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Crime organizado e ciberespaço são principais ameaças, diz diretor da Abin

28.nov.2018 - Janér Tesch Hosken Alvarenga, diretor-geral da Abin - Reprodução/Câmara dos Deputados
28.nov.2018 - Janér Tesch Hosken Alvarenga, diretor-geral da Abin Imagem: Reprodução/Câmara dos Deputados

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

28/11/2018 15h01Atualizada em 28/11/2018 15h05

O poder das facções criminosas brasileiras e as ameaças reais no ciberespaço são considerados pelo diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Janér Tesch Hosken Alvarenga, como as principais ameaças ao território nacional. No cargo desde que foi nomeado pelo presidente Michel Temer, em setembro de 2016, Alvarenga participou de uma audiência pública da comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (28).

Alvarenga falou a deputados, numa mesa presidida por Nilson Pinto (PSDB-PA), durante duas horas. Ele explicou o papel da Abin no cenário nacional, evitou polêmicas e apenas citou conclusões técnicas, sem entrar em aspectos políticos.

Alvarenga afirmou que a agência tem como objetivo prevenir, através de inteligência, qualquer ameaça ao estado brasileiro, mas disse que o órgão não tem poder de polícia e, por isso, não pode agir como tal.

Segundo o diretor da Abin, a principal ameaça é a do crime organizado, a partir da facções que controlam o tráfico de drogas e de armas e que tem se expandido a todo o território nacional, além de outros países. Depois, o ciberespaço, que inclui ataques por meio da internet e divulgações de fake news que movem e influenciam a sociedade.

O UOL revelou, em agosto, um estudo do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) que apontava o mapa das facções criminosas do país. O PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior do Brasil, tem ao menos 10 facções inimigas, e 14 aliadas.

"O crime organizado, hoje, é, se eu alinhar ele às ameaças do ciberespaço, as duas principais ameaças ao estado brasileiro. Houve avanço da criminalidade no país, e uma mudança de perfil, que permitiu uma questão transnacional de uma organização que até pouco tempo atrás era doméstica", afirmou Alvarenga.

Segundo o diretor da Abin, Temer coordenou, no âmbito do conselho superior do sistema brasileiro de inteligência, seis reuniões desde fevereiro deste ano.

"Reuniões que deram a organizações de estado um mecanismo de consultas no sentido do estabelecimento mais pró-ativo e de uma organização mais agrupada de diversos órgãos públicos que tinham responsabilidades dedicadas aos conceitos de inteligência, polícia e questão social. Isso significou agrupar esforços de competências mais assertivas monitorados por um conjunto de ministros", explicou Alvarenga. Sem apresentar números, o diretor afirmou que a medida apresentou bons resultados.

Narcotráfico, tráfico de armas e lavagem de dinheiro, segundo Alvarenga, "fortalecem as organizações criminosas e potencializam crises de segurança pública".

"Por essa razão, a agência monitora organizações nacionais e estrangeiras que atuam no mercado global do crime", disse. Segundo ele, é necessário compreender o cenário do Brasil nas práticas ilícitas que ocorrem ao redor do mundo porque é dessa maneira que as grandes facções se posicionam.

"O crime organizado se origina muito fora do limite político. Se utilizam da geografia mundial, redes de comunicações, entre organizações do mundo, para fazer com que sua presença esteja em todo mundo. A organização brasileira, com maior presença em São Paulo [o PCC], cujas práticas alcançaram limites extraterritório nacional revela que o mundo está procurando se adaptar", afirmou o diretor da Abin.

O diretor apontou aos deputados que o Brasil não é produtor de drogas, mas faz divisa com os maiores produtores de cocaína. "Tive a oportunidade de acompanhar ministros em reuniões com países como Argentina, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Guiana e Suriname, com a possibilidade de ampliar a dinâmica de relacionamento, passando percepções mais estratégicas".

Ele também afirmou que há sequentes quebras de recordes de apreensões de drogas e de armas, mas sem apresentar números. "Nunca se apreendeu tanto fuzil. O criminoso considerado comum está roubando celular de fuzil. O acesso é cada vez mais crescente", disse. "Mas quero dizer que o problema não é brasileiro ou de qualquer país vizinho, é mundial. E na medida que regionalmente nós conseguimos nos fortalecer, os sistemas de prevenção oferecerão direcionamentos mais preciso", complementou.

28.nov.2018 - Janér Tesch Hosken Alvarenga, diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) - Reprodução/Câmara dos Deputados - Reprodução/Câmara dos Deputados
Janér Tesch Hosken Alvarenga falou por duas horas a deputados federais
Imagem: Reprodução/Câmara dos Deputados

Além disso, o problema ciberespacial fez com que, por exemplo, membros da Abin e da presidência, utilizassem aparelhos telefônicos produzidos no país e criptografados. "O nosso WhatsApp tem todas as funcionalidades, mas eu não tenho o depósito das informações no Google. Tem gente que tira foto, viaja e o celular funciona em outro país. Daqui a pouco, aparece no seu telefone: um ano atrás, você estava no Rio de Janeiro etc. Google trouxe isso por inteligencia artificial. Na rede de governo, criamos um sistema para tentar proteger a interferência externa", explicou.

A ameaça tecnológica não ocorre só em possíveis invasões pessoais. Se dá, também, por dificultar investigações. O diretor citou a greve dos caminhoneiros ocorrida neste ano, por exemplo. "A gente recebia um áudio dizendo que um trecho específico da BR estava parado e que os caminhoneiros estavam barrando todo mundo. A gente checava e aquele trecho estava livre, mas as mensagens se expandiam, fazendo com que muitos acreditassem e também parassem e barrassem rodovias, por exemplo", citou.

Nomeado pelo presidente, Alvarenga não sabe se continuará no cargo a partir do ano que vem. "Principal tomador de decisão é o presidente da república", disse. Mas, ao finalizar sua exposição na audiência pública, afirmou que a Abin "trabalha diuturnamente para consolidar a democracia e os valores presentes nos conceitos de prosperidade e segurança".