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Família contesta Exército e nega que homem morto por militares seja bandido

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

07/04/2019 22h49

Familiares e amigos de Evaldo Rosa dos Santos, 47, que morreu hoje baleado por militares no bairro de Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro, negaram que ele estivesse armado e contestaram a versão dada pelo Exército. Os militares disseram que foram atacados a tiros e revidaram atirando contra o automóvel no qual Santos estava.

Um amigo da vítima, porém, afirmou ao UOL que Santos trabalhava como segurança privado e que ele estava apenas passando pelo local com sua mulher, o filho de sete anos, o sogro e uma amiga. O sogro e um pedestre também foram baleados e socorridos para um hospital. A mulher de Santos, cujo nome não foi divulgado, estaria em choque e sob efeito de medicamentos. Não há informação oficial sobre o estado de saúde dos sobreviventes.

Militares citam assalto; amigo nega

Santos morreu por volta das 14h40 na Estrada do Camboatá, próximo ao Piscinão de Deodoro.

De acordo com o CML (Comando Militar do Leste), o tiroteio aconteceu depois que militares se depararam com um assalto na região. Em seguida, foram alvo de tiros que teriam partido do carro no qual Santos estava e revidaram.

Amigo do segurança, Alexsander Conceição, 47, rechaça a versão dada pelo Exército. Ele afirma que a família estava a caminho de um hospital para visitar uma amiga e depois levaria Santos para o trabalho.

"Não tinha assalto. Eles estavam indo para o hospital quando os militares atiraram neles. Tanto é assim que não encontraram nenhuma arma com eles. Os moradores da região dizem que os militares confundiram o carro porque estava acontecendo tiroteio na área antes disso", afirmou.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram moradores revoltados com a ação dos militares.

favela do muquiço - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Revoltados, moradores disseram que os homens baleados não eram bandidos
Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Ataque a militares mais cedo

Hoje de manhã, militares informaram que foram atacados a tiros por bandidos na comunidade do Muquiço, perto do local onde Santos foi morto. Mas, segundo o Exército, o caso envolvendo o segurança não tem nenhuma relação com esse ataque.

O amigo de Santos afirma que a família acionou a Polícia Civil para fazer perícia no local para tentar evitar que apenas a Polícia do Exército fique responsável por investigar o caso.

"O que aconteceu foi um absurdo. As pessoas que moram na região fizeram vídeos que mostram que não teve troca de tiros. Eles [militares] continuaram atirando e atirando",disse.

O corpo de Santos está em um necrotério no Rio de Janeiro e deverá ser liberado na segunda-feira (8) para o sepultamento.

7.abr.2019 -  Dois homens dentro de um carro foram baleados por policiais na favela do Muquiço, em Guadalupe, na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ). Um deles morreu no local e outro foi socorrido - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Além da matar Santos, os tiros deixaram duas pessoas feridas
Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Exército disse que vai ouvir militares e testemunhas

O UOL entrou em contato com o Centro de Comunicação Social do Exército, em Brasília, e questionou a versão dada pelo CML, com base no relato feito por Conceição. Como resposta, o Centro encaminhou uma nota enviada pelo CML sobre o caso.

Segundo o órgão, o Exército determinou que fossem "coletados os depoimentos de todos os militares envolvidos, bem como das testemunhas civis".

A nota diz ainda que o MPM (Ministério Público Militar) está informado sobre o caso e irá supervisionar os depoimentos.

O UOL também tentou obter informações por telefone com a Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, mas o órgão informou que só poderia se manifestar sobre o caso pessoalmente.

Já o Conselho de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que substituiu a Secretaria de Segurança Pública, não atendeu o telefone. O UOL enviou questionamentos por email, que não foram respondidos até a publicação desta reportagem.