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Geólogo: MG teve tremores nos últimos dias, mas barragem deveria resistir

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

25/01/2019 21h09

Uma combinação de pequenos tremores de terra e problemas na conservação das barragens pode ter sido a raiz do desastre que atingiu Brumadinho (a 60 km de Belo Horizonte) nesta sexta-feira (25). A hipótese é do diretor da Sociedade Brasileira de Geologia, Fábio Braz Machado.

"A região de Minas Gerais estava tendo [nos últimos dias] pequenos tremores entre a ordem de 2 e 3 na escala Richter", afirma Machado ao UOL. Ele ainda não teve acesso à atividade sismográfica da região hoje, mas diz que as atividades sísmicas costumam reverberar nos dias seguintes.

"São pequenos tremores que, dentro de uma situação de fratura pré-existente, podem ter desencadeado a queda da barragem", diz.

Mapa Brumadinho  - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL
Em outras palavras, pequenos tremores não causariam o rompimento se as barragens estivessem em perfeitas condições, segundo o pesquisador.

Em entrevista na noite desta sexta-feira, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse que a empresa ainda não sabe as causas do rompimento da estrutura, que tem capacidade de 12 milhões de metros cúbicos de material.

Corriqueiro

Eventos sísmicos muitas vezes não são perceptíveis, mas acontecem com frequência no Brasil, diz o professor.

Para Machado, a fundação da barragem -- estrutura responsável por suportar os depósitos de rejeitos de minério -- tem de ser pensada de forma minuciosa para que esses pequenos tremores não desencadeiem um desabamento.

"A fundação não pode estar em áreas de risco, ela é um dos fatores mais importantes para evitar o desabamento. Ela não pode ser precária, rasa, tem de pegar rochas compactas para não ser vítima desses fenômenos naturais", explica Machado.

Outro ponto importante das barragens são as ombreiras -- ponto crucial que levou à queda da barragem do Fundão, em Bento Rodrigues, há pouco mais de três anos.

As ombreiras são as superfícies laterais da montanha de rejeitos.

"São as áreas da barragem onde se recebe maior pressão, a maior força desse rejeito que é jogado lá", diz Machado.

Como a fundação, as ombreiras também são extremamente sensíveis e não podem apresentar fissuras, nem desgaste.

"Imagine uma peneira, você coloca uma quantidade grande de farinha nesta peneira e vai dando umas batidas na lateral para ela passar pelos buracos. É isso que acontece quando se tem uma fenda ou rachadura, e se transforma num processo chamado liquefação", argumenta. 

Relatório não aponta risco

barragem da mineradora Vale que se rompeu na cidade de Brumadinho (MG) no final da manhã desta sexta-feira (25) não estava em situação de risco, de acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas). Outras duas barragens também se romperam com o deslizamento da lama.

Em um comunicado divulgado nesta noite, a ANA informou que a barragem não foi classificada como "crítica" pela ANM (Agência Nacional de Mineração), responsável pelas informações das barragens de rejeito de minério, para a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens 2017.

O documento é consolidado pela ANA a partir de informações disponibilizadas pelos órgãos responsáveis pela fiscalização de barragens, a depender de seu tipo de uso (produção de energia elétrica, contenção de rejeitos de mineração ou usos múltiplos da água).

A queda

Três barragens de rejeitos da empresa mineradora Vale foram afetadas na tarde desta sexta-feira (25) na cidade de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais estima que cerca de 200 pessoas possam estar desaparecidas. 

O cálculo coincide com os números divulgados pela Vale. Segundo a mineradora, cerca de 300 funcionários estavam no local no momento da queda, mas 100 já foram contatados. 

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado, o geólogo Fábio Braz Machado é diretor técnico da Sociedade Brasileira de Geologia. O erro já foi corrigido.