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Mecânico preso suspeito de atirar em PM estava no trabalho na hora do crime, afirma chefe

Luiz Felipe Neves foi preso suspeito de atirar em PM na Cidade de Deus, no RJ - Arquivo Pessoal
Luiz Felipe Neves foi preso suspeito de atirar em PM na Cidade de Deus, no RJ Imagem: Arquivo Pessoal

Olga Bagatini

Colaboração para o UOL

02/10/2018 17h04

O mecânico Luiz Felipe Neves Gustavo foi preso na última segunda-feira (24) por suposto envolvimento em tiroteio de traficantes contra policiais na comunidade da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. O confronto ocorreu no meio da tarde de 1º de agosto de 2017, e um sargento da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) acabou baleado no joelho. Porém, de acordo com o sistema de ponto eletrônico da oficina de instalação de gás natural veicular (GNV) em que Luiz Felipe trabalhava, ele não poderia ter estado no local do crime, já que passou o dia todo no trabalho, em Jacarepaguá.

O sistema é feito por identificação da biometria e mostra que o homem chegou à oficina às 8h41, saiu para almoçar às 12h12, voltou às 13h11 e só foi embora às 18h10. Ao UOL, o advogado Maycon Morais explica que o mecânico sequer sabia da ocorrência do processo criminal em seu nome. "Um colega foi checar uma informação de um processo trabalhista do Luiz Felipe e descobriu que havia esse processo criminal, aí ele entrou em contato comigo", explica Maycon.

À época, foi aberto um inquérito pelo Ministério Público, mas os policiais afirmaram que não era possível reconhecer ninguém por conta da adrenalina do momento e porque os criminosos usavam capuzes. Dois meses depois, contudo, Luiz Felipe teria sido reconhecido como um dos envolvidos por meio de fotografias e teve seu nome incluído na denúncia. Outros nove acusados foram denunciados, sendo que três deles são irmãos do mecânico, moram na Cidade de Deus e têm passagens pela polícia por tráfico de drogas.

Luiz Felipe teve a prisão decretada pela Justiça em março desde ano, mas, sem saber que estava foragido, seguiu a vida normalmente. Quatro dias depois que o advogado anexou a folha de ponto e a o registro de trabalho ao processo, autoridades apareceram na oficina e efetuaram a prisão, segundo Maycon.

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"Ele não ia fugir nem se esconder, até porque não fez nada de errado", afirma o advogado, que já entrou com pedido de revogação da prisão e aguarda a análise da Justiça, que tem até 15 dias para responder. "Ele não mora na favela desde 2016, casou-se, teve filho e foi morar em outro bairro com a mulher. Não tinha nenhuma relação com os irmãos e não tinha antecedentes, até a polícia confirma isso."

Grávida de seis meses e com um filho pequeno, a mulher do acusado, Vivian dos Santos Cabral, está desempregada e conta com a renda do marido na oficina para sustentar a casa. "É difícil porque é uma injustiça, a gente fica com sentimento de impotência. Não consegui ter contato com ele na prisão, não consegui nem mandar uma roupa para ele. Ele é um pai presente, um marido presente. O clima está horrível", afirma Vivian.

Por enquanto, o único contato entre o casal é por meio do advogado. Para visitá-lo no presídio Ary Franco, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ela precisa esperar a emissão de uma carteirinha que leva de 15 a 30 dias para ser entregue. "Minha esperança é não ter que esperar tanto assim. Estamos muito confiantes e correndo atrás para ele não ficar tanto tempo preso."