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PMs acusados de matar estudante com taco de madeira em SP vão a júri popular

Gabriel Paiva, 16 anos, morto após ter sido espancado na zona sul de SP, em abril - Arquivo Pessoal
Gabriel Paiva, 16 anos, morto após ter sido espancado na zona sul de SP, em abril Imagem: Arquivo Pessoal

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

19/07/2018 09h37Atualizada em 19/07/2018 11h53

Dois policiais militares de São Paulo, presos preventivamente desde julho de 2017, vão a júri popular sob acusação, do Ministério Público, de terem praticado homicídio contra um jovem de 16 anos em abril do ano passado na Cidade Ademar, zona sul da capital. A data do júri ainda não foi definida e a defesa dos PMs pode recorrer. 

O estudante Gabriel Alberto Tadeu Paiva, 16, morreu em 20 de abril do ano passado. A investigação aponta que ele foi agredido na cabeça com um taco de madeira na Cidade Ademar, onde morava com a família. Segundo denúncia da promotoria, os PMs Jefferson Alves de Souza e Thiago Quintino Meche praticaram o crime.

Os militares sempre negaram a autoria. Em depoimento à Polícia Civil, à época, os policiais militares, que estavam lotados no batalhão do Jardim Marajoara, zona sul, afirmaram que, quando encontraram o adolescente ele já estava caído no chão.

A decisão de levar os policiais a júri, da juíza Renata Carolina Casimiro Braga, ocorreu após a Justiça de SP ter recebido a denúncia e realizado audiências para ouvir as testemunhas de acusação, de defesa e os acusados.

De acordo com a juíza, há indícios de que os PMs sejam coautores ou, ao menos, participantes de um crime de homicídio doloso praticado contra o estudante. "Existem elementos suficientes para a pronúncia dos acusados, sendo melhor deixar ao Tribunal do Júri para que conheça com mais profundidade todas as teses sustentadas pelas combativas defesas e julgue o crime que é de sua competência", pontuou.

"[PMs] conseguiram o que queriam", diz mãe

Segundo familiares, Gabriel Paiva estava reunido com amigos na rua, na noite de 16 de abril, um domingo. Em um dos carros, se ouvia funk. De acordo com testemunhas que prestaram depoimento à Polícia Civil, quatro PMs ameaçaram os jovens, um deles com um de taco de madeira, para dispersá-los. Após a agressão, Paiva foi internado em coma induzido com um coágulo no cérebro. Ele morreu quatro dias depois.

A comerciante Zilda de Paiva, mãe de Gabriel, afirmou à reportagem que ouviu das testemunhas que a intenção dos PMs era clara: "Queriam matar meu filho. Espancaram para matar. Conseguiram o que queriam".

Um familiar da vítima, que estava na ocorrência e que pediu para não ser identificado, afirmou que, assim que os PMs chegaram, todos os amigos correram. "Ele ficou para trás. Um dos policiais pegou, bateu na cabeça dele com a madeira. Com a pancada, ele bateu a nuca na caçamba de lixo e caiu", disse.

De acordo com o delegado Pedro Luis de Souza, que investigou o caso no 80º DP (Distrito Policial), na Vila Joaniza, quem teria agredido o jovem é o PM Jefferson de Souza, já conhecido pelos moradores da região por abordar jovens em bailes funk com um pedaço de madeira. A reportagem apurou que o delegado foi transferido da delegacia para o Departamento de Capturas após um incidente entre PMs e policiais civis que estavam sob sua responsabilidade.

O advogado Ariel de Castro Alves, que acompanha o caso através do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), afirmou que "conforme as apurações, policiais que deveriam proteger a sociedade, teriam agido com extrema crueldade e violência, ocasionado a morte do jovem, conforme demonstraram as provas presentes no Inquérito Policial e no Processo".

Em nota, o TJ (Tribunal de Justiça) informou que os "réus foram pronunciados por homicídio qualificado, em sentença do dia 6 de julho. Com isso, ambos serão submetidos a julgamento perante o Tribunal do Júri, ainda sem data marcada. A juíza manteve a prisão dos acusados, que não poderão recorrer em liberdade".

PMs dizem que viram Gabriel já caído

Segundo os PMs, em depoimento colhido na delegacia da Vila Joaniza, à época, ocorria um baile funk na região e a população acionou a polícia para dispersar os jovens. Em dado momento, uma mulher os avisou que Gabriel estava machucado e caído no chão. De acordo com os policiais, eles socorreram o adolescente assim que viram ele caído.