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Pontes, banco e central elétrica: número de ataques no Ceará passa de 100

Bombeiro tenta conter incêndio em imóvel do Sistema Nacional de Emprego, que servia de arquivo no bairro Barra do Ceará, periferia de Fortaleza - 06.jan.2019 - Jarbas Oliveira/Folhapress
Bombeiro tenta conter incêndio em imóvel do Sistema Nacional de Emprego, que servia de arquivo no bairro Barra do Ceará, periferia de Fortaleza Imagem: 06.jan.2019 - Jarbas Oliveira/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

06/01/2019 13h54Atualizada em 06/01/2019 15h43

Criminosos atacaram um prédio do governo federal, uma estação de distribuição de energia elétrica e novamente tentaram destruir uma ponte, entre de outros alvos no Ceará, neste domingo (6). O número de ataques contabilizados no estado já passou de 100, segundo disseram ao UOL policiais ligados à investigação da onda de violência.

A crise começou na noite de quarta-feira (2). Ela foi desencadeada por ações conjuntas das três principais facções criminosas que atuam no estado, segundo a principal linha de investigação. Seus membros estariam descontentes com a disposição do novo governo estadual em fazer mudanças no sistema prisional. Um contingente de 300 agentes da Força Nacional foi enviado ao Ceará e começou a reforçar a segurança no sábado (5).

O número de ataques revelado pelos policiais não é confirmado oficialmente pela Secretaria da Segurança Pública. A pasta afirmou, porém, que ao menos 110 suspeitos de participar dos ataques foram presos. Desse total, 76 são adultos e 34 adolescentes. 

Neste domingo (6), o número de ataques diminuiu em relação a dias anteriores, segundo a polícia. O órgão não divulgou, porém, dados específicos sobre o número diário de ocorrências.

Contudo, as ações mais recentes dos criminosos são consideradas mais "ousadas" pelas autoridades públicas. 

No início dos ataques predominavam incêndios a ônibus, veículos particulares, depredação de prédios públicos e estabelecimentos comerciais. A ação mais grave ocorreu quando criminosos tentaram derrubar um viaduto na BR-020, explodindo uma coluna de sustentação na quinta-feira (3). Ele não chegou a cair, mas foi interditado por segurança.

Neste domingo, criminosos fizeram ataque similar com explosivos: o alvo foi uma ponte que fica sobre o rio Jaguaripe, no município de Tabuleiro do Norte. A construção sofreu avarias, mas também não desabou. O governo não divulgou se ela foi interditada.

Ataques a pontes e viadutos eram prometidos por criminosos, segundo bilhetes trocados entre eles e sob posse e análise da polícia. Os criminosos disseram que poderiam atacar até 20 pontes.

O ataque ao primeiro viaduto, ocorrido no dia 3, provocou uma reação do presidente Jair Bolsonaro no Twitter.

Segundo mensagens de criminosos interceptadas pela polícia, a primeira ação contra viaduto poderia ser entendida apenas como um aviso. "Não queremos ser oprimidos dentro do sistema. Desta vez, demos um pequeno arranhão numa coluna do viaduto. Na próxima vez, iremos derrubar". 

Novos alvos

De acordo com a Polícia Civil, outros alvos atacados neste domingo (6) foram a sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, uma subestação da Enel (uma central elétrica), uma agência bancária e o estacionamento da prefeitura do município de Jericoacoara.

Em um dos ataques, criminosos tentaram incendiar um posto de atendimento do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) no bairro Granja Portugal. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, dois deles foram mortos em uma troca de tiros com a Polícia Militar durante a ação.

Foram apreendidos um revólver, combustível e coquetéis molotov. Um policial ficou ferido em uma mão.    

Em vídeo publicado nas redes sociais na tarde de sábado (5), o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou que a onda de ataques tem como objetivo fazer com que o governo recue de medidas "duras e necessárias" que tem adotado. "O que não há nenhuma possibilidade de acontecer. Pelo contrário: endureceremos cada vez mais contra o crime", afirmou.

Endureceremos cada vez mais contra o crime, diz governador do Ceará

UOL Notícias

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que realiza blitze em pontos estratégicos da capital Fortaleza e que policiais estão viajando em ônibus municipais para evitar que sejam atacados. "Após o início da operação realizada pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), no interior dos coletivos na Grande Fortaleza, nenhum ônibus foi incendiado na Capital e Região Metropolitana desde o início da noite de sexta-feira", informou, em nota oficial, a secretaria.

De acordo com a secretaria, o policiamento também está reforçado nos terminais de ônibus e nos principais corredores comerciais e bancários. De 1.810 ônibus urbanos e 350 ônibus metropolitanos, apenas 108 estão operando neste domingo (6). O mesmo ocorreu ontem. Em cada um deles, há três policiais de prontidão. 

Ataques e possível motivação

Luís Mauro Albuquerque, secretário da Administração Penitenciária do Ceará - Divulgação/Sejuc - Divulgação/Sejuc
Luís Mauro Albuquerque, secretário da Administração Penitenciária do Ceará
Imagem: Divulgação/Sejuc

Segundo investigações em andamento, os ataques estariam sendo realizados por criminosos organizados. As três facções que atuam no Ceará --PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e GDE (Guardiões do Estado)-- teriam se unido com o objetivo de retaliar declarações do secretário da Administração Penitenciária estadual recém-empossado, Luis Mauro Albuquerque. A reportagem solicitou entrevista com o secretário, mas ele não retornou o pedido até esta publicação.

O secretário afirmou durante sua posse não reconhecer o poder das facções no estado e disse que o Ceará passaria a deixar de dividir presos de facções rivais em unidades prisionais diferentes. A divisão é feita em diversos estados para evitar confrontos e mortes dentro de estabelecimentos prisionais, mas as facções acabam dominando as unidades onde são maioria.

Desde quinta-feira (3), 113 homens presos em uma penitenciária do estado onde predominam membros do PCC foram indiciados por desobediência, resistência e motim, sob a suspeita de terem ligação direta com os ataques ocorridos em Fortaleza e região metropolitana. Segundo autoridades locais, mais de 250 detentos devem ser autuados por envolvimento nos ataques recentes até os próximos dias.