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O que pesa contra o 3º suspeito do massacre de Suzano, segundo a polícia

Mirthyani Bezerra*

Do UOL, em São Paulo

19/03/2019 15h09Atualizada em 19/03/2019 22h47

A juíza Érica Marcelina Cruz, da 1ª Vara Criminal de Suzano, decidiu pela apreensão do adolescente de 17 anos suspeito de ter participação no massacre de Suzano (Grande São Paulo) após a Polícia Civil apresentar novos elementos que apontam o envolvimento dele com o crime.

O caso está sob segredo de Justiça. O UOL obteve acesso à decisão da juíza Érica Marcelina Cruz, da 1ª Vara Criminal de Suzano, de apreender o adolescente e a novos elementos que embasaram a apreensão.

O advogado nomeado do suspeito, Marcelo Feller, orientou seu cliente e seus pais a ficarem em silêncio durante audiência hoje na Vara da Infância e da Juventude de Suzano. De acordo com defensor, ele disse não ter tido tempo para conhecer as acusações. "Os pais estão dispostos a falar, ele está disposto a falar, mas isso não pode ser um teatro", declarou o advogado.

O massacre foi executado por Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, ambos ex-alunos da escola, que morreram após a ação. Ao todo, dez pessoas foram mortas na ação.

Segundo a polícia, apesar de o adolescente de 17 anos não ter participado ativamente dos fatos, ele teve uma "atividade acessória, no cenário moral, instigando a ocorrência do crime".

Essa foi a segunda vez que a polícia pediu a apreensão do menor, que já havia sido negada pela Justiça. O adolescente se apresentou no Fórum de Suzano na semana passada e foi liberado. Mas, diante dos novos elementos apresentados pela autoridade policial, a juíza afirmou haver "indícios da efetiva participação do adolescente".

"A medida de internação se faz de rigor para tranquilidade social e ante a periculosidade inicial demonstrada pelo teor de suas conversações via aplicativo WhatsApp", diz a juíza na decisão, afirmando que o jovem nas conversas coletadas pela polícia apresenta "personalidade antissocial e distorcida, sem freios naturais da vida em sociedade de forma civilizada", escreveu.

A internação provisória por 45 dias determinada na noite de ontem (18) e mantida hoje após a audiência. O menor estava acompanhado pelos pais e advogado. Veja os elementos que fundamentaram a decisão.

A gente só falava nisso, disse suspeito no Whatsapp

O principal elemento que trouxe mais novidades sobre a atuação do suspeito foi o celular apreendido com ele. No aparelho, a polícia teve acesso aos extratos das principais conversas mantidas pelo suspeito e que constam em um relatório feito pelo Departamento de Inteligência da Polícia Civil.

Há uma troca de mensagens com um interlocutor em que o suspeito disse "que nós planejamos juntos, mano, a gente criou esse plano quando eu estava no primeiro ano. Era para ser eu lá também". "A gente só falava nisso, então eles podem ter tirado algumas ideias de mim."

Relatou plano 5 meses antes

Em outra conversa tida com um interlocutor não identificado pela polícia no dia 18 de outubro de 2018, cinco meses antes do massacre, o suspeito detalhou sua estratégia para fazer um atentado na escola. "Tava vendo meus esboços aqui. Ia morrer uns 15 pelo menos", disse elencando como seria o passo a passo do massacre.

"Iríamos entrar como se nada tivesse acontecido e esperar até o intervalo. Aí, 9h35 meus amigos lá fora iam entrar como quem não quer nada. Eu e o Taucci iríamos um para cada lado com facas", previa.

Na conversa, o adolescente fala em "matar os namorados primeiro", "deixar garotas nuas e executar algumas no meio do pátio", "deixar o corpo de uma forma humilhante", "se matar no final de tudo", além de usar estupros para causar mais repercussão.

Contou para professora

Uma professora do suspeito contou à polícia que, cerca de dez dias antes do massacre, fez uma dinâmica de grupo no curso em que o adolescente é aluno. Na ocasião, a docente questionou os estudantes sobre suas expectativas de futuro.

"Este [o suspeito] teria respondido de forma fria, sem expressar qualquer sentimento, que o seu maior sonho era entrar em uma escola, armado, e atirar em várias pessoas aleatoriamente", disse texto da decisão judicial. Ao ser questionado pela docente, ele teria dito que imaginar tal cena lhe causava prazer.

No documento consta ainda que, após o massacre, a professora chegou a pensar que ele era um dos autores e mandou mensagens para ele por meio do WhatsApp.

A professora perguntou: "O que você acha de tudo isso?". E ele responde: "Ele [Taucci] fez o que a gente vivia conversando sobre. Entrou para a história". O adolescente disse que, apesar de Taucci ser um dos seus melhores amigos, não chorou e que não estava triste pela morte dele.

Dono do estacionamento

Em depoimento à polícia, Éder Alves de Souza Teixeira Batista, dono do estacionamento usado pelos criminosos para guardar o veículo usado no massacre, afirmou que em duas ocasiões houve uma terceira pessoa na companhia de Taucci e Castro.

Foi mostrada a Éder uma foto do terceiro suspeito e, segundo a polícia, ele afirmou haver uma semelhança física entre a foto e a memória que dessa terceira pessoa, mas que não tinha 100% de certeza.

Irmã teria sido poupada

Em depoimento, um ex-aluno da escola e amigo do suspeito contou que ele teria reconhecido sua parte do planejamento do crime, mas que não sabia quando ele seria executado.

À polícia, a testemunha disse que o suspeito relatou que Taucci teria reconhecido sua irmã e que a teria poupado. "Registrando-se ainda que Guilherme Taucci reconheceu a irmã do suspeito na escola no dia do crime e deixou-a sair ilesa", diz a representação da polícia. A informação foi corroborada por conversa de WhatsApp entre ambos encontrada no celular do suspeito.

Suspeito disse que não ficou surpreso

No dia do massacre, em um grupo de WhatsApp, o adolescente disse não estar surpreso com o ataque e completa: "É uma coisa que eu faria mesmo, porém minha irmã estava lá [na escola]". Ele diz ainda que Taucci fez "igual os meus planos".

"Era bem na hora do intervalo, mano, eram dois atiradores, foi tudo planejado". Depois, o suspeito escreveu: "Foi o Taucci, um atirador tinha um machado que a gente foi comprar", diz.

Suspeito mandou mensagem para assassino

Segundo a polícia, logo após o massacre o terceiro suspeito encaminhou a seguinte mensagem a Taucci:

"Caralho porra Taucci. Teve um tiroteio dentro da escola viado. Mano dois adolescentes. E eles se mataram. Taucci, um dos atiradores tinha um machado igual ao seu. Agora eu sei que você nunca mais vai fazer aquelas perguntas chatas de ateu. Risadas (kkkkkk). Te odeio"

Bota tipo coturno

No dia em que o adolescente se apresentou à Justiça, os policiais apreenderam objetos úteis à investigação e o celular do rapaz. Entre esses objetos, estava uma bota tipo coturno, semelhante as usadas pelos dois autores no dia do massacre.

No celular, foi encontrada a nota fiscal de compra da bota, realizada no dia 20 de fevereiro deste ano.

*Colaboração de Luís Adorno, do UOL, em São Paulo

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