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PM julgado por maior chacina de SP estudou processo e ajuda defesa nas perguntas

Com um caderno em mãos, o PM Cristilder orienta advogados durante o juri - Luís Adorno/UOL
Com um caderno em mãos, o PM Cristilder orienta advogados durante o juri Imagem: Luís Adorno/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

28/02/2018 11h48

O cabo da PM (Polícia Militar) Victor Cristilder Silva dos Santos, que é julgado nesta semana por participação na maior chacina de São Paulo, ocorrida em 2015, estudou o próprio processo e tem auxiliado seu advogado na elaboração de perguntas a testemunhas durante o júri.

Cristilder é acusado de participar da morte de 17 pessoas na Grande São Paulo. Ao todo, 23 pessoas foram assassinadas entre os dias 8 e 13 de agosto de 2015 nas cidades de Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba. O episódio ficou marcado como a maior chacina de São Paulo desde a redemocratização brasileira.

Com um caderno de 20 matérias amassado, uma caneta e papéis grampeados com o timbre do TJ (Tribunal de Justiça), Cristilder se mantém quieto durante o julgamento.

Após alguma testemunha apontar algum elemento acusatório contra ele, o cabo ergue a mão esquerda, levemente, e balança a cabeça para baixo.

Um assistente da defesa vai até ele, escuta o que ele tem a dizer e repassa a mensagem ao seu advogado, João Carlos Campanini, que faz a pergunta de seu cliente em plenário.

“Desde que foi preso, ele estuda o próprio processo. Cristilder estava estudando para progredir na carreira, prestar concurso para sargento. Ele lê muito e estuda a própria defesa. Quer provar a própria inocência”, afirmou Campanini.

Cristilder está preso no presídio militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista, desde 2015.

A tese da defesa é de que Cristilder foi confundido por uma testemunha protegida com outro policial militar. A acusação, no entanto, sustenta que ele foi reconhecido por um sobrevivente e que ele trocou mensagens com o já condenado guarda municipal Sérgio Manhanhã antes e depois da chacina.

“Cristilder era um dos mais interessados no ato terrorista de 2015. É só juntar os pontos: ele era amigo do Manhanhã, que enviou viaturas da GCM para outro lugar dos ataques, era de Força Tática, como outro PM condenado pela outra chacina. Ele uniu todos”, afirmou o promotor Marcelo Oliveira.

A maior chacina de SP

Segundo a Promotoria e a Polícia Civil, os assassinatos ocorreram por retaliação às mortes de um policial militar e de um guarda municipal ocorrida na mesma região da chacina.
De acordo com relatório do TJM (Tribunal de Justiça Militar), os acusados integravam uma milícia paramilitar.

No dia 8 de agosto daquele ano, seis pessoas foram mortas a tiros. Cinco dias mais tarde, outras 17 foram assassinadas, na mesma região.

Ao todo, oito pessoas foram indiciadas por suspeita de envolvimento nos crimes: sete PMs e um guarda civil. Para o promotor Marcelo Oliveira, há indício de assassinos ilesos.

Em setembro do ano passado, dois policias militares e um guarda civil foram condenados a penas que, juntas, ultrapassam 600 anos de prisão.