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Denúncias de homicídios de LGBTs aumentaram 127% em 2017, aponta Disque 100

A Polícia Civil do Rio investiga a morte da estudante trans Matheusa Passareli - Reprodução/Instagram
A Polícia Civil do Rio investiga a morte da estudante trans Matheusa Passareli Imagem: Reprodução/Instagram

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

18/05/2018 04h00

As denúncias sobre homicídios praticados contra integrantes da comunidade LGBTs feitas ao Disque 100 cresceram 127% entre 2017 e 2016: 193 no ano passado, contra 85 no ano anterior. Os dados, obtidos com exclusividade pelo UOL, são do MDH (Ministério dos Direitos Humanos), que administra o serviço. Até o dia 8 de maio deste ano, o Disque 100 recebeu 58 denúncias, sendo 41 relativas a homicídios de travestis.

O Disque 100 é um serviço telefônico nacional que recebe denúncias sobre violações de direitos humanos. O número de denúncias recebidas pelo serviço não significa, necessariamente, um aumento no número de mortos, mas pode indicar uma maior procura para denunciar esse tipo de crime. 

Washington Luiz Dias, integrante da Rede Nacional de Negros e Negras LGBT, afirma que estes números são subnotificados e que deve haver incentivo para que as denúncias sejam feitas (veja mais abaixo).

De acordo com o MDH, em 2016, foram registradas 85 denúncias de homicídios de integrantes da comunidade LGBT. Isso equivale a uma média de sete denúncias por mês. Em 2017, esse número mais que dobrou. Foram 193 denúncias em 12 meses, o que equivale a uma média de 16 por mês.

Um levantamento internacional divulgado no ano passado indica que o Brasil é o país das Américas que mais mata LGBTs.

"Vítimas de uma violência adicional"

As informações sobre o aumento no número de denúncias de homicídios contra a comunidade LGBT surgem em meio às investigações do assassinato do estudante Matheus Passareli, conhecido como Matheusa Passareli.

A jovem desapareceu no dia 29 de abril após sair de uma festa de aniversário no bairro do Encanto, na zona norte do Rio de Janeiro. As suspeitas são que Matheusa tenha sido assassinada, e seu corpo, queimado.

O ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha, condenou a violência destinada à comunidade LGBT no Brasil. “Todas as pessoas podem estar sujeitas à violência. No entanto, a população LGBT é vítima de uma violência adicional: são agredidas e discriminadas por serem aquilo que são. Este é um exemplo do ódio e da intolerância que precisamos combater”, disse Rocha.

ONG registrou mais que o dobro de mortes

Washington Luiz Dias, integrante da Rede Nacional de Negros e Negras LGBT, diz que o aumento no número de denúncias é uma notícia triste, mas não chega a ser surpresa. Segundo ele, ainda há bastante subnotificação em relação aos homicídios cometidos contra integrantes da comunidade LGBT.

“O que a gente observa é que nem todos os casos de homicídios contra nossa comunidade chegam ao Disque 100. Isso também acontece no registro desses crimes na polícia. O que a gente precisa é incentivar tanto a comunidade LGBT quanto quem não pertence a ela a denunciarem esse tipo de crime”, afirmou o ativista.

Dias citou os dados levantados pela ONG Grupo Gay da Bahia (GGB) como uma evidência de que os homicídios de LGBTs ainda é subnotificado no Brasil. "Em 2017, o GGB identificou 445 homicídios, mas só registramos 193 denúncias no Disque 100. Isso mostra o quanto ainda precisamos evoluir para que esse tipo de crime seja mais notificado", disse.