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Traficante ligado ao PCC fez depósitos para empresa suspeita de repassar propina a políticos

Luiz Carlos da Rocha mudou de visual várias vezes para fugir da polícia  - Divulgação/PF
Luiz Carlos da Rocha mudou de visual várias vezes para fugir da polícia Imagem: Divulgação/PF

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

20/08/2018 04h00

A PF (Polícia Federal) no Paraná constatou que uma empresa suspeita de distribuir propinas a políticos recebeu, em 2016, pelo menos R$ 283 mil em depósitos feitos a pedido do narcotraficante Luiz Carlos da Rocha, conhecido como o “embaixador do tráfico” e "cabeça branca".   

Luiz Carlos da Rocha é apontado como um dos maiores fornecedores de drogas para facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho). 

A empresa investigada pela PF é a Fama Serviços Administrativos. A Polícia Federal e o Ministério Público a investigam, por motivos diferentes, no Paraná e em Mato Grosso. Neste último, as investigações conduzidas pelo MPMT (Ministério Público local) apuram se a empresa era usada como distribuidora de propina a políticos do estado.

No Paraná, a PF e o MPF (Ministério Público Federal) querem descobrir o que levou Rocha a ordenar os depósitos na conta da empresa e saber se os sócios da Fama conheciam a origem do dinheiro do traficante.

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Ligação com o "embaixador do tráfico"

Os policiais federais chegaram à Fama após a deflagração das operações Spectrum e Efeito Dominó, conduzidas pelo Gise (Grupo de Investigações Sensíveis) da PF em Londrina, no Paraná.

Em julho de 2017, a Operação Spectrum resultou na prisão de Rocha em Sorriso (MT), onde ele vivia disfarçado como fazendeiro. Em maio deste ano, a Operação Efeito Dominó prendeu doleiros utilizados por Rocha para lavar o dinheiro do tráfico. Entre os presos está o doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará. 

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Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, fez depósitos para empresa suspeita
Imagem: TV Folha

Na ocasião, o delegado responsável pela operação, Roberto Biasolli, disse que havia indícios claros de que dinheiro do tráfico de drogas pode ter sido utilizado para pagar propina a políticos. Isso porque traficantes e políticos corruptos, segundo ele, utilizavam os mesmos doleiros. 

Ao verificar telefones celulares apreendidos nas duas operações, os peritos da PF encontraram 13 depósitos feitos por Ceará a pedido de Rocha em uma das contas da Fama. 

O MPF e a PF apuram se os sócios da Fama eram apenas “laranjas” no esquema de lavagem de dinheiro de Luiz Carlos da Rocha ou se tinham envolvimento mais profundo na quadrilha do narcotraficante.

Por telefone, Mauro Laurindo da Silva, atual sócio da empresa, confirmou ao UOL que a conta que recebeu os depósitos ordenados por Luiz Carlos da Rocha é, de fato, da Fama. 

“Não conheço esses depósitos, nem essas pessoas. Nunca tive negócio nenhum com eles”, disse Laurindo.

O advogado de Luiz Carlos da Rocha, Fábio Ricardo Mendes Figueiredo, disse não ter conhecimento do vínculo entre seu cliente e a empresa Fama. 

"Não sei sobre essa ligação e não tenho informações sobre esses depósitos", afirmou. 

A reportagem não conseguiu contatar a defesa do doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará. 

MP investiga cheques na conta da empresa

A ligação da empresa com o mundo político é investigada por autoridades de Mato Grosso.

No início deste ano, a Operação Bereré, do MPMT, revelou que políticos do estado estariam recebendo propina de um esquema que desviava recursos do Detran (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso).

O dinheiro era desviado do Detran por meio de contratos fictícios entre uma empresa contratada pelo órgão e empresas de fachada, que depois fariam os repasses aos parlamentares.

A operação constatou que dois cheques que totalizam R$ 30 mil de um dos principais operadores do esquema foram parar na conta da Fama. 

O MPMT informou que uma investigação foi aberta para saber qual a natureza desse pagamento, mas que o caso ainda está em curso. 

Mauro Laurindo negou que sua empresa tenha recebido dinheiro do esquema investigado pela Operação Bereré. "Não temos relação nenhuma com esse caso. Tudo está sendo esclarecido às autoridades", disse.