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Homem diz que foi torturado para assumir homicídio; vítima aparece viva

Pauline Almeida

Colaboração para o UOL, no Rio

28/02/2019 21h31

Suspeito de matar um homem a mando do Primeiro Comando da Capital (PCC), Fábio Araújo dos Santos, 21, foi preso em Ribas do Rio Pardo, a 100 quilômetros de Campo Grande (MS). Nove dias depois, a suposta vítima apareceu viva e teve início uma briga de versões.

Detido durante dez dias, Santos sustenta que foi torturado por policiais para confessar a autoria do homicídio que nunca aconteceu. O delegado Bruno Santacatharina rebate que é alvo de calúnia.

Segundo o delegado, a história teve início no mês de janeiro deste ano, quando um homem que havia denunciado um ponto de venda de drogas desapareceu. 

Três testemunhas depuseram que o desaparecido teria sido morto por Fábio Araújo dos Santos, apontado como "disciplinador geral do PCC" na cidade, em retaliação.

"Muitas outras não quiseram depor no papel por medo", afirmou.

Com base no que chama de provas testemunhais, Bruno Santacatharina pediu a prisão temporária de Santos, autorizada pela Justiça e cumprida em 16 de fevereiro. 

Tortura ou calúnia?

Fábio Araújo dos Santos diz que estava em casa quando foi levado para a delegacia. "Eles perguntavam para mim onde estava o corpo. Eu perguntava: que corpo?", relata.

Segundo o rapaz, na primeira noite na cadeia, ele teria levado um tapa de um policial. E dois dias depois, teria começado a tortura, quando foi levado para uma sala nos fundos da delegacia.

"Eles me afogaram, colocaram saco preto na cabeça", relatou à reportagem do UOL.

Para que as agressões parassem, Fábio diz que confessou o que os policiais queriam. Ameaçado, segundo ele, gravou um vídeo em que admite o homicídio no suposto local onde teria abandonado o cadáver inexistente.

"Os policiais ameaçaram que iriam me matar no brejo e falar que eu tinha trocado tiro com eles, alegar legítima defesa", relatou.

O delegado Bruno Santacatharina contesta as declarações do suspeito.

"Se a polícia fosse torturar, não se utilizaria dos caminhos legais", argumentou.

Ainda defendeu que o preso passou pelo exame de corpo de delito sem apresentar qualquer marca de violência. 

Sobre o vídeo em que Fábio declara ter matado o desaparecido com três facadas e lançado o corpo no brejo, o delegado admite que gravar presos não é comum. Diz que decidiu fazer o vídeo para fortalecer o inquérito. 

"Pelo semblante, pela frieza, riqueza de detalhes, gesticulação, é incompatível com uma pessoa que alega ser torturada, coagida", defendeu.

O delegado ainda diz que Fábio Araújo dos Santos, sem passagens pela polícia, é integrante do PCC. O policial diz que Fábio não matou a vítima, mas mentiu sobre o assassinato para evitar problemas com a facção.

De acordo com Santhacarina, o desaparecido confirmou que houve uma ordem do Primeiro Comando da Capital para que fosse morto.

Do outro lado, Fábio Araújo dos Santos, que trabalhava como auxiliar de cozinha, rebate que possui ficha limpa e teve a imagem destruída junto na cidade de aproximadamente 20 mil habitantes.

"As pessoas me veem como um criminoso pelo fato que ocorreu e eu quero mostrar para o povo que eu quero justiça, que não é isso que as pessoas estão falando de mim", defendeu.

O rapaz afirma que vai entrar na Justiça em busca dos supostos direitos violados e junta laudos médicos para provar as agressões. Ele diz que foi feito exame de corpo de delito na entrada da delegacia, não ao fim. 

O delegado informou que continua a investigação, agora sobre uma suposta acusação falsa de Santos e ainda por calúnia contra a Polícia Civil. "Não teve tortura, não tem cabimento, a gente seguiu os caminhos da lei", defende.