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Uma semana após intervenção no Rio, governo diz que ainda não concluiu planejamento

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

22/02/2018 14h08

Uma semana após a intervenção federal na área de segurança pública no Rio de Janeiro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta quinta-feira (22) que o planejamento ainda não está pronto. Ele disse acreditar que um plano seja apresentado até o final da próxima semana pelo interventor, general do Exército Walter Braga Netto.

A declaração foi dada após reunião do Conselho Militar de Defesa em Brasília com o presidente da República, Michel Temer (MDB), em Brasília.

“Ontem nos falamos [Jungmann e Braga Netto] por telefone. Ele já voltou ao Rio de Janeiro e ele me dizia que espera nos próximos dias, acho que nessa semana não mais, mas possivelmente no início da próxima, estar apresentando [o planejamento]. Ele vai fazer uma [entrevista] coletiva e apresentar tudo o que vocês queiram. Já está decidido isso, ele vai fazê-lo”, disse o ministro.

Mais tarde, ainda aos jornalistas, questionado novamente sobre a apresentação do plano por parte do interventor, Jungmann falou: “eu espero. I hope so [em inglês]. Ele não deu um dia, mas disse que seria na semana próxima. Eu fico numa... Eu fico na dúvida”.

O decreto que estabelece a intervenção foi publicado no Diário Oficial da União na última sexta-feira (16) e já foi aprovado pelo Congresso Nacional, trâmite necessário para ser colocado em prático sem impedimento jurídico.

Segundo o ministro da Defesa, no encontro foram discutidos o orçamento das Forças Armadas em 2018, projetos estratégicos, balanço das ações do ano passado, entre outros temas. De acordo com o próprio Temer e Jungmann, a intervenção no Rio não foi discutida.

Jungmann disse que o orçamento da Defesa não será utilizado para a intervenção, mas somente o já destinado à segurança pública do Estado do Rio. A defasagem e desvio de recursos para a ação é uma das preocupações de militares. Ele voltou a falar que a União destinou R$ 100 milhões a medidas de GLO (Garantia de Lei e da Ordem) em todo o país e faltam ser gastos outros R$ 47 milhões.

“No que diz respeito ao restante [para a intervenção] o senhor general [Braga Netto] vai apresentar suas necessidades. O compromisso do presidente reiterado é de procurar atender essas demandas”, falou.

Na saída, Temer falou rapidamente com a imprensa, mas não comentou sobre os assuntos tratados na reunião e disse que “só faria uma declaração”.

“Tive o prazer hoje de ser convidado pelo ministro Raul Jungmann, pelos comandantes das forças militares para uma reunião e um almoço aqui no Ministério da Defesa. E, ao mesmo tempo, tive a oportunidade de conhecer aquilo que, parceladamente, eu já conheço. [...] Hoje houve uma exposição sistêmica. Tudo aquilo que as Forças Armadas fazem. E depois ainda fui brindado com um almoço muito agradável”, declarou o presidente e foi embora, ao acrescentar que deixaria Jungmann responder às perguntas “mais difíceis”.

Participaram do encontro, além de Jungmann e Temer, o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sergio Etchegoyen, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, o comandante da Marinha, almirante de esquadra Eduardo Leal Ferreira, o comandante da Aeronáutica, tenente brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, e o secretário-geral do Ministério da Defesa, general do Exército Joaquim Silva e Luna.

O colegiado tem como objetivo assessorar o presidente da República em relação a normas de organização, preparo e emprego das Forças Armadas. Embora o conselho seja também composto pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante de esquadra Ademir Sobrinho, ele não estava presente. O interventor Braga Netto, também não participou da reunião, segundo informou a Presidência da República.

O ministério informou que esta foi a primeira vez que um presidente da República participou de uma reunião do conselho e fez visita oficial à sede da pasta em Brasília --uma placa comemorativa foi afixada no salão nobre no gabinete de Jungmann. Na chegada, a banda militar tocou o Hino Nacional e Temer passou em revista às tropas. Ele então foi recebido por Raul Jungmann e seguiram para a reunião, a portas fechadas.

Migração de criminosos

Questionado sobre o risco de migração de criminosos para outros Estados, Jungmann afirmou ainda que o crime é nacional, está se internacionalizando, e o fluxo do Rio para Estados vizinhos por causa da intervenção é “plausível”.

“É claro que [a migração] preocupa”, diz o ministro. “Acredito que o futuro Ministério da Segurança debruçar-se-á sobre isso em conjunto com esses governos. Acho que [é um cenário de migração] plausível. Porque essa migração ocorre, por exemplo, dentro do Rio de Janeiro, dentro de Pernambuco, Goiás, onde você tenha uma eficácia maior das forças de segurança, em certa medida, migra, não é? E temos sim [a preocupação], está correta, essa é uma preocupação que temos de ter e que a gente tem que cuidar para que não se corporifique”, declarou.