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Festa de médicos da Unimed em SP tem cenário com favela e gera revolta

Festa de Medicina com o tema Favela no interior de São Paulo - Reprodução/Facebook
Festa de Medicina com o tema Favela no interior de São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto

09/09/2019 15h45

Uma festa organizada pela operadora de plano de saúde Unimed, em um buffet de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, gerou revolta entre membros de comunidades afro e usuários de redes sociais depois que fotos e vídeos de um dos cenários do evento que representava uma favela foram divulgadas na internet. A festa foi realizada na noite da última sexta-feira para cerca de 1400 médicos cooperados.

Nas imagens, é possível ver que uma estrutura com barracos e construções simples construídas uma sobre as outras foi montada dentro do buffet. Uma pia cheia louças sujas, "puxadinhos" com lajes coloridas com churrasqueiras, paredes apenas com reboco, bares feitos de tijolos a vista e postes de madeiras com emaranhados de fios de energia e luzes penduradas faziam menção de como é a vida em uma favela.

As imagens ganharam as redes sociais depois de serem divulgadas pelos próprios convidados. O cenário representando uma comunidade carente chamou a atenção do Conselho Municipal Afro da cidade que publicou em seu Facebook uma nota de repúdio.

"A exposição distorcida da vida em uma comunidade apresentada em uma festa de luxo é no mínimo reflexo da insensibilidade com a situação desses povos, refletindo também a absoluta falta de pessoas negras na direção dessa empresa e na elaboração do evento. Para qualquer negro conhecedor das situações de pobreza e da falta de políticas públicas para que as comunidades se desenvolvam é fácil a percepção de que glamorizar a miséria e a falta de investimento público é extremamente problemático.

Favela não é piada ou entretenimento. Antes de qualquer coisa, é luta por moradia e condições básicas para viver, trabalhar e sobreviver ao descaso estatal. Essa situação não dialoga com festas luxuosas, enquanto grande parte dessa população não possui ao menos condições para arcar a contratação de planos de saúde. A vida nas periferias, assim como a vida da população negra não deve ser tratada de modo depreciativo, ou ser pano de fundo para piadas e diversão", diz trecho da nota de repúdio.

A deputada Sâmia Bomfim (Psol) também postou sobre a decoração da festa em sua página do Facebook. "É revoltante que as pessoas não tenham o mínimo de bom senso e empatia ao fazer da vida da maioria da população motivo para chacota. Mais triste ainda é saber que boa parte dos convidados desconhece ou ignora as mazelas de um Brasil que trata tão mal o povo trabalhado", diz trecho da publicação.

O que diz a Unimed

Segundo a assessoria de imprensa da Unimed, o tema da festa foi "No País das Maravilhas". Além do cenário representando a favela, também existiam outros, cada um com um tema diferente.

"Sobre a repercussão a partir da festa para médicos cooperados da Unimed São José do Rio Preto, realizada no último dia 06 de setembro, a Unimed do Brasil, representante institucional do Sistema Unimed, primeiramente, lamenta o mal-entendido ocasionado após publicações realizadas por participantes nas redes sociais sobre parte da cenografia do evento.

Ressalta-se que a temática da ocasião visava retratar as mais diversas facetas do Brasil, apresentando em diferentes momentos e cenários símbolos socioculturais de orgulho dos brasileiros, como a magia do carnaval, os bonecos de Olinda, as baianas e os acarajés de Salvador, o futebol, entre outros elementos regionais.

O mesmo evento, em linha com o compromisso social inerente ao Sistema Unimed, também buscou despertar entre os convidados o senso crítico sobre a desigualdade social, o grande desafio que o país tem a enfrentar nessa área e a urgência em buscarmos soluções para oferecer melhores condições de vida para todos.

Com 344 cooperativas presentes em 84% do território nacional, o Sistema Unimed atua em regiões onde, inclusive, há escassez de serviços públicos e, assim, assume papel de relevância no desenvolvimento das comunidades nas quais está inserida. Resultado disso, apenas em 2018, investiu R$ 81 milhões em ações socioculturais em todo o Brasil, divididos em apoio a projetos sociais, ambientais, esportivos, culturais, filantrópicos e educacionais."