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Intervenção investiga operação frustrada em Bangu e tenta conter vazamento de informações

Vistoria feita por militares em Bangu 3 apreendeu apenas ventiladores e um celular - Divulgação/Secretaria de Administração Penitenciária
Vistoria feita por militares em Bangu 3 apreendeu apenas ventiladores e um celular Imagem: Divulgação/Secretaria de Administração Penitenciária

Do UOL, em São Paulo

18/04/2018 04h00

Impedir o vazamento de informações sigilosas sobre operações das forças de segurança tem sido prioridade para os interventores federais no Rio de Janeiro. Esse tipo de “sabotagem” pode ter frustrado ao menos uma grande operação das Forças Armadas durante a intervenção que já dura pouco mais de dois meses.

O possível vazamento teria ocorrido antes de uma ação do Exército de revista de celas no presídio de Bangu 3, onde estão presos líderes da facção criminosa Comando Vermelho. Uma das hipóteses da investigação é que um ou mais agentes penitenciários supostamente cooptados pelo crime organizado podem ter sido os responsáveis pela sabotagem da ação.

A Seap (Secretaria da Administração Penitenciária) disse que não se manifestaria sobre o assunto. A assessoria de comunicação da intervenção federal também não comentou.

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A operação aconteceu no dia 27 de março, quando 220 militares do Exército e 120 inspetores passaram um dia revistando celas da Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho.

Apenas um aparelho de telefone celular e ventiladores foram apreendidos. Os militares não tiveram contato com os presos, pois eles foram levados para outras áreas do presídio por agentes penitenciários.

O resultado inexpressivo do pente fino no presídio atraiu críticas à ação dos militares. O objetivo da operação era achar celulares, armas e drogas.

A Secretaria da Administração Penitenciária disse na época que, com a movimentação de tropas e o cancelamento da visita íntima, os detentos teriam percebido a operação e destruído aparelhos de celular.

Mas há outras hipóteses em investigação. O UOL apurou com fontes ligadas à intervenção que uma das linhas de investigação mais fortes é que presos possam ter sido alertados da chegada dos militares por um ou mais agentes penitenciários cooptados pelo crime organizado.

Na semana passada, o Diário Oficial do Rio divulgou um decreto do interventor Walter Souza Braga Neto datado do dia 9 de abril determinando a exoneração de um subsecretário, membro da cúpula da Seap, um de seus subordinados e o corregedor da pasta. Eles foram substituídos por novos profissionais.

As autoridades não confirmaram nem desmentiram se essas substituições estariam ligadas ao processo investigatório.

O Gabinete de Intervenção Federal disse que, de forma geral, todas as substituições em órgãos de segurança pública são pautadas pela competência técnica, pela idoneidade e por princípios éticos e morais.

22.mar.2018 - Soldados das Forças Armadas, em ação da intervenção federal na Vila Vintém, no Rio de Janeiro - UOL - UOL
Unidades das Forças Armadas de outros estados devem ajudar na segurança do Rio
Imagem: UOL

Forças de outros estados

Fontes da cúpula do Exército ouvidas pela reportagem afirmaram que manter o sigilo é uma das tarefas mais difíceis em operações de segurança pública (operações de Garantia da Lei e da Ordem, as GLOs) que envolvem as Forças Armadas e grandes contingentes policiais e de agentes penitenciários.

“Nem sempre o vazamento é sabotagem. Se um só agente quiser se gabar com amigos que teve acesso a uma informação sigilosa ou tentar avisar parentes para saírem de uma área mandando uma mensagem do seu celular, toda uma operação pode ser comprometida”, disse um oficial que pediu para não ter o nome revelado.

Uma das formas de diminuir a probabilidade do vazamento de informações é usar forças de outros estados em operações onde o sigilo é um ponto crítico. Em teoria, quem não mora no Rio de Janeiro não teria interesse em avisar a parentes ou amigos sobre ações de segurança.

Nesta semana, tropas de fora do Rio começam a participar das operações de GLO no estado. Segundo o Comando Militar do Sudeste, 455 militares do 5º Batalhão de Infantaria Leve de Lorena (SP) do Exército viajaram para o Rio. Esta é uma das quatro unidades de ação rápida do Exército (que possui equipamentos especiais e maior capacidade de mobilização e deslocamento).

A partir da semana que vem, tropas de São Paulo também devem ter presença contínua no Rio, atuando em períodos máximos de 15 dias. O papel delas na intervenção ainda não foi divulgado e, por isso, não é possível dizer se a chegada está relacionada a qualquer procedimento para evitar vazamentos de informações. Em operações passadas de GLO no Rio, tropas de diversos estados foram enviadas para fazer revezamento com os contingentes cariocas por questões logísticas.

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