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Vazamento de diálogos de Moro deve adiar pacote anticrime para 2º semestre

Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

10/06/2019 13h52

O vazamento de mensagens privadas do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, com integrantes da operação Lava Jato atrasará a análise do seu projeto anticrime, na Câmara. As propostas já eram questionadas pela oposição e agora naufragaram de vez as chances de aprovarem no primeiro semestre, como tentavam os articuladores próximos ao ministro.

A avaliação é feita pelo relator do projeto na Câmara, Capitão Augusto (PR-SP), e coordenador da bancada da bala, grupo de parlamentares ligados à segurança e próximos a Moro. O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), crítico do projeto, não vê "condições" para discutir as medidas.

O revés político para Moro acontece após a divulgação de diálogos pelo "The Intercept Brasil", na noite de ontem, de que ele orientou os trabalhos do coordenador da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol. A prática é considerada ilegal por juristas.

"Não altera em nada [o conteúdo] do pacote. Atrasar [a tramitação] pode. Porque a oposição pode aproveitar o momento e obstruir a pauta", disse Augusto.

O coordenador da bancada da bala chamou de "coincidência" o vazamento dos diálogos, na semana em que apresentará seu relatório sobre o pacote. O relatório será divulgado por Augusto na quinta-feira (13) e caberá ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinar se irá a plenário ou tramitará em alguma comissão especial.

"[Membros da oposição] vão aproveitar para tripudiar essa semana, semana que vem é feriado e restam três semanas para iniciar recesso e tem [discussão pela] Previdência. Mantemos fiéis à pauta, mas a votação vai depender do contexto todo", considerou Augusto.

O deputado Marcelo Freixo, que também discute o projeto de Moro com Augusto, acredita que o pacote é complexo e precisa de mais debates. "É evidente que não tem a menor condição política para se aprovar um pacote desse com as evidências que apareceram", afirmou Freixo.

O parlamentar do PSOL entende que "as revelações colocam Moro em uma posição delicada" e que é "bastante insustentável a situação do ministro diante desse vazamento".

Bancada da bala defende Moro

Um dos principais braços de apoio de Moro, os deputados da bancada da bala devem divulgar uma nota de apoio ao ministro e à operação Lava Jato.

No entendimento do Capitão Augusto, os áudios não comprometem a atuação do ex-juiz federal. "[Não mostram] nada de ilegalidade, moralidade, nada que afete o processo. O que vimos são comentários mostrando seriedade com que o ministro julgava os casos. Por exemplo no pedido de prisão preventiva, que ele disse que ainda faltavam elementos", avaliou Augusto em defesa de Moro. O documento deve ser divulgado durante a tarde de hoje.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.