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Relatório independente diz que número de chacinas no Rio dobrou durante a intervenção

Erbs Jr/AGIF/Estadão Conteúdo
Imagem: Erbs Jr/AGIF/Estadão Conteúdo

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

26/04/2018 11h49Atualizada em 26/04/2018 15h20

O número de chacinas no Rio durante o período de intervenção federal dobrou em relação aos dois meses anteriores: foram 12 casos com 52 vítimas entre 16 de fevereiro a 15 de abril. Entre 16 de dezembro de 2017 e 15 de fevereiro, a cidade registrou seis chacinas com 22 mortes. Os dados não são oficiais.

O decreto publicado pelo presidente Michel Temer (MDB) autorizando o plano de intervenção federal no estado foi publicado em 16 de fevereiro deste ano.

O levantamento foi divulgado nesta quinta-feira (26), em relatório feito pelo Observatório da Intervenção do Centro de Estudo de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, iniciativa independente para monitorar a ação dos militares. Ele é baseado em pesquisas anteriores feitas por outros institutos, em aplicativos cariocas que monitoram tiroteios, em reportagens jornalísticas feitas durante o período e em informações do ISP (Instituto de Segurança Pública).

Os dados de chacinas incluem os cinco jovens assassinados em Maricá pelas milícias e os oito mortos na Rocinha após uma operação. “São mortes com mais de três pessoas", disse Silvia Ramos, professora responsável pela organização das informações. 

Ainda de acordo com a compilação, houve um aumento de 15,6% em relação a tiroteios: foram 1.502 disparos com 204 mortos e 193 feridos no período entre 16 de fevereiro e 15 de abril, enquanto os dois meses imediatamente anteriores registraram 1.299 eventos.

O relatório, que é crítico à intervenção federal, aponta ainda os dados divulgados pelo ISP e pela imprensa: foram 209 pessoas mortas pela polícia no estado, 19 policiais assassinados e 940 homicídios entre os meses de fevereiro e março. Ainda não há dados oficiais para o mês de abril.

O balanço oficial de março do ISP, divulgado no último dia 17, mostra que, no primeiro mês completo com a intervenção federal no estado em vigor, houve redução do número de mortos pela polícia (11,4%) e queda no número de armas apreendidas (11,6). A comparação foi feita entre o mês de março de 2018 com o mesmo período do ano passado.

"É preciso entender os objetivos da intervenção. Qual é o plano, qual o programa, quanto vai gastar? Até agora não sabemos", afirmou Ramos.

O documento cobra ainda,o acompanhamento das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, e caracteriza a Baixada Fluminense como um "desafio" para a Segurança do estado pelas altas taxas de homicídio registradas. Também aponta a necessidade de investimento nas forças policiais, assim como a necessidade de se reformar estrutura e cultura das polícias e mudança na legislação das drogas. 

Por meio de nota, o Gabinete de Intervenção Federal informou que está "dedicado aos objetivos estabelecidos de diminuir progressivamente os índices de criminalidade e fortalecer as instituições da área de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro."

Medidas emergenciais e estruturantes estão sendo tomadas e serão observadas ao longo do período previsto de Intervenção Federal, ainda segundo a nota.