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23 dias após os partos, DNA confirma erro, e casais destrocam bebês em GO

Da esq. para a dir: Genésio, Pauliana, Aline e Murillo, casais que tiveram seus bebês trocados em um hospital de Goiás - Arquivo pessoal
Da esq. para a dir: Genésio, Pauliana, Aline e Murillo, casais que tiveram seus bebês trocados em um hospital de Goiás Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Alves

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/08/2019 22h19

Após a confirmação da troca de bebês por meio de exame de DNA, os casais Murillo e Aline e Genésio e Pauliana oficializaram nesta noite a destroca das crianças na delegacia de Trindade (GO).

Os bebês nasceram com minutos de diferença e foram trocados em 9 de julho, há 23 dias.

"Está muito difícil para as mães, elas choraram muito na hora de trocar, mas tiveram que fazer", relata a delegada Renata Viera, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

As famílias, que estavam morando juntas após a confusão, não quiseram dar entrevista.

Murillo e Aline, que moram em Santa Bárbara de Goiás, cidade próxima a Trindade, deixaram a casa de Genésio e Pauliana após a confirmação do segundo exame de DNA.

Por conta própria, Genésio e Pauliana já haviam feito um exame, desconfiados de que o filho de pele branco e olhos claros não era deles - que são morenos e têm olhos escuros. Hoje, houve confirmação da troca.

"Apesar da situação, eles tiveram um final feliz, e cada um voltou para sua casa com seu filho", afirma a delegada.

Como uma das crianças havia sido registrada, os pais terão que pedir judicialmente o cancelamento do documento, que já está autorizado.

O Conselho Tutelar e psicólogos do estado devem continuar acompanhando as famílias.

Confusão ao vestir as crianças

A delegada Renata Vieira afirmou que quatro funcionárias do hospital prestaram depoimento: uma enfermeira chefe do centro cirúrgico; uma técnica de enfermagem do centro cirúrgico; uma enfermeira chefe que cuida da área das gestantes após o parto e uma técnica de enfermagem do berçário.

Segundo a delegada, as profissionais negam negligência. Mas investigações da polícia apontaram que as roupas dos bebês foram trocadas após o banho, dado por uma técnica de enfermagem. A delegada acredita que a confusão da troca começou a partir daí.

"Elas (as enfermeiras) negam tudo e acham que não houve erro, mas eu acredito muito que houve um erro no momento que a técnica de enfermagem foi vestir os bebês, porque eles estavam identificados corretamente, mas na hora de devolver, houve a troca dos bebês e foram entregues para as mães", disse a delegada.

"Você leva um enxoval exclusivo para o seu bebê e aí você recebe no seu quarto o bebê com aquela roupa que você levou. Você vai olhar para a pulseira? Não olha", afirmou a delegada.

"Os bebês foram entregues para as mães com as roupas que elas mandaram", complementa.

Em depoimento à polícia, a mãe da Pauliana, também disse que suspeitou que alguma coisa estava errada com a pulseira do neto.

"Depois que estavam no quarto, a mãe da Pauliana viu a pulseirinha do suposto neto dela no chão, e disse que ela questionou com a enfermeira porque o neto dela estava com o nome de Aline. E nesse momento, a enfermeira poderia ter voltado no quarto para olhar a situação, mas não", afirma a delegada ao UOL.

"Ela apenas disse que 'devem ter trocado na hora do banho as pulseiras', então as avós foram e trocaram as pulseiras. Elas acharam que os bebês que estavam com elas era o bebê correto. Na verdade, não era a pulseira que estava errada, eram os bebês", afirma Renata.

Novas testemunhas serão intimadas para depor nos próximos dias.

"Na verdade, existe um crime, mas nós estamos trabalhando com a modalidade culposa (quando não há intenção), porque a gente não acredita que tenha havido má-fé, e sim uma falta de atenção", disse.

A delegada afirmou que pretende abrir um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), mais simples do que o inquérito, e que as eventuais penas devem ser pagamento de cestas básicas.

Procurado pelo UOL, o Hospital Estadual de Urgências de Trindade (Hutrin) afirmou que, inicialmente, os profissionais que estavam em serviço no dia do nascimento dos bebês foram afastados, mas após um procedimento investigativo interno, foram reintegrados ao trabalho.