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Coaf identificou movimentações atípicas de empresa pertencente a milícia

João Wainer - arquivo/Folhapress
Imagem: João Wainer - arquivo/Folhapress

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

03/07/2019 12h58

A prisão na manhã de hoje de seis suspeitos de integrar e movimentar recursos da Liga da Justiça, apontada como a maior milícia do Rio de Janeiro, foi possível graças a movimentações atípicas identificadas em uma das empresas pertencente ao grupo paramilitar pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de inteligência vinculado ao Ministério da Economia que rastreia indícios de lavagem de dinheiro.

De acordo com a promotora Simone Sibilio, coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do MP (Ministério Público), a Promotoria solicitou ao Coaf investigação sobre as movimentações da empresa Macla Comércio e Extração de Saibro, que teve faturamento de R$ 42 milhões entre 2012 e 2017. Segundo o MP, R$ 10 milhões desse total seriam fruto de lavagem de dinheiro.

A empresa pertence a Luís Antonio da Silva Braga, conhecido como Zinho, que é irmão de Wellington da Silva Braga, o Ecko, chefe da Liga da Justiça. Ambos estão foragidos.

De acordo com a promotora, o grupo se valia de engenharia financeira conhecida como "mescla" para esconder os negócios ilegais da milícia. "Eles faziam serviços de terraplanagem de maneira legal e ilegal também, através da empresa. Se tornava difícil identificar os limites da legalidade ali', contou Sibilio. Os negócios ilegais do grupo se estendiam por bairros da zona oeste, como Santa Cruz, Paracambi, Campo Grande e Recreio dos Bandeirantes.

O delegado Thiago Neves, do Núcleo de Combate à Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil, explicou que o policial militar reformado Clayton da Silva Moraes, preso hoje em Paracambi, era o principal operador financeiro do grupo e um dos fundadores da Macla.

"O Clayton fundou a empresa com o Luiz Antônio em 2014. Ele se valia dos seus conhecimentos como policial para angariar terrenos, muitas vezes invadidos, e operava de forma hora legal, hora ilegal. Ele dava as cartas de como dificultar o trabalho da polícia, ele conhecia o método de investigação", explicou o delegado.

Baque no braço financeiro de milícia, diz delegado

O delegado Thiago Neves ressaltou que o principal objetivo da polícia do Rio continua sendo a prisão dos irmãos que encabeçam a Liga da Justiça. "A liberdade deles é danosa para o combate a esse grupo. Os dois ainda são muito influentes e exercem pressão em vários bairros da zona oeste", justificou.

Neves afirmou, no entanto, que o bloqueio de bens das empresas investigadas representa um baque considerável à atuação da milícia. "Não tenho dúvidas de que o braço financeiro foi atingido no dia de hoje e que isto tira o poder de domínio dos milicianos. São grupos que agem, principalmente, com dominação de territórios", disse.

Segundo a promotora do Gaeco Alessandra Celente, a origem do dinheiro utilizado nessas empresas é criminosa. "As fontes são as extorsões, homicídios, transporte irregular, grilagem de terras, entre outras atividades criminosas, que são utilizadas nessas empresas", afirmou.

Seis presos por suspeita de integrar maior milícia do Rio

Os presos na operação da manhã de hoje foram: Carla dos Santos Alves da Silva, Clayton da Silva Novaes, Fabiana Castilho Alves Duque, Jenilson Simões Gonçalves, Márcio Jacob Hessel e Sidnei Coutinho Perrut. Todos foram denunciados pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Além dos seis presos, estão sendo cumpridos dez mandados de busca e apreensão.

De acordo com a denúncia, foram investigadas as empresas Macla Comércio e Extração de Saibro, Hessel Locações e Incorporações, Senna Terraplanagem e Jardim das Acácias Mineração pelos crimes de organização criminosa e lavagem de capitais.

A quadrilha de Ecko é conhecida por atuar principalmente nos bairros de Campo Grande, Santa Cruz e Paciência. A atuação deles na região ocorre desde a década de 1990. De acordo a Polícia Civil, a Justiça decretou o sequestro de bens e bloqueios de contas das empresas.

O MP destacou que a indevida vantagem econômica dos milicianos é "obtida através de extorsão de moradores e comerciantes da região, motoristas e proprietários de vans e kombis, legalizados ou piratas, sempre com o emprego de violência ou grave ameaça com uso de arma de fogo".

O UOL entrou em contato com as empresas citadas, mas nenhuma delas respondeu à reportagem. Já os advogados dos seis suspeitos presos hoje ainda não foram identificados.

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