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Defesa de ex-deputado cita laudo para questionar "voo" a 161 km/h em acidente que matou 2 no PR

Interior do Tribunal do júri onde acontece o julgamento do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, em Curitiba - Janaina Garcia/UOL
Interior do Tribunal do júri onde acontece o julgamento do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, em Curitiba Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

27/02/2018 20h58Atualizada em 27/02/2018 20h58

Um perito especialista em acidente de trânsito contratado pela defesa do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, 35, questionou nesta terça-feira (27), em Curitiba, a perícia oficial feita sobre o acidente que deixou dois jovens mortos na capital paranaense em 2009.

Carli Filho é acusado pelo Ministério Público de duplo homicídio com dolo eventual por assumir o risco de matar ao dirigir em alta velocidade e sob efeito de bebida alcoólica. No acidente, morreram os amigos Gilmar Yared, 26, e Carlos Murilo de Almeida, 20, que estavam em um Honda Fit atingido pelo Passat Variant conduzido pelo então deputado.

O julgamento de Carli Filho começou hoje em Curitiba. O perito Ventura Rafael Martelo Filho foi a sexta testemunha a depor. Em mais de três horas, no mais longo depoimento do dia, ele questionou a versão de uma das testemunhas de que o Passat Variant conduzido por Carli Filho teria perdido contato com o solo e “voado”, em função de velocidade excessiva.  De acordo com o perito, o trabalho feito à época pelo IC (Instituto de Criminalística) do Paraná e pela Polícia Civil, com a reconstituição do acidente, sofreriam de “uma série de incorreções e equívocos” no laudo feito pela perícia contratada pela defesa do acusado.

O laudo do IC na época apontou que Carli Filho estava em uma velocidade entre 161 km/h e 173km/h no momento da colisão. Além da carteira de habilitação suspensa, com 130 pontos e 30 multas –23 delas, por excesso de velocidade –, testemunhas relataram no processo que o ex-deputado teria consumido quatro garrafas de vinho em um restaurante e saído cambaleante, em direção ao próprio veículo, ao deixar o local. Uma das testemunhas ouvidas no júri disse também ter visto o carro de Carli Filho “voar”.

Para o perito, ouvido na qualidade de assistente da defesa, entre as “inúmeras incoerências” nas investigações oficiais, as “inúmeras tentativas de cálculo da velocidade [máxima, praticada por Carli Filho] não seguiram qualquer recomendação” dos padrões exigidos. “Percebemos, pelos cálculos efetuados, que houve em todos uma série de incorreções --e não encontramos a possibilidade de calcular a velocidade de nenhum dos veículos disse.

Por outro lado, Martelo afirmou que simulações virtuais feitas pelo Institui Mauá --em um carro de modelo idêntico ao usado por Carli Filho com aceleração em um ambiente virtual idêntico aos do dia do acidente –, para determinar a velocidade máxima, constataram que o Passat trafegaria “muito abaixo” do indicado pelo IC a Carli Filho – em torno de, no máximo, 136km/h.

O perito questionou também a constatação de que o carro do ex-deputado teria contribuído para a decapitação de uma das vítimas, Yared. Para isso, exibiu fotos da parte de baixo do Passat sem vestígios de sangue e, segundo o laudo do IC, com “discretas avarias”.

Sobre o “voo” do carro, calculou que, pelas condições físicas no acidente, o veículo teria de desenvolver uma velocidade mínima de 250km/h para tal. “Isso não é atingível por um Passat – que faz 227km/h, segundo consta no manual do próprio carro, e considerado em uma reta e aceleração máxima, o que não era o caso”, afirmou, referindo-se à localidade curva no local.

O réu acompanhou o julgamento sentado de frente para os jurados –cinco mulheres e dois homens. O juiz sugeriu que ele se sentasse ao lado dos advogados, em uma bancada, também de frente, mas a defesa recusou. Com isso, Carli Filho ficou em uma cadeira, sozinho, a cerca de um metro da primeira fila da plateia –fila em que está a mãe de Gilmar Yared, a deputada federal Christiane Yared (PR-PR).

Carli Filho acompanhou a maior parte do julgamento cabisbaixo e se emocionou quando a mãe de Yared entrou no plenário. Ao longo dos quase nove anos, a defesa do ex-deputado apresentou 33 recursos em todas as instâncias judiciais para adiar ou impedir o júri popular.