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Caso Marielle

Escuta do MP: "pessoal do Brazão" fez obra em área de milícia, diz acusado

Bruno Cancella é preso durante operação contra envolvidos com exploração imobiliária clandestina na Muzema - Fabiano Rocha/Agência O Globo
Bruno Cancella é preso durante operação contra envolvidos com exploração imobiliária clandestina na Muzema Imagem: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Flávio Costa, Gabriel Saboia e Sérgio Ramalho

Do UOL, em São Paulo e no Rio, e Colaboração para o UOL, no Rio

17/07/2019 04h00

Preso ontem por investir em imóveis irregulares na zona oeste do Rio, o empresário Bruno Pupe Cancella afirmou, em escuta telefônica flagrada pelo Ministério Público, que o "pessoal do deputado [Pedro] Brazão [PR-RJ]" asfaltou a entrada de um shopping construído por ele (Bruno) na comunidade da Muzema. O shopping é uma das obras irregulares construídas por meio de um esquema criminoso denunciado pelo MP-RJ.

O Gaema (Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente do MP-RJ) acusa Cancella de movimentar R$ 24,9 milhões em quatro anos para a milícia que age na Muzema. Trata-se da mesma organização criminosa que atua também em Rio das Pedras (na zona oeste carioca) e cujo braço armado é conhecido como Escritório do Crime: um grupo de matadores de aluguel suspeito de envolvimento nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Por sua vez, o deputado estadual Pedro Brazão (cujo nome de batismo é Manoel Inácio) integra uma família de políticos cariocas cuja base eleitoral reside em bairros dominados por milícias. O chefe do clã é seu irmão mais novo Domingos Brazão, ex-deputado e conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Rio de Janeiro). Procurado por email e por telefone, o deputado Brazão não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Domingos é suspeito de envolvimento na morte de Marielle e de obstruir a investigação sobre o caso. Outro irmão também exerce mandato legislativo: Chiquinho é deputado federal pelo Avante.

Em reportagem publicada na última sexta-feira (12), o UOL já havia revelado a conexão existente entre a família Brazão e milicianos que atuam em Rio das Pedras e no Muzema. Também neste caso, os políticos não responderam às tentativas de entrevista feitas pela reportagem.

Pedro Brazão - Alerj - Alerj
O deputado estadual Manoel Inácio Brazão, também conhecido como Pedro Brazão
Imagem: Alerj

"Perdi um tempinho com o pessoal do Brazão"

No dia 26 de outubro de 2018, uma sexta-feira, Bruno Pupe Cancella conversa com Leonardo Igrejas Esteves Borges, também denunciado pelo Gaema como participante do esquema criminoso. Ambos conversam sobre um empreendimento ilegal da quadrilha, um "shopping", construído em Muzema.

Ao se referir ao local, Cancella cita o nome de Brazão:

Eu saí do shopping. Perdi um tempinho lá com o pessoal do Brazão lá, do deputado"
Bruno Pupe Cancella, empresário, em escuta realizada pelo MR-RJ

De acordo com Cancella, o "pessoal do Brazão" realizava naquele dia um serviço de "asfaltamento" na entrada do empreendimento irregular (veja foto do diálogo logo abaixo".

"Aí fiquei conversando com eles [pessoal do Brazão]. Estão asfaltando lá, a porta do shopping. Desenrolei para fazer uma drenagem lá, falei, falei que eu ajudo também."

Brazão II - Reprodução - Reprodução
Diálogo telefônico em Bruno Pupe Cancella cita o deputado Pedro Brazão
Imagem: Reprodução

Até a publicação desta reportagem, os advogados de Bruno Pupe Cancella e Leonardo Igrejas Esteves Borges ainda não haviam se manifestado sobre a denúncia do MP-RJ.

Ministério Público vê influência política

Ao se referir a este diálogo, o MP afirma que "a malta se vale de influência política para se desenvolver prosperamente na exploração ilegal dos espaços urbanos, além de arrefecer o regular exercício do poder de polícia urbanístico".

Na entrevista realizada ontem sobre o caso, o UOL perguntou a membros do MP-RJ se o diálogo incriminaria Brazão e se ele estava sendo investigado sobre este suposto elo com Cancella. A resposta do promotor Plínio Vinícius D'ávila Araújo, subcoordenador do grupo responsável pela denúncia, foi que "o Gaema não tem autorização para investigar deputados com foro. O diálogo foi interceptado em contexto fugaz".

A reportagem telefonou para o gabinete do deputado Brazão e mandou mensagem por email. Não houve resposta até o presente momento.

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