Topo

Caso Marielle: prisões são 1ª fase, diz delegado: "nada está encerrado"

Nathan Lopes e Luis Kawaguti

Do UOL, em São Paulo e no Rio

12/03/2019 12h23Atualizada em 12/03/2019 16h03

A Polícia Civil do Rio de Janeiro classificou os assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes como um "crime que foge à regra". O delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios, disse que as prisões dos suspeitos de serem o atirador e o motorista do veículo, efetuadas hoje, são apenas a "primeira fase" das investigações. Segundo ele, a motivação ainda não foi elucidada. "Nada está encerrado", disse o delegado.

"O inquérito mostrava que estávamos diante de um crime que foge à regra", complementou Lages. Para sustentar sua tese, o delegado citou fatos ligados aos assassinatos. Um deles é o de que os dois suspeitos presos hoje ficaram dentro do carro à espera de Marielle por duas horas. Os advogados dos dois presos negaram que ambos tiveram participação no crime (veja abaixo).

O fato de eles não terem deixado o veículo fez com que não se conseguissem testemunhas que identificassem os suspeitos, como acontece em "80% dos casos de homicídio", segundo o delegado. Além disso, o atirador, o policial militar reformado Ronnie Lessa, usava uma touca ninja. "[O caso] não seria solucionado por testemunha. Essa foi uma resposta simples, rápida", disse Lages.

O delegado afirmou que Lessa sempre foi um alvo de investigação devido ao seu perfil de policial reformado que passou pela Polícia Civil e foi do Bope. "Como ele, vários eram investigados". A partir disso, a polícia começou a investigar provas técnicas para associá-lo ao trajeto do carro e ao local do crime.

Giniton também cita que a cena do crime mostra que se tratou de algo diferente do normal. Para o delegado, ao notar os disparos em movimento, percebe-se a presença de "um atirador diferenciado".

As características do crime justificam as medidas sigilosas, segundo o delegado. "Sabíamos diante do que nós estávamos." Ele diz que 230 pessoas foram ouvidas para tentar esclarecer o crime, que foi investigado por 47 policiais.

Quem estava dentro do carro?

Segundo o delegado, uma análise inicial de imagens coletadas --câmeras de rua e circuito interno-- mostrava que havia um motorista, um carona e alguém no banco de trás. Uma segunda análise falava apenas de um motorista e de um atirador no banco de trás. "Se o terceiro estava no banco do carona ou não, ficará para segunda fase da investigação."

Uma nova etapa das investigações também deve apurar melhor o carro utilizado pelos suspeitos. O Cobalt branco era clonado, o que, segundo o delegado, requer uma outra apuração. "Só pra identificar que carro é esse." O verdadeiro carro estava em outro local no Rio. A proprietária, uma cuidadora, estava trabalhando na noite de 14 de março. Dados do GPS apontam que esse veículo estava estacionado no instante do crime.

"Obsessão" por militantes de esquerda

Giniton afirmou que Lessa fez pesquisas sobre personalidades de esquerda, entre elas, a vereadora carioca. Os investigadores identificaram, a partir de uma análise telemática, que ele tinha "obsessão" por militantes de esquerda.

"O perfil dele revela uma obsessão para determinadas personalidades que militam à esquerda política. Uma obsessão por essas personalidades que nessa análise você percebe ódio, você percebe desejo de morte. Não é ódio político. Você percebe alguém capaz de resolver uma diferença da forma como foi o caso Marielle", afirmou o delegado.

Outro lado

A defesa de Queiroz explicou que o ex-PM sequer estava no local do crime no dia. "Tenho certeza que não há foto dele no carro, nem muito menos gravação dele neste dia. Tenho certeza que a vítima que sobreviveu não vai reconhecer o meu cliente", explicou o advogado Luiz Carlos Azenha.

Ele classificou de "trapalhada" a medida do MP e da Polícia Civil. "Trata-se mais uma vez de outra trapalhada da Polícia Judiciária com todo respeito à gloriosa Polícia Civil, mas nós já vimos que esse procedimento criminal, persecução penal, vem de outras trapalhadas", disse.

O advogado Fernando Santana, responsável pela defesa de Lessa, também destacou a inocência do seu cliente. "Tive contato com ele muito rápido, mas ele nega que tenha cometido qualquer tipo de assassinato. Vou ter acesso ao inquérito, pois até agora não tive - primeiro está em segredo de Justiça, mas agora já peticionamos para poder termos ideia de como chegaram na prisão do Ronnie Lessa", afirmou.