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Inquérito revela ameaças a Marielle e Talíria Petrone antes de assassinato

Marielle Franco e Talíria Petrone - Arquivo pessoal
Marielle Franco e Talíria Petrone Imagem: Arquivo pessoal

Luís Adorno e Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

05/11/2019 12h31

Resumo da notícia

  • Deputada do PSOL relatou ameaças 4 meses antes do crime
  • Talíria Petrone recebeu ameaças em seu gabinete em Niterói (RJ)
  • Em outro episódio, anônimo abordou integrante do gabinete de Marielle
  • Homem teria dito que a então vereadora "estava falando demais"

O inquérito policial do duplo assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes revela que a colega de partido Talíria Petrone (PSOL-RJ), hoje deputada federal, e uma pessoa que trabalhava no gabinete da vereadora receberam ameaças antes do atentado ocorrido em 14 de março de 2018, no centro do Rio.

Talíria chegou a falar sobre o assunto com Marielle pelo WhatsApp (veja troca de mensagens abaixo). "Tem uma série de episódios de tensão, mas nada que a gente esperasse que chegasse até uma execução", afirmou ao UOL.

Polícia soube logo após o crime, mas não indagou

Logo nas primeiras horas após o crime, agentes da DH da Capital (Delegacia de Homicídios do Rio) receberam a informação de que uma pessoa do gabinete foi abordada em um ônibus por um homem que teria falado "que Marielle Franco estava falando demais".

A testemunha, no entanto, não foi questionada pelos policiais a respeito da ameaça quando prestou depoimento, dois dias após o crime, como mostram registros do inquérito, obtido pelo UOL..

Em outro trecho, o relatório policial aponta que a ameaça teria acontecido "quinze dias" antes do atentado. Além de constar em um relatório policial sobre o começo da investigação, o fato foi mencionado às autoridades por Fernanda Chaves, sobrevivente do atentado.

Procurada, a Polícia Civil não se posicionou sobre o assunto até esta publicação.

Ameaças a Talíria

Em 2017, Talíria Petrone, então vereadora de Niterói (RJ), avisou Marielle que havia recebido ameaças.

Em 16 de novembro daquele ano, Talíria informou sobre o ocorrido em seu gabinete e Marielle se prontificou a ajudar a identificar os autores e denunciar. Veja abaixo a troca de mensagens:

Talíria (00h00): Ligaram lá pra sede do Psol me ameaçando
Talíria (00h00): Acredita?
Talíria (00h00): E falando que iam explodir o Psol
Marielle (00h18): Sede daqui
Talíria (00h19): Ligaram das 10 às 15h pedindo meu telefone, me chamando de piranha e ameaçando
Marielle (00h19): pra ver se vale a pena denunciar

"Na Câmara Municipal de Niterói, as sessões eram bastante tensas, em especial quando os temas eram de segurança pública. Eu me lembro dessas conversas que tive com a Marielle. A gente compartilhava muito essas experiências, nossas angústias e nossa luta", afirma Talíria.

"Na época que eu tinha escolta, logo após a execução de Marielle, um dos policiais, inclusive, relatou para minha chefe de gabinete que foi abordado por um vereador questionando 'que absurdo, ajudando quem não gosta de polícia'. Até a execução da Marielle, a gente tinha alguns limites do que se entendia como ameaça. A gente conversava muito sobre isso. O mais impressionante é que a minha vida no parlamento era carregada como uma extensão dela", acrescentou.

A deputada federal afirmou que até a morte de Marielle, os membros do PSOL nunca imaginaram que poderia ocorrer de fato um atentado.

"Havia um clima em Niterói até mais tenso do que na capital. Ela me dizia para eu ficar mais atenta. Eu ia de bicicleta e ônibus para a Câmara. Depois da morte dela, fiquei por cinco meses com escolta. Hoje eu tenho escolta da polícia legislativa. Não ando mais pela cidade como eu andava. Mudou radicalmente a minha vida. Ia muito a samba, hoje tenho muitos limites, em especial quando estou no Rio."

Recentemente, em junho, foi divulgado que a Polícia Federal identificou conversas na internet em que os envolvidos tratavam, desde 2018, de ameaças de morte e planos contra Talíria.

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