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Marielle tornou relacionamento público como forma de luta LGBT, diz viúva

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

12/06/2018 16h52

Dar visibilidade ao próprio relacionamento homossexual foi a principal maneira de a vereadora Marielle Franco (PSOL) militar na causa LGBT durante os 13 meses de seu único mandato na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. A afirmação é da arquiteta Mônica Benício, 32, com quem a parlamentar viveu um relacionamento durante 13 anos. Hoje, o assassinato de Marielle e do motorista dela, Anderson Gomes, completa 90 dias sem elucidação.

A declaração da viúva da vereadora consta em vídeo publicado nesta terça-feira (12), Dia dos Namorados no Brasil, pela ONG Anistia Internacional. Além do vídeo, Mônica escreveu uma carta, em razão da data, publicada na íntegra no site da entidade e em trechos no jornal "O Globo".

No vídeo alusivo à data, Mônica, que se apresenta como “cria da Maré e militante de direitos humanos desde os 17 anos”, conta que a companheira, com quem teve idas e vindas, não apenas adotava a bandeira LGBT nas causas do Parlamento, como fazia questão de não esconder o relacionamento de ambas como forma de “reforçar que isso era um amor que era legítimo, que era feliz, que as nossas famílias existem”.

“Acho que essa era a principal forma de ela lutar dentro dessa causa. Então era todo dia era um dia de levantar e dia de resistência”, contou. E admitiu: “A gente tinha uma certa resistência a tornar o relacionamento público, mas ela era muito maravilhosa em relação a isso --por ela, tinha fotinha todos os dias”, definiu.

A arquiteta lembrou a ocasião em que a Câmara vetou, por uma diferença de dois votos, projeto de de lei de autoria de Marielle sobre o dia da visibilidade lésbica. Ela contou que esse foi “um dos dias mais dolorosos dessa trajetória”.

“O projeto foi rejeitado por dois votos e sua frustração foi muito grande. Este era um debate que tocava pessoalmente Marielle: era uma expressão clara da negação de sua vida pessoal, da negação ao nosso amor”, escreveu. “Profundamente abalada, foi ao banheiro me ligar e chorou ao relatar o veto ao projeto. Como sempre fazíamos, nos tranquilizamos e nos fortalecemos”, relatou.

No vídeo, a arquiteta também agradeceu as manifestações de apoio desde a morte de Marielle e afirmou que a mobilização tem ajudado a pressionar as investigações e cobrar justiça. “Isso que faz com que eu levante de manhã, que dê algum sentido: saber que existe toda essa rede de afeto mundial”.

Recentemente, Mônica participou de dois eventos do calendário LGBT em São Paulo --a marcha das mulheres lésbicas e bissexuais e a Parada do Orgulho LGTBI, onde ela enfatizou que eventos do tipo representam “um ato de resistência”, tendo em vista que o Brasil é um dos países que mais mata a população LGBT.

Investigações

A polícia ainda não conseguiu identificar os autores e o possível mandante do crime, mas a principal linha de investigação aponta para o envolvimento de milicianos. No último dia 5, a Delegacia de Homicídios do Rio fez buscas na casa do ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, acusado de liderar uma milícia e um dos investigados pela morte da vereadora.

O ex-PM nega participação no crime. A acusação contra ele foi feita por um policial militar que durante anos trabalhou com Curicica. Segundo a mesma testemunha, o miliciano teria agido em conluio com o vereador Marcello Siciliano (PHS), que também nega qualquer envolvimento no crime.