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Jovem reconhece seguranças, que são indiciados por tortura em São Paulo

Jovem chicoteado por seguranças de supermercado mostra costas após sofrer agressões - 03.set.2019 - Reprodução/TV Globo
Jovem chicoteado por seguranças de supermercado mostra costas após sofrer agressões Imagem: 03.set.2019 - Reprodução/TV Globo

Alex Tajra e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

09/09/2019 17h58

O jovem negro de 17 anos torturado por funcionários de um supermercado de São Paulo reconheceu hoje os dois seguranças suspeitos do crime. Davi de Oliveira Fernandes, 37 anos, e Valdir Bispo dos Santos, 49 anos, seguranças terceirizados do estabelecimento situado na Vila Joaniza, zona sul de São Paulo, foram presos nos últimos dias após mandados de prisão temporária serem expedidos a pedido da Polícia Civil. Eles foram indiciados pelo crime de tortura, e o processo corre em segredo de Justiça.

Desde a última sexta-feira (6), o estudante foi incluído no serviço de acolhimento da Prefeitura de São Paulo. "Nos próximos dias o jovem deve ser incluído no PPCAAM- Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados. A inclusão dele no Programa já foi solicitada pelo Conselho Tutelar. A Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro também acompanha o caso.", diz o advogado Ariel de Castro Alvez, que faz parte do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).

"Familiares do jovem reclamaram de ameaças e de que foram procurados por pessoas desconhecidas. O menino estava morando com um irmão dele, que foi favorável ao acolhimento dele num abrigo.", relata o advogado.

Um dia antes de ser incluído no serviço de acolhimento da cidade, o adolescente foi atendido por 4 conselheiros do Conselho Tutelar da Cidade Ademar. Um relatório sobre a situação do estudante foi encaminhado para a Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro, que também acompanha o caso. "O pai do jovem faleceu no início desse ano e a mãe, conforme os familiares, sofre de alcoolismo e não foi localizada pelo Conselho Tutelar.", diz o conselheiro do Condepe.

Outros casos de tortura

Na quinta (6), o UOL mostrou que a Polícia Civil está investigando pelo menos outros dois casos de tortura que teriam sido cometidos pelos mesmos seguranças. A equipe de policiais do 80º DP (Distrito Policial), na Vila Joaniza, tenta desde então confirmar onde e quando as vítimas foram vítimas das torturas física e psicológica. Não havia, até então, nenhum registro de ocorrência.

Em um dos novos casos que estão sendo apurados, seguranças empilharam produtos que a vítima teria tentado roubar no supermercado Ricoy, embalagens de linguiça e frango congelados, chicletes, desodorante e um xampu. Depois, a mesma vítima aparece com o rosto machucado, encostado em uma estrutura com o logotipo do supermercado.

A terceira vítima seria uma criança. Em um vídeo, um dos seguranças fala a ela: "Você vai ficar em uma cela cheio de moleques da sua idade, ou mais velho, têm uns lá que gostam de abusar de outro moleque. Olha que legal. Têm uns que vão te dar uma surra bem dada. Olha que legal".

Início das investigações

O caso de tortura veio à tona na última segunda-feira (2), quando o estudante denunciou o caso na Polícia Civil. Em uma manhã de julho, conforme o Boletim de Ocorrência registrado, ele teria tentado furtar quatro barras de chocolate quando fora abordado na saída do supermercado pelos seguranças.

O jovem foi levado a uma sala dentro do estabelecimento, amordaçado, despido e chicoteado com fios elétricos. No depoimento, consta ainda que o jovem não quis registrar a denúncia naquele momento, "pois temia pela sua vida".

"Na saída do supermercado, ouviu S. [um dos seguranças acusados] dizer que, caso falasse algo para alguém, iria matá-lo", diz o documento. Os seguranças gravaram em vídeo as agressões. O UOL teve acesso à filmagem e confirmou sua veracidade com o delegado Pedro Luis de Souza, responsável pelo caso.

No vídeo, o jovem aparece quase inteiramente nu, com as calças abaixadas na altura do joelho, enquanto é agredido com uma espécie de chicote por um homem. No local onde o jovem fora torturado, é possível notar caixas lacradas e caixotes de plástico com frutas, no que aparenta ser um depósito.