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MP investiga se presos da Lava Jato usaram "motel" na cadeia de Benfica

Suíte usada para visitas íntimas em Benfica - Divulgação/MP
Suíte usada para visitas íntimas em Benfica Imagem: Divulgação/MP

Eduardo Miranda

Colaboração para o UOL, no Rio

07/03/2018 18h13

O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, afirmou nesta quarta-feira (7) que presos da Lava Jato podem ter utilizado, sem permissão judicial, as seis suítes que servem para visitas íntimas no quarto andar da Cadeia Pública José Frederico Marques em Benfica, zona norte da capital fluminense. Segundo o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), o local é de acesso comum a todos os detentos.

As suítes de Benfica atendem a 27 presos com autorização judicial, incluindo dois detentos da Lava Jato, cujas identidades não foram reveladas. No entanto, segundo o MP, que recebeu a denúncia em fevereiro, "presos e não presos" sem autorização tinham acesso ao local. A Promotoria vai analisar imagens de circuito interno da cadeia e apurar possíveis irregularidades na construção das suítes.

Segundo o secretário estadual de Administração Penitenciária, David Anthony, a decoração dos espaços para visita íntima e os objetos do local "não são normais em outras unidades". "O que causou estranhamento foi a qualidade das suítes", admitiu o secretário.

O secretário afirmou que alguns objetos encontrados pela fiscalização, como televisores, são permitidos e ficam a cargo dos detentos, mas observou que o piso em porcelanato, o banheiro com carpete, assim como a decoração dos quartos não são comuns em outras cadeias.

A unidade é onde estava preso o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e onde ainda estão outros presos Lava Jato no Rio, como secretários da gestão Cabral --Wilson Carlos (Governo) e Hudson Braga (Obras)--, além de deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio Janeiro) --Edson Albertassi, Jorge Picciani (presidente afastado da Casa) e Paulo Melo, todos do MDB. No local, também se encontram detidos presos que têm ensino superior e aqueles que não pagaram pensão alimentícia.

Durante entrevista à imprensa, a coordenadora do Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) do MP-RJ, Andrea Amin, foi questionada sobre a possibilidade de garotas de programa terem entrado em Benfica.

"As mulheres que entravam nas visitas íntimas eram devidamente cadastradas. O que chegou para mim foi a denúncia das suítes no quarto andar, mas só teremos a informação [sobre prostituição dentro cadeia] depois de analisarmos as imagens", disse a coordenadora do Gaesp.

Os promotores rechaçaram a possibilidade de que eventuais irregularidades tenham ocorrido na atual gestão da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária).

Em janeiro, o então secretário, coronel Erir Ribeiro, e diretores de Benfica foram demitidos, após denúncias do MP sobre alimentos que entravam irregularmente e a construção clandestina de uma sala de cinema. Os fatos culminaram na transferência do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) para Curitiba.

Em novembro, uma fiscalização encontrou camarão, bacalhau, queijo de cabra e presunto importado na cadeia de Benfica --uma das embalagens foi marcada com o nome de Cabral na tampa. Os promotores encontraram os alimentos ensacados em tonéis. Refrigerantes e iogurtes estavam em baldes de gelo para serem conservados.

Uma resolução da Seap proíbe a entrada de produtos in natura nas cadeias do Estado.