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Bombeiros dizem que local onde jovem morreu eletrocutada não tinha licença

Maria Fernanda Ferreira de Lima morreu após levar choque em festival de funk no Rio - Reprodução
Maria Fernanda Ferreira de Lima morreu após levar choque em festival de funk no Rio Imagem: Reprodução

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

15/04/2019 21h33

O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro informou hoje que o local onde a estudante de odontologia Maria Fernanda Ferreira de Lima, 20, morreu eletrocutada na madrugada de ontem não tinha autorização da corporação para funcionamento. O caso, que aconteceu na casa noturna Terreirão do Samba, no centro da capital, é investigado pela 6ª DP (Cidade Nova).

Apesar da presença de bombeiros civis - profissionais do segmento privado que são contratados pela organização do evento Puff Puff Bass ou pela administração do local - a organização não tinha uma série de documentações exigidas pela corporação.

"O local não está regular junto ao Corpo de Bombeiros. Não houve pedido de autorização ao CBMERJ por parte dos organizadores do evento mencionado", informou o comunicado do Corpo de Bombeiro.

São três os laudos exigidos, que estão nas chamadas medidas de segurança contra incêndio e pânico e sustentadas pela legislação vigente. A primeira é o Laudo de Exigências, em que são listados todos os requisitos relativos a essas medidas.

Em seguida, o Corpo de Bombeiros emite o Certificado de Aprovação, que atesta o cumprimento dos requisitos, com validade de cinco anos, desde que não haja mudanças substanciais nas estruturas do local.

O último documento é o Certificado de Registro, que atesta que o estabelecimento é projetado para eventos com reunião de público. "Nele são verificados novamente os requisitos de segurança, com foco nos aspectos relativos a lotação, escape e sinalização. Este tem validade anual e perde efeito caso os critérios definidos sejam modificados ou descumpridos", explicou a corporação em nota.

"É importante ressaltar que estar em conformidade com as medidas de segurança contra incêndio e pânico é uma obrigação de todos. É de responsabilidade dos administradores das edificações o cumprimento da legislação vigente. É imprescindível a cultura de prevenção na sociedade", disse o Corpo de Bombeiros.

Tanto a festa Puff Puff Bass quanto o Terreirão do Samba não mantêm esses documentos, segundo os Bombeiros.

Falta de documentação pode agravar o caso

A delegada Maria Aparecida Salgado Mallet, titular da 6ª DP, informou que um inquérito apurando homicídio culposo e lesão corporal culposa foi instaurado. "O local foi interditado para uma perícia complementar e por apresentar risco. A perícia já foi feita e estamos aguardando o laudo para determinar a causa do acidente", disse ela à reportagem.

Ela disse que a falta de documentação necessária para o evento, emitida pelos bombeiros, deve agravar a situação "tanto para a produção do evento quanto para o administrador do local". Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que não atua em eventos.

Procurados pelo UOL para se pronunciarem sobre o assunto, os organizadores da festa não responderam ao contato da reportagem. Nenhum representante do Terreirão do Samba foi localizado para comentar o assunto.

A organização manifestou-se apenas sobre a morte da jovem através de suas redes sociais. Em sua página no Facebook, a organização da Puff Puff Bass disse "desolado com o ocorrido". "Estamos inteiramente à disposição para qualquer suporte necessário. Estamos trabalhando junto a autoridades competentes para esclarecer de fato o que provocou tal fatalidade. Assim que tivermos um parecer técnico do ocorrido, voltaremos para esclarecer mais infos", disse.

"Não prezaram pela vida das pessoas"

Relatos de participantes da festa nas redes sociais dizem que havia uma caixa de alta voltagem numa poça de água na área do bar.

Ao UOL, a estudante Daniela Esteves contou que testemunhou isso. "Essa caixa de alta voltagem estava em cima de uma poça d'água, atrás dos engradados de bebidas. Os funcionários do bar inclusive estavam pisando nessa poça, o que também colocava a vida deles em risco", afirmou.

Segundo ela, havia tapumes de ferro instalados separando o palco, os banheiros e o bar.

"Lá pelas 4h, o bombeiro saiu de dentro da área dos bastidores pedindo: 'pelo amor de Deus, não encostem nessa parte de ferro'. Foi na hora em que a menina tomou o choque e desmaiou. Pediram apenas para as pessoas se afastarem. Mas não fizeram nenhum tipo de isolamento. Todo mundo estava se encostando, estava tudo molhado, o chão estava molhado e essa parte de ferro estava toda energizada", relatou Daniela.

"Não prezaram em nenhum momento pela vida das pessoas. A gente ficou muito chocado. Eu até chorei quando soube da morte dela. Uma menina tão nova, só saiu para se divertir. Poderia ter acontecido a mesma coisa comigo ou com qualquer outra pessoa que estava lá. É muita tristeza", lamentou.