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Suspeitos da morte de Marielle eram investigados desde 2018

O ex-policial Élcio Vieira de Queiroz (à esq.) e o policial militar reformado Ronnie Lessa foram presos acusados de matar Marielle - Arte/UOL
O ex-policial Élcio Vieira de Queiroz (à esq.) e o policial militar reformado Ronnie Lessa foram presos acusados de matar Marielle Imagem: Arte/UOL

Luís Kawaguti

Do UOL, no Rio

12/03/2019 10h30Atualizada em 12/03/2019 16h02

O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial Élcio Vieira de Queiroz começaram a ser investigados pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes no ano passado, mas não haviam sido presos para que a polícia pudesse obter mais provas contra eles, segundo afirmaram à reportagem autoridades envolvidas na investigação.

A Divisão de Homicídios vinha investigando Lessa como suspeito de ser o autor dos disparos contra a vereadora e Queiroz como o motorista de um dos carros envolvidos no crime. Eles eram monitorados ao menos desde o segundo semestre de 2018 e foram presos hoje. Os advogados dos dois presos negaram que ambos tiveram participação no crime (veja abaixo).

O objetivo do monitoramento era evitar que a dupla desaparecesse enquanto eram reunidas provas mais robustas contra eles, segundo apurou a reportagem.

A Divisão de Homicídios e a equipe da intervenção federal -que controlou a segurança pública no Rio no ano passado- queriam ter evidências suficientes contra os dois para que, uma vez presos, eles não fossem libertados pela Justiça.

Essa coleta de provas teria demorado, entre outros fatores, pois os suspeitos teriam se esforçado para "camuflar" o uso de telefones celulares utilizados para planejar e executar o crime. A obtenção de provas foi considerada altamente complexa.

Carro do Lessa - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Carro do policial militar reformado Lessa foi apreendido pela Polícia Civil
Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Segundo o Ministério Público, os suspeitos começaram a planejar o crime três meses antes de executá-lo em 14 de março do ano passado.

Algumas das evidências coletadas pela polícia foram pesquisas de internet feitas por Lessa sobre a rotina de Marielle e sobre a arma que seria usada no crime.

Desde a reconstituição do crime, feita com apoio do Exército em 2018, os policiais acreditam que uma submetralhadora MP5 de calibre 9 mm foi usada para matar as vítimas.

Ele também teria feito pesquisas sobre o interventor federal, general Walter Souza Braga Netto. O Exército não se manifestou sobre o fato.

Todos esses dados foram cruzados com outras provas obtidas pela polícia, que ainda não foram tornadas públicas.

Lessa e Queiróz foram presos às 4h de hoje em suas casas. Além das prisões, a Polícia Civil cumpre 32 mandados de busca e apreensão, especialmente nas casas dos suspeitos, com o objetivo de apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.

Os policiais esperam encontrar mais evidências que ajudem sustentar as acusações contra a dupla.

As prisões ocorrem dois dias antes do crime completar um ano. Até agora, apesar de ter divulgado a prisão dos suspeitos, a polícia não deu informações sobre a motivação do crime e se ele teve um ou mais mandantes.

A principal linha de investigação é que o crime tenha sido realizado por uma milícia que atuava em favelas e regiões pobres do Rio com grilagem de terras e exploração de serviços irregulares. O trabalho da vereadora com a população local teria incomodado os membros da organização criminosa.

Outro lado

A defesa de Queiroz explicou que o ex-PM sequer estava no local do crime no dia. "Tenho certeza que não há foto dele no carro, nem muito menos gravação dele neste dia. Tenho certeza que a vítima que sobreviveu não vai reconhecer o meu cliente", explicou o advogado Luiz Carlos Azenha.

Ele classificou de "trapalhada" a medida do MP e da Polícia Civil. "Trata-se mais uma vez de outra trapalhada da Polícia Judiciária com todo respeito à gloriosa Polícia Civil, mas nós já vimos que esse procedimento criminal, persecução penal, vem de outras trapalhadas", disse.

O advogado Fernando Santana, responsável pela defesa de Lessa, também destacou a inocência do seu cliente. "Tive contato com ele muito rápido, mas ele nega que tenha cometido qualquer tipo de assassinato. Vou ter acesso ao inquérito, pois até agora não tive - primeiro está em segredo de Justiça, mas agora já peticionamos para poder termos ideia de como chegaram na prisão do Ronnie Lessa", afirmou.