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Deputada mais votada do RJ, 55 filhos, marido assassinado: quem é Flordelis

A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) no enterro do marido no mês passado -
A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) no enterro do marido no mês passado

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

02/07/2019 04h01

Mulher mais votada no Rio em 2018 para deputada federal (quinta, considerando-se também os homens), Flordelis dos Santos de Souza, 58, (PSD-RJ) conquistou este primeiro mandato na Câmara dos Deputados promovendo a adoção de filhos - processo pelo qual ela mesma passou 51 vezes ao lado do marido, o pastor Anderson do Carmo, 42, assassinado a tiros em casa. Ela ainda tem mais quatro filhos biológicos.

Desde a morte do marido em 16 de junho, viu sua família envolta em investigações policiais: Flávio dos Santos, 38, filho biológico dela e enteado do pastor morto, foi preso durante o enterro de Anderson, e Lucas dos Santos, 18, foi detido na sequência - nenhum dos dois por casos relacionados ao assassinato.

Cantora gospel e destinatária de R$ 1 milhão do fundo partidário do PSD na última campanha, Flordelis chegou a ter a vida retratada em um filme em 2009. Veja o que se sabe sobre ela:

Havia tentado ser vereadora

Embora o mandato atual de deputada federal seja sua primeira eleição vencida, Flordelis havia tentado se eleger anteriormente: em 2004, candidatou-se a vereadora em São Gonçalo pelo então PMDB e teve 2.262 votos.

Em 2016, chegou a ser pré-candidata, também pelo PMDB, à prefeitura da cidade, que sedia uma congregação evangélica chamada Ministério Flordelis - Cidade do Fogo.

Na propaganda eleitoral destas últimas eleições, trechos de reportagens antigas remontavam às origens da deputada na causa da adoção.

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Nascimento na comunidade do Jacarezinho

Nascida no Complexo do Jacarezinho, favela da zona norte do Rio, Flordelis iniciou trajetória evangélica nos pequenos cultos que a mãe organizava na comunidade nos anos 90. Foi lá onde conheceu Carmo em 1993. Casaram-se no ano seguinte.

A vocação para missionária vinha desde aquela época, segundo seu relato.

"Decidi sair da minha casa toda sexta-feira de madrugada para ir às portas dos bailes funk, para abordar as crianças e os adolescentes, e mostrar a eles um caminho diferente, o caminho do amor, da fé em Deus e o caminho da restauração na família", escreveu em 25 de maio, Dia Nacional da Adoção. A mensagem foi compartilhada no perfil do marido.

"Numa madrugada, fui acordada com um barulho enorme na porta da minha casa (...). Havia 37 crianças e adolescentes desesperadas, fugindo de uma CHACINA na Central do Brasil, Centro do Rio de Janeiro. Foi assim que começou minha historia de adoção, e de lá pra cá me tornei mãe de 55 filhos, 51 deles adotivos", prosseguiu a deputada no texto.

Cantora gospel

Anderson e Flordelis - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Anderson e Flordelis
Imagem: Reprodução/Facebook
Em 1998, Flordelis ingressou na carreira de cantora gospel e lançou seu primeiro álbum, intitulado Multidão. Depois disso, houve mais oito lançamentos, entre álbuns e EPs.

No ano seguinte, o casal fundou a Comunidade Evangélica Ministério Flordelis, no bairro da Rocha, também na zona norte do Rio.

Em 2002, Flordelis e Anderson fundaram juntos o Templo do Ministério no bairro do Colubandê, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. A congregação evangélica, atualmente, conta com cinco filiais espalhadas pelo Estado do Rio.

Até sua morte em 16 de junho, Anderson presidia o Ministério Flordelis - A Cidade do Fogo, no bairro Mutondo, em São Gonçalo, e fazia conferências de cunho religioso.

A história da deputada federal virou filme, Flordelis, por meio de uma produtora evangélica em 2009. Ela mesma narra a produção.

As memórias dos filhos adotivos são remontadas a partir de encenações de estrelas globais como Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini e Letícia Sabatella. O elenco abriu mão do cachê, que foi revertido para a construção de uma moradia melhor para as crianças.

Confissão controversa

Preso por violência doméstica, em um caso sem ligação com o assassinato do pastor Anderson, Flávio teria confessado ter sido o autor dos seis disparos que mataram o pastor.

Mas depois de a informação ter sido divulgada pela polícia, a defesa de Flávio negou.

Já Lucas dos Santos responde por um crime análogo ao tráfico de drogas, que teria cometido quando ainda era menor de idade. Ele teria sido o responsável por conseguir a arma calibre 9mm usada no crime.

Ambos tiveram decretada a prisão temporária por 30 dias pelo crime de homicídio no caso. A polícia apura, agora, se mais pessoas tiveram envolvimento na morte do pastor.

Procurada pelo UOL para uma entrevista com a deputada na semana passada, a assessoria da parlamentar negou a solicitação.