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Testemunhas protegidas que acusaram PMs da maior chacina de SP faltam a júri

14.ago.2015 - Policiais inspecionam local de um dos ataques da maior chacina de SP - Edu Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
14.ago.2015 - Policiais inspecionam local de um dos ataques da maior chacina de SP Imagem: Edu Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

27/02/2018 22h16Atualizada em 28/02/2018 12h30

Duas testemunhas protegidas, que acusaram policiais militares de terem envolvimento na maior chacina de São Paulo, quando 23 pessoas foram assassinadas a tiros em 2015, faltaram ao júri de um dos PMs acusados, nesta terça-feira (27), no Fórum de Osasco, na Grande São Paulo.

O cabo da PM Victor Cristilder Silva dos Santos está sendo julgado sob acusação de participar dos assassinatos. Outros dois PMs e um GCM (guarda civil metropolitano) foram condenados em setembro do ano passado a penas que, juntas, ultrapassam 600 anos de prisão.

O julgamento começou nesta terça-feira e ouviu testemunhas de acusação ao longo de quase nove horas. Para o Ministério Público, a testemunha que mais fez falta saiu recentemente do programa de proteção à pessoa oferecido pelo Estado de São Paulo e não foi localizada para ser levada ao julgamento.

A assistente de acusação, Maíra Coraci, afirmou em plenário que não sabia se a testemunha estava viva e sugeriu que ela pode ter sido alvo de retaliação por parte de policiais. “Eu não sei onde ela está. Você sabe o que acontece com quem denuncia PMs aqui em Osasco, né?”, questionou Coraci ao advogado do réu, João Carlos Campanini, que retrucou: “Você está viajando”.

O promotor Marcelo de Oliveira, por sua vez, afirmou que, além desta testemunha, que teria reconhecido o policial por foto, outra não compareceu por não se sentir segura.

Preso desde 2015, o cabo Cristilder foi o único a recorrer contra a sentença que mandou os quatro acusados a júri popular. Contra ele, pesa o reconhecimento feito por uma testemunha protegida e o fato de ter trocado símbolos de “joinhas”, em emoticons, via WhatsApp, antes e após os crimes do dia 13 de agosto de 2015, com o guarda Sérgio Manhanhã, condenado a 100 anos de prisão.

Segundo o promotor Marcelo de Oliveira, “se a lógica permanecer, a tendência é de que o resultado seja o mesmo do julgamento anterior. Porque a prova é uma só”. “Vou explicar aos jurados como se chegou ao Cristilder e esperar que a lógica permaneça no final”, afirmou.

“Ele puxou o gatilho em alguns casos, não puxou em outros. Ele participou de um plano terrorista muito bem organizado no sentido de se vingar de pessoas supostamente ligadas ao crime por causa da morte de um policial militar e de um GCM”, avaliou o promotor.

Para o advogado de defesa, João Carlos Campanini, o júri será “extremamente difícil” pela condenação anterior dos outros três acusados. Campanini reafirma que o cabo Cristilder é inocente. “Ele foi confundido por uma testemunha protegida com um outro policial, do mesmo batalhão”, diz.

“A defesa não vai pedir clemência ou piedade aos jurados. A defesa vai pedir que os jurados analisem com atenção as provas que serão levadas a júri. Caso prestem atenção, estará claro que Cristilder é e foi inocente”, afirmou.

A maior chacina de São Paulo

Ao todo, 23 pessoas foram mortas em 8 e 13 de agosto de 2015 nas cidades de Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba, na Grande São Paulo. O episódio ficou marcado como a maior chacina de São Paulo. 

Segundo a Promotoria e a Polícia Civil, as mortes ocorreram por retaliação às mortes de um policial militar e de um guarda municipal. De acordo com relatório do TJM (Tribunal de Justiça Militar), os acusados integravam uma milícia paramilitar.

Nesta quarta, cerca de 15 testemunhas de defesa devem ser ouvidas no tribunal.