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Casal é preso sob suspeita de maus-tratos de 15 filhos adotivos em Alagoas

Promotoria diz que casal era procurado em Goiás e se preparava para fugir de Marechal Deodoro (AL), após denúncia - MPE de Alagoas/Divulgação
Promotoria diz que casal era procurado em Goiás e se preparava para fugir de Marechal Deodoro (AL), após denúncia Imagem: MPE de Alagoas/Divulgação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

09/08/2019 19h58

Um casal foi preso pela polícia em Marechal Deodoro (AL), região metropolitana de Maceió, sob a suspeita de maus-tratos contra 15 filhos adotivos.

A prisão de Hermano Lopes Borges, 48, e Barthira do Carmo Cunha, 67, são de Goiás e viviam com as crianças na praia do Francês, distrito de Marechal Deodoro.

Borges já havia sido detido no último dia 31 para prestar esclarecimentos sob a suspeita de abandono de incapaz e foi liberado. Agora, o casal foi levado para uma unidade do sistema prisional de Alagoas.

Na semana passada, uma equipe do Conselho Tutelar e da Vara da Infância e da Juventude visitou a casa na qual a família morava e encontrou 15 filhos do casal sozinhos, caracterizando abandono de incapaz, e os levaram para um abrigo em Marechal Deodoro.

Segundo o Ministério Público de Alagoas, os filhos adotivos do casal, todos menores de 18 anos, viviam em condições desumanas e degradantes. Images divulgadas pela Promotoria mostram uma casa cheia de entulhos, quase sem móveis, sem camas e guarda-roupas, com banheiro e quartos sujos.

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Segundo a Promotoria, testemunhas relatam que tortura física e psicológica das crianças e adolescentes
Imagem: MPE de Alagoas/Divulgação

Segundo o Ministério Público, os menores eram vítimas de tortura física e psicológica praticada pelos pais adotivos. O caso corre em segredo de Justiça, a avaliação do Conselho Tutelar e da equipe multidisciplinar não foi divulgada.

"Em Alagoas, há quatro testemunhas que estão colaborando com as investigações. Elas narram, com riqueza de detalhes, os fatos ocorridos, especialmente, no interior da residência", afirma o Ministério Público.

De acordo com a denúncia da Promotoria, o casal tem 21 filhos adotivos e fugiu há quatro anos de Aparecida de Goiânia (GO), depois que duas filhas conseguiram sair da casa que residiam e pediram ajuda ao Ministério Público de Goiás, relatando maus-tratos.

"Após o início da investigação social em Goiás, o casal fugiu com as crianças, sem deixar informações sobre seu destino, criando obstáculo à localização da família pela Justiça goiana. A família somente foi encontrada cerca de quatro anos depois, em Marechal Deodoro", informou a Promotoria de Alagoas.

O Ministério Público de Alagoas informou que, em contato com o Juizado da Infância e da Juventude de Aparecida de Goiânia, sugeriu a reavaliação dos processos de guarda e adoção de todos os filhos adotivos do casal.

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Casa da família tinha poucos móveis e, segundo o MP, as crianças dormiam no chão
Imagem: MPE de Alagoas/Divulgação

"Ficou acordado que essas ações serão desarquivadas para revisão", disse o MP. Segundo a Promotoria, as crianças e adolescentes sinalizaram que querem voltar para Aparecida de Goiânia e não desejam mais permanecer sob a guarda do casal. "Há provas suficientes nos autos contra os pais. Foi feito um relatório com fotos, e as imagens falam por si. É tanto que os filhos não querem mais ficar com eles", afirma a Promotoria.

A prisão preventiva foi requerida pelo Ministério Público com base nos testemunhos do crime de tortura, além de informações de que o casal se preparava para fugir de Marechal Deodoro, tal como teria ocorrido em Aparecida de Goiânia.

Durante a busca e apreensão na casa da família, policiais encontraram malas prontas no imóvel e havia um microônibus estacionado próximo, que teria sido contratado pelo casal para fazer viagem com a família. "Além disso, os pais já tinham solicitado às escolas a transferência dos filhos", disse o MP.

Logo após ser preso, Hermano Lopes Borges deu uma entrevista à emissora de TV Pajuçara em que negou a suspeita de tortura e maus-tratos e disse não saber o motivo da prisão.

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Promotoria de Alagoas diz que casal era procurado em Goiás e se preparava para fugir com as crianças de novo
Imagem: MPE de Alagoas/Divulgação

Ele disse que os filhos ficaram sozinhos em casa porque a família estava de mudança, levando móveis de um imóvel para o outro e realizando serviço de pintura. Borges afirmou ainda que os filhos estavam dormindo em colchões no chão por conta da mudança, pois os móveis já tinham sido desmontados.

"Isso é uma falácia. Estávamos de mudança de uma casa para outra. Não tenho antecedentes criminais, tanto eu quanto minha esposa. Informei os locais onde comprávamos mantimentos para nossa família e todo o sustento a minha família é pago pela aposentadoria da minha mulher e pelo meu trabalho. Fui surpreendido com o mandado de prisão e não sei o porquê estamos presos. Não sei do que se trata", disse Borges. "Todos os meus filhos são adotados com sentença transitada em julgada. Vamos recorrer."