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Construído em 1640, forte da ocupação holandesa é reinaugurado em Alagoas

Fortim Bass é reinaugurado após restauração em Porto Calvo (AL) - Divulgação/Prefeitura de Porto Calvo
Fortim Bass é reinaugurado após restauração em Porto Calvo (AL) Imagem: Divulgação/Prefeitura de Porto Calvo

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

15/05/2019 19h39Atualizada em 15/05/2019 23h40

Construído em 1640, o Fortim Bass foi restaurado por arqueólogos e teve sua reinauguração hoje em Porto Calvo, no norte de Alagoas. Ele é o único forte holandês construído em terra no Brasil no século 17 que permanece intacto.

O monumento foi entregue pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) à administração municipal e será rota turística no município, após a conclusão do Parque de Visitação Arqueológica.

Serão construídos uma ponte sobre o rio Manguaba, um restaurante na área próxima ao forte para oferecer estrutura aos turistas, além de um mirante e centro de informações. O Iphan já destinou R$ 400 mil à obra.

Forte construído em 1640 é restaurado

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A presidente do Iphan, Kátia Bógea, afirmou que o órgão está em negociação com a embaixada holandesa no Brasil para divulgação mundial do forte. "A disputa pelo Novo Mundo está aqui. Esse forte é de projeção mundial. Isso vai ser um dos lugares mais incríveis do Brasil e do mundo", destaca.

O prefeito de Porto Calvo, David Pedrosa (MDB), afirmou que o município vai trabalhar junto ao Governo do Estado e ao Iphan para que o forte transforme o turismo cultural na região norte de Alagoas. "Temos uma joia rara aqui na nossa cidade e vamos cuidar com muito zelo e que isso também possa trazer desenvolvimento econômico para toda a região", ressalta Pedrosa.

Construção do século 17

Forte construído em 1640 é restaurado

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O forte foi construído em 1640 pelos holandeses por ocasião do ataque a Porto Calvo. Na época da sua construção, as terras alagoanas pertenciam ao estado de Pernambuco. O Fortim Bass está localizado no Reduto Ilha do Guedes, às margens do rio Manguaba, dentro de uma fazenda particular na zona rural de Porto Calvo.

Atualmente, o acesso ao forte ocorre somente por meio de barco. A visitação ao forte será controlada para preservar a edificação.

A descoberta da construção foi divulgada em 2015 e, dois anos depois, arqueólogos iniciaram a escavação do forte. Os trabalhos foram concluídos esta semana com a colocação de grama para proteger a edificação. Segundo o Iphan, a construção está arqueologicamente preservada.

O forte tem 473 m² e contém muralhas de terra, que foram construídas estrategicamente para diminuir o impacto dos tiros durante a Batalha dos Holandeses no Estado. A edificação é constituída por um fosso duplo, escarpa e parapeito. "Possui uma estrutura quadrangular com quatro baluartes ladeados por flancos no sentido anti-horário", explica o arqueólogo Marcos Albuquerque, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

O arqueólogo afirma que o forte ficou intacto até hoje porque a estrutura foi construída numa área de difícil acesso e estava coberta por areia e vegetação. A descoberta ocorreu após pesquisas e estudos arqueológicos. Depois de sua restauração, o forte foi revestido com grama para evitar erosão e recebeu uma escadaria com uma mini-ponte nos fossos para o acesso dos visitantes.

"O forte encontrava-se praticamente soterrado e, até o momento, é o único forte íntegro de construção holandesa encontrado no Brasil. A Ilha do Guedes se encontra separada do continente pelo rio Manguaba, ao fundo com a cidade de Porto Calvo. Este foi um ponto estratégico muito cobiçado por ocasião da Guerra Holandesa no século 17", destaca o arqueólogo, ressaltando que a construção refere-se ao sistema colonial da época, com a história do Brasil, de Portugal, da Holanda e da Europa.

Segundo historiadores, foi em Porto Calvo que a Holanda conquistou a maior vitória em solo brasileiro, ao expulsar as tropas ibero-brasileiras para a Bahia. A posição do forte, na curva do rio Manguaba surpreendia as embarcações que passavam por lá, com a boca de fogo do fortim.

O local era usado pelos militares na Batalha dos Holandeses antes de seguirem para Penedo, no extremo sul alagoano, e depois irem para a Bahia. Segundo o Iphan, o reduto é um provável acampamento do almirante holandês Jan Cornelisz Lichthart, que comandou tropas invasoras no Brasil a serviço da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, no século 17.

O Iphan informou que o Fortim Bass não tem tesouros escondidos, como botijas, deixados pelos holandeses, mas a edificação tem grande valor histórico. Na época, os holandeses levaram todos equipamentos ao descerem para a Bahia.

Cidade histórica

A cidade de Porto Calvo fica ao lado de Japaratinga e próximo a Maragogi, onde foram encontradas, em 2013 e em 2004, respectivamente, botijas de moedas antigas durante obras de saneamento nos municípios. Na época, moradores começaram a fazer escavações em busca de objetos antigos para comercializarem clandestinamente.

Em 2016, foram descobertos arcos construídos possivelmente pelos holandeses, no século 17. A construção subterrânea era composta por tijolos revestidos por um material brilhante. Os arcos foram encontrados durante a obra do anel viário na cidade e estavam no subsolo da rua do Varadouro. Dezenas de pessoas invadiram a área e começaram escavar o local em busca de botijas. Depois dos ataques de vândalos, os arcos ficaram totalmente destruídos.

Em Porto Calvo ainda existe outro forte e uma igreja da época da ocupação holandesa. O local chama-se Alto da Forca, e o prédio funciona o Hospital Municipal São Sebastião.