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Prisão de suspeito de estupros em série faz crescer denúncias de vítimas

15.abr.2019 - Policiais realizam buscas em casa que seria utilizada por estuprador em série em Alagoas - Divulgação/Polícia Civil de Alagoas
15.abr.2019 - Policiais realizam buscas em casa que seria utilizada por estuprador em série em Alagoas Imagem: Divulgação/Polícia Civil de Alagoas

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/04/2019 09h40

Bastaram dois dias para que mais 11 adolescentes e uma adulta procurassem delegacias de Maceió para denunciarem ter sido vítimas de estupro por Benício Vieira de Lima, 46, que era assessor parlamentar da Câmara de Maceió até a divulgação das denúncias.

Segundo a diretora de delegacias de Maceió, Ana Luiza Nogueira, o número total de supostas vítimas de Lima já chega a 31. Antes da prisão preventiva dele ontem, eram 19 casos, sendo nove já "confirmados".

"Todas as vítimas já foram ouvidas nas delegacias, e as delegadas estão concluindo os inquéritos o mais rápido possível para enviar o caso à Justiça", diz Ana Luiza.

Segundo a delegada, os novos depoimentos não trouxeram fatos novos, mas serviram para comprovar ainda mais o "modus operandi" do criminoso em série contra mulheres jovens em Maceió.

"Elas trouxeram a mesma história, que já está ficando recorrente. Sempre é muito semelhante, não teve nada que a gente ainda não sabia. Só ficamos surpresos pela grande quantidade de casos", afirma.

Segundo a polícia, o suspeito realizava em média de três a quatro vítimas em cada série de ataques. O modo de agir sempre era com abordagem da vítima em um carro com uma história de que a filha estava numa igreja e não sabia como chegar ao local.

"(Ele) insistia e até mesmo chorava para enganar a vítima, que se compadecia e entrava no carro. As que negavam, ele mostrava uma arma", informa a polícia.

Uma das vítimas, de 14 anos, revelou ao UOL que foi estuprada por mais de duas horas em uma casa onde funcionava o escritório do vereador Chico Filho (PP), de quem era funcionário. "Quando cheguei perto ele disse que não era pra gritar. Ele mostrou uma arma, [eu] estava muito nervosa, não pude ter certeza [se era uma arma]. Ele me colocou dentro do carro, colocou um pano no rosto e me trouxe pra local onde foi feito", descreve a vítima, que pediu para não ter a identidade revelada.

Três delegacias no caso

Por conta da grande quantidade de casos e especificidade dos crimes e idades das vítimas - que variam de 11 a 21 anos -, três delegacias têm inquéritos abertos para investigar Benício.

"Quando a vitima é criança ou adolescente, o caso tramita na delegacia especial para crimes dessa natureza. Quando é adulta, como temos duas delegacias da Mulher, depende de onde a vítima mora para definição de quem vai apurar o caso. Mas todas estão empenhadas nesses casos", explica Ana Luiza.

Segundo ela, o crime de estupro acaba sendo subnotificado por conta de medo ou vergonha das vítimas, e a publicidade do caso em Maceió ajudou as vítimas a terem confiança em procurar a polícia. Ela não descarta a possibilidade de haver mais casos ainda a serem revelados. "Grande parte das vítimas não noticia a polícia, e como o caso despertou a atenção da imprensa, houve essa procura, que pode aumentar", afirma.

Suspeito nega

Procurado na noite de ontem, o advogado do suspeito, Arnaldo Bispo, afirmou que seu cliente nega a prática dos crimes e não apresentou nenhuma versão ainda sobre o aumento de denúncias contra ele.

"Vamos esperar que sejam apurados os casos durante a fase de inquérito policial e, após geração de processo, caso isso ocorra, a gente vai se manifestar", explica, citando que, devido a grande quantidade de casos, não teve acesso ainda a todas denúncias. "Como são processo sigilosos, não tenho ainda acesso a todos os casos. E como a justiça entrou em recesso [de Páscoa], ficou ainda mais complicado", comenta.

Em nota publicada na segunda-feira, o vereador Chico Filho disse que ficou "assustado da mesma forma que toda sociedade, pois o assessor tinha mais de 15 anos de convívio familiar" e que "em nenhum momento sabia do uso de seus veículos ou de seu escritório para prática de crimes".

Já a Câmara Municipal repudiou o crime e anunciou a demissão imediata do servidor. O ato de exoneração foi publicado no Diário Oficial de ontem.