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Polícia Federal investiga vínculo de "embaixador do tráfico" com a Suíça

O traficante Luiz Carlos da Rocha, o "Cabeça Branca", mudou de rosto, mas foi preso - Divulgação/PF
O traficante Luiz Carlos da Rocha, o "Cabeça Branca", mudou de rosto, mas foi preso Imagem: Divulgação/PF

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

20/05/2018 04h00

A Polícia Federal vai investigar os vínculos do traficante Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, e do doleiro Carlos Alexandre Souza Rocha, o Ceará, com a Suíça. Também conhecido como o "embaixador do tráfico", Cabeça Branca foi preso em julho do ano passado pela PF como parte da Operação Spectrum.

Nos últimos meses, a PF descobriu indícios de que uma das filhas do traficante e um dos filhos do doleiro estudaram em uma das escolas mais caras do país europeu.

Há suspeitas de que a presença dos dois na Suíça possa ter sido um pretexto para o envio de dinheiro do tráfico para o exterior.

Ceará foi preso na última terça-feira (15) durante a Operação Efeito Dominó. Para a PF, Ceará era um dos principais operadores financeiros de Cabeça Branca, responsável por depósitos, transferências e operações de câmbio ilegais com dinheiro oriundo do tráfico de drogas.

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A ligação das famílias de Cabeça Branca e Ceará com a Suíça começaram a ficar evidentes depois que a PF quebrou o sigilo das conversas por email de Gabriel Barioni de Alcântara e Silva, apontado pela PF como namorado da filha do traficante, Luiza Pigozzo Rocha.

Silva foi preso em novembro de 2017 acusado de ter vazado informações sobre processos de Cabeça Branca. Ele era estagiário da Justiça Federal do Paraná em Londrina. 

Em uma das mensagens às quais a PF teve acesso, havia uma cópia de um currículo de Luiza no qual ela afirmava ter estudado na TASIS (sigla em inglês para Escola Americana na Suíça) entre julho de 2012 e julho de 2013.

Segundo ranking elaborado pelo jornal britânico "The Independent", a TASIS é uma das dez escolas mais caras do mundo. As taxas para alunos em esquema de internato custam cerca de R$ 310 mil anuais.

Operação Efeito Dominó - Divulgação/PF - Divulgação/PF
Dinheiro apreendido em Recife
Imagem: Divulgação/PF

Mais tarde, a PF também constatou que um dos filhos de Ceará, Alderedo da Rocha Machado Neto, estudou na mesma escola em período semelhante: entre os anos de 2012 e 2013.

Postagens no site oficial da escola indicam que Alderedo Neto era ativo em competições de natação e lacrosse, uma esporte semelhante ao hóquei na grama bastante praticado na Europa.

A PF diz acreditar que os indícios de que Luiza e Alderedo Neto terem estudado na mesma escola ao mesmo tempo não são "coincidência".

"Infere-se que há probabilidade de Alderedo e Luiza terem estudado na mesma escola na Suíça e ao mesmo tempo, não sendo apenas uma coincidência", diz um documento elaborado pelo GISE (Grupo de Investigações Sensíveis) da PF de Londrina obtido pela reportagem.

Outro lado

Procurado, o advogado de Cabeça Branca, Fábio Ricardo Mendes Figueiredo, confirmou que Luiza estudou na Suíça, mas disse não ter conhecimento sobre se Alderedo Neto também teria frequentado o local ao mesmo tempo.

Figueiredo afirmou que Luiza, que é estudante de direito, não tem nenhum envolvimento nas atividades desempenhadas por Cabeça Branca. “O Luiz Carlos nunca envolveu nenhum de seus filhos, especialmente a Luiza, em nenhum dos seus negócios”, disse o advogado.

Figueiredo disse também não ter conhecimento sobre de que forma Cabeça Branca fez o pagamento das despesas da escola onde Luiza estudou.

A reportagem também tentou contatar a defesa de Carlos Alexandre Souza Rocha, o Ceará, para fazer questionamentos sobre o filho dele, Alderedo Neto. Inicialmente, a reportagem foi informada que Ceará seria defendido por um(a) defensor(a) público(a) da União. Posteriormente, a assessoria de comunicação da DPU (Defensoria Pública da União), informou que o órgão ainda não está formalmente atuando na defesa do doleiro e que, por essa razão, não poderia responder aos questionamentos da reportagem.