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Ministro do STF provoca Damares e diz que biologia não determina gênero

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

14/02/2019 15h51Atualizada em 15/02/2019 12h55

Relator de uma das ações que pedem a criminalização da homofobia, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello afirmou em julgamento hoje que a "heteronormatividade" restringe os direitos da população LGBT e citou, em tom crítico, a frase da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, de que "menino veste azul e menina veste rosa".

A sessão desta quinta foi encerrada sem o ministro terminar seu voto, que será retomado na próxima quarta. Hoje, Celso de Mello fez uma defesa dos direitos dos homossexuais e transexuais.

"Essa visão de mundo, fundada na ideia artificialmente construída de que as diferenças biológicas entre o homem e a mulher devem determinar os seus papéis sociais --meninos vestem azul e meninas vestem rosa-- essa concepção de mundo impõe, notadamente em face dos integrantes da comunidade LGBT, uma inaceitável restrição às suas liberdades fundamentais, submetendo tais pessoas a um padrão existencial heteronormativo incompatível com a diversidade e o pluralismo que caracterizam uma sociedade democrática", disse o ministro.

Para exemplificar seu pensamento, Celso de Mello citou a frase da filósofa feminista francesa Simone de Beauvoir de que "ninguém nasce mulher, torna-se mulher".

A frase de Damares foi registrada em vídeo durante comemoração pouco depois de tomar posse no cargo. na imagem, a ministra aparece dizendo: "Atenção, atenção. É uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa".

Em outro ponto de seu voto, Celso de Mello criticou o uso da expressão "ideologia de gênero", termo usado por segmentos religiosos para criticar a ideia da livre orientação sexual, em contraponto à ideia defendida por esses segmentos de que o sexo biológico deve determinar o gênero e a orientação sexual.

Cabe destacar que se algo aqui é ideológico, no sentido pejorativo, é a tese que defende que as pessoas nascem heterossexuais e cis-gêneras [pessoas cujo sexo biológico corresponde à identidade de gênero] e que por orientação sexual posteriormente passam a escolher alguma orientação sexual não heterossexual

Celso de Mello, ministro do STF

Menino veste azul e menina veste rosa, diz ministra Damares

UOL Notícias

Celso de Mello é o primeiro ministro a votar hoje, quando o STF julga duas ações que pedem a criminalização da homofobia e da transfobia, que são caracterizadas por ofensas, agressões ou atos de preconceito contra as pessoas LGBT. O ministro não concluiu seu voto e ainda não é possível saber se ele vai deferir o pedido.

As ações foram apresentadas pelo PPS (Partido Popular Socialista) e pela ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros). Celso de Mello é relator de um dos processos e o ministro Edson Fachin, do outro.

O crime de homofobia não está previsto na legislação penal brasileira. Nos casos envolvendo agressões motivadas por preconceito contra a população LGBT, a conduta é tratada como lesão corporal, tentativa de homicídio ou ofensa moral.

As ações afirmam que a discriminação hoje existente na sociedade tem impedido a população LGBT de viver livremente os exercícios de todos os seus direitos.

O que pode acontecer

  • Supremo pode determinar que o Congresso Nacional crie uma lei tornando crimes atos de homofobia. A definição de quais atos seriam crime e qual a pena a ser aplicada seriam estabelecidas pelo Congresso
  • STF também pode decidir aplicar uma regra provisória para que a homofobia já seja considerada crime mesmo antes de haver lei aprovada pelo Congresso
  • As ações pedem ainda que seja aplicada a Lei de Racismo para punir os crimes praticados com base em preconceito contra homossexuais e transexuais

Celso de Mello diz que voto provocará crítica de 'intolerantes'

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