Tive que inventar coisas para meu filho, diz mulher de homem preso em suposta festa de milícia
Camila Silva, mulher de Fábio Pereira da Silva, um dos 137 homens detidos em uma festa que, segundo a polícia do Rio de Janeiro, era organizada por milicianos, relatou ao UOL não ter tido coragem de contar para o filho do casal, de apenas seis anos, que o pai estava na cadeia. Silva e outras 136 pessoas tiveram a prisão revogada pela Justiça na quarta-feira (25).
Enquanto aguardava nesta quinta-feira (26) a liberação do marido, no Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste carioca, Camila afirmou à reportagem ter inventado que Fábio faria um "serviço de limpeza" no presídio. E inventou que uma das celas de Bangu receberia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e preso em Curitiba.
"Em princípio, o que eu contei para ele é que o pai estava viajando. Só que, como ele nunca dormiu fora de casa, cada dia eu tinha que inventar uma coisa. Ele tem seis anos, mas é muito esperto. Então ele começou a perceber a movimentação diferente", disse a mulher.
"Eu inventei então que o pai estava indo limpar o presídio porque o Lula iria ser preso. Como ele vê muita televisão, ele já associa. Como o Fábio presta serviço para a Comlurb [Companhia Municipal de Limpeza Urbana], ele sabe que realmente o pai trabalha em caminhão de coleta. Foi nisso que ele acreditou."
De acordo com Camila, depois do nascimento do filho, o momento em que recebeu a informação de que a Justiça fluminense havia revogado a prisão do marido foi "o dia mais feliz da vida".
"Nós nunca imaginamos passar por isso na vida. Se você anda no caminho certo e é honesto, você nunca se imagina numa situação dessa."
No começo da tarde, chegaram no Complexo Penitenciário de Bangu ao menos 9 alvarás de soltura. Segundo a Defensoria Pública, serão soltos presos em ordem alfabética.
Prisão de 159 pessoas
No dia 7, foram presas preventivamente 159 pessoas que estavam em um show de pagode que, segundo a polícia, havia sido organizado pela maior milícia do Rio, a Liga da Justiça. Na audiência de custódia, o Ministério Público havia apresentado ficha criminal de apenas 11 dos 159 detidos.
O subdefensor geral Rodrigo Pacheco classificou as prisões como “indevidas”, pois a maior parte dos detidos estaria no local apenas como participante da festa, sem ligação direta com a milícia. “A gente vai prosseguir no atendimento das famílias das pessoas que foram processadas, inclusive para exigir do estado a devida compensação por terem passado 14 dias ilegalmente, indevidamente na prisão”, afirmou Pacheco.
Ontem, a 2ª Vara Criminal de Santa Cruz revogou a prisão preventiva de 137 das 159 pessoas que haviam sido detidas.
A festa ocorria em um sítio em Santa Cruz, bairro da zona oeste carioca, região marcada pela atuação de grupos paramilitares. Durante a ação policial, houve troca de tiros. Foram apreendidos fuzis e projéteis de grosso calibre, além de pistolas, revólveres, coletes balísticos, entre outros equipamentos.
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