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Quem são as cadelas que ajudam os bombeiros no desabamento em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

02/05/2018 18h21

As "bombeiras" Sarah, de três anos e meio, e Hope, de um ano e oito meses, são as apostas das equipes de busca no centro de São Paulo para encontrar vítimas do desabamento de um prédio de 24 pavimentos no largo do Paissandu, região histórica da capital paulista. Até à tarde desta terça (2), eram oficialmente quatro desaparecidos  — um rapaz atingido pelo desabamento, prestes a ser resgatado, e uma mãe com dois filhos gêmeos.

Sarah é uma cadela da raça labrador que atua nas buscas em conjunto com a parceira, a cadela da raça pastor belga de Malinois. Ambas são do canil do Corpo de Bombeiros de São Paulo localizado no Ipiranga, zona sul da capital paulista. O local abriga e treina atualmente sete cães —três deles, filhotes — para operações de busca e salvamento. De soterramentos a deslizamentos de terra, além de busca em matas e em colapsos em edificações, como o edifício Wilton Paes de Almeida, no Paissandu, eles buscam por vítimas graças ao olfato e à audição acurados.

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Cada cão é treinado durante um ano e se torna parceiro inseparável do respectivo treinador. Segundo o sargento Clovis Benedito de Souza, 41, que está há 22 anos na corporação e é responsável por Hope, a parceira está na quinta operação grande de salvamento — em 2015, ela ajudou na localização de uma criança de um ano e meio, com vida, em um deslizamento em Itapecerica da Serra

Antes dela, o bombeiro teve outros dois cães parceiros no trabalho em operações que marcaram o noticiário mais trágico no país: a queda do avião da TAM, em 2007, com 199 mortos, e, no mesmo ano, a cratera nas obras da estação Pinheiros da linha 4-amarela do metrô de São Paulo, em que sete pessoas morreram.

2.mai.2018 - Sarah e Hope são cadelas do Corpo de Bombeiros de São Paulo e estão ajudando nas buscas a vítimas do desabamento de um prédio no centro de São Paulo - Janaina Garcia/UOL - Janaina Garcia/UOL
À esquerda, o sargento Clovis com a pastor Hope; à direita, cabo Gerson e a labrador Sarah
Imagem: Janaina Garcia/UOL

Já Sarah, espécie de caloura nas missões grandes de salvamento, enfrentou dificuldades não em operações, mas em procedimentos de certificação. Quem afirma é o cabo Gerson Ferreira, 38, bombeiro há 16 anos.

“Ela tem duas certificações - internacional e nacional. Para uma delas, em três dias seguidos de prova, com ocorrência simulada, isso ocorreu após 15 horas de viagem”, lembra Ferreira.

O sargento explica que os cães têm o mesmo regime de plantão de seus parceiros humanos — ou seja, 24 horas de trabalho, para 48 horas de folga, ainda que, nesses períodos de descanso, fiquem em regime de prontidão.

Nas ações de salvamento, porém, os animais trabalham em média 20 minutos seguidos, para o dobro de tempo, no mínimo, de descanso. O tempo de aposentadoria também é diferente de um adulto: oito anos.

Classificada nessa terça-feira (1º) pela própria corporação como “ocorrência atípica”, a queda do prédio no centro, após ele ter pegado fogo, limita a ação das cadelas a entornos não aquecidos pelos escombros. Desde ontem, elas atuam por essas beiradas — cerca de 20%, estimam seus treinadores, da área atingida.

“Mesmo com todo o treinamento para essas operações, vamos antes dos cães para a área de busca e verificamos os locais por onde eles não podem passar, seja por risco de machucar, queimar ou furar as patas, ou mesmo por risco de desabamento”, relatou o sargento. A entrada do animal, segundo ele, abre novos acessos aos bombeiros envolvidos nas buscas à medida que ele se guia não apenas pelo olfato, como pela audição. Na prática, isso acaba por tornar a busca mais objetiva.

“Elas são bombeiros também. Mas enquanto encaramos aquilo como trabalho, para elas, é como se fosse uma brincadeira”, disse o cabo.

Relação familiar

O laço dos cães com os treinadores não se limita à atividade de busca, em que saem lado a lado: também as férias e folgas são conjuntas.

“Tenho dois filhos, e a Sarah é como se fosse também. É minha parceira e vai aonde eu vou”, resumiu Souza. “É como se fosse minha filha, ou a segunda criança na família. Sem contar que nos aproxima mais da comunidade, também”, completou Ferreira.

A previsão dos bombeiros é que as buscas no Largo Paissandu durem pelo menos uma semana. Sarah e Hope seguirão de plantão, mas poderão ter reforços ou eventuais substituições caso a corporação julgue necessário.