entre ontem e hoje, há relatos nas redes sociais de tiros na Tijuca, no Tabajara, em Quintino, em Jacarepaguá, em Resende, na Cidade de Deus, em Cordovil, Duque de Caxias e Saracuruna. Ao menos três arrastões teriam acontecido na cidade entre ontem e hoje, segundo relatos publicados no Twitter.

Em outro caso de violência, funcionários da Light foram sequestrados, na noite de sexta-feira, em Inhaúma, Campo Grande e Ramos. As equipes foram levadas por criminosos para favelas para que tentassem religar a energia elétrica, que está em falta em regiões do Rio desde quinta-feira (15), quando uma forte chuva atingiu o Rio.

Em nota, a Light informou que nos três casos não houve "desdobramentos para as equipes" e que todos os funcionários foram liberados pelos criminosos em segurança. Alguns locais da cidade chegaram a ficar mais de 70 horas sem energia elétrica.

*Com informações do Estadão Conteúdo